Criado Mudo Cantor

Primeiramente, contarei a ti, leitor, brevemente a historia do Criado Mudo. É! O criados mudos que tem ai ao lado de sua cama. No meu, por exemplo, há: água, cinzeiro, cigarros, caneta, papel, radio relógio e abajur; dentro, algumas revistas UFO e MAD; livros diversos. Alguma vez você já se perguntou por que o nome daquilo é “Criado Mudo”? Se ele é mudo, é por que certamente alguma vez já falou. Então alguém muito maldoso o fez calar, e a partir daí, todos os criados do mundo adotaram o sobrenome MUDO...e agora, eles resolveram se rebelar. Mas o que você irá conhecer agora, não somente fala, canta.

-> Começa agora: “O CRIADO MUDO CANTOR” (APLAUSOS)

EX-MUDO CROSBY (Criado Mudo): “Obrigado, muito obrigado! E sem flexes!”

PRIMEIRO PARÁGRAFO

Certa noite, Ana Júlia, uma respeitável senhora, preparava-se para dormir. Colocou sua dentadura em um copo d’agua sobre o criado mudo; ao lado de sua cama. Acomodou seus três travesseiros sob a cabeça, seu outro travesseiro entre os braços e sua venda. Relaxou, para assim, adormecer.

PARÁGRAFOS RESTANTES

Suas pálpebras velhas e enrugadas estavam pesadas, e começara a adormecer, quando ouviu uma voz melodiosa vindo do interior de seu próprio quarto. Tirou sua venda e olhou ao redor, nada. Voltou a por a venda quando ouviu outra vez uma voz, parecia estar cantando opera, sim, era uma voz de tenor que vinha de seu quarto. Mas não sabia de onde saia. Procurou, procurou...nada. Não poderia ser seus vizinhos, pois não tinha. Morava sozinha, em um lugar afastado. Nas montanhas. Lá vivia alegremente, ela e suas plantas.

Na manha seguinte, Ana Júlia, a velhas e simpática senhora, tomou seu café, fumou um cigarro e foi ao jardim conversar com suas plantinhas.

Conversando com suas amigas plantas, a Vó Júlia (esta não é avó, mas por ser velhas... dizendo vó faz-se entender) ouviu uma cantoria estranha vindo do seu quarto. Esta olhou para o alto de sua janela. Era um sobrado. Sim. O som vinha de lá. Mas não havia deixado o radio ligado. Subiu as escadas de madeira, que com seus passos provocavam rangidos. Entrou no quarto, e não vira nada de anormal, apenas seu criado mudo, a cama, um armário e seu espelho. Pensara estar ficando caduca, louca. Ou então ouvindo espíritos. Mas não poderia ser. Era uma velhas, isso sim, mas, não podia de uma hora para a outra ouvir vozes do alem ou estar ficando louca.

Retornou a seu jardim, e foi ter com a sua amiga, pé de chicória:

- Dona Chicória, eu acho que to ficando veia... É, eu sei o que esta pensando, eu já sou uma veia... mas... não pode ser efeito de minha imaginação. D’uma hora pra outra, assim...não! Ce sabe o que ta acontecendo? É... nem imagina. Eu estou ouvindo uma voz vindo do meu quarto, começou noite passada, tinha alguém cantando opera no meu quarto... Por que me olha assim? Eu não sou louca... se fosse, acha que estaria falando cocê isso agora? Eu teria vergonha. Mas o que preciso saber, é, quem esta cantando no meu quarto? Sabe Dona Chicória, ate que esse tal, ou essa tal, canta bem... parece ate o Bing Crosby... Será o espírito dele que baixou no meu quarto? O que? Ce não conhece Bing Crosby? Não creio! Crosby, ator e cantor de Woolywood da década de 30, 40... já contracenou com Fred Astaire, Frank Sinatra, Dean Martin... Ah, agora lembrou né, sua esquecida!

No meio da conversa entre Dona Chicória e a louca de senhora Aninha...

[Ow... eu não sou louca, e nunca me chame de ‘Aninha’, ouviu narradora, ou melhor, leu narradora?!]

Erg... sim, sim. No meio da conversa entre Dona Chicória e a adorável e simpática senhora Júlia...

[Assim esta melhor Dona Narradora. Agradecida!]

...Uma voz melodiosa interrompe a prosa entre as duas chegadas. Ana Júlia chama a tenção de Chicória para a musica que vinha da janelinha de seu quarto, lá no alto.

- Não te disse. Viu como falava serio?! É ou não é parecido com o Bing Crosby? É, é realmente muito bom, não é!? Vamos ate lá, para tentar pegar o sujeito.

A vovó pega Dona Chicória pelo vaso e vai seguindo com esta nas mãos ate o quarto. Quando entram, de repente... Antes de vocês saberem o que elas encontraram no quarto, leia agora um novo poema da fantástica narradora, que por mera coincidência do puro acaso do destino, sou eu.:

Do Verde Belo Roxo

Ao Grande Preto Azul

O que é aquilo, Um Urubu?

Nããããããão!

É Uma Nuvem

Do Belo Verde Roxo

Ao Rosa Púrpura Azul

Bom, depois dessa breve pausa, de meu incrível poema, continuemos com os fatos.

(...) Quando entraram, de repente elas viram uma coisa fora do normal, uma coisa ate que de principio, assustadora e quando viram isso, as duas senhoras gritaram ao mesmo tempo e a mesma coisa ( caro leito, a senhora Ana Júlia é uma pessoas muito especial, pois só ela tem a capacidade de ouvir e compreender a língua das chicórias, pois estas falam em uma freqüência muito alta e só a nossa querida Aninh...quero dizer...Júlia pode ouvir, então vocês não irão ouvir nada que Dona Chicória disser.)

- O BING CROSBY BAIXOU NO CRIADO MUDO!!!!! – gritaram as duas senhoras, Dona Chicória e Vovó Ana Júlia.

Com o grito das senhoras, o criado mudo parou sua cantoria, ficou assustado e tremulo. Júlia ficou com pena e foi ter com este:

- Seu Bing Crosby. O que o senhor faz no meu criado mudo? – diz apontando e batendo o pezinho.

- Não sou seu criado e muito menos mudo. Sou Ex-Mudo. E também não sou nenhum espírito encarnado em um móvel, sou um móvel cantor. Sou um móvel que cansou de ficar calado, e que agora, depois de anos e anos de gerações de ‘criados mudos’, nós decidimos nos rebelar. Mas eu, eu sou diferente, eu não quero somente falar, eu quero cantar, cantar e cantar ate minhas cordas vocais estourarem. Eu quero entrar para o show Business. Quero ser famoso, quero fama, dinheiro, mulheres... Estive anos vivendo com você, anos a observar, te vi envelhecer. Agora que não sou mais mudo, posso me apresentar. Chamo-me EX-MUDO, mas para o show Business, preciso de um sobrenome.

- O que acha de Ex-Mudo Crosby?

- Ex-Mudo Crosby?! É, soa bem, é um nome sonoro, bonito, forte. Isso! Sou o Ex-Mudo Crosby agora.

- Mas me diga, que estória é essa de criados mudos que falam?

- Bem, essa historia é muito longa e me da muita tristeza relembrar, por isso prefiro não tocar no assunto.

- Certo! Mas como ce vai se lançar no mundo da musica?

- Com sua ajuda, se assim quiser, é claro.

- Mas é lógico que sim. Eu e Dona Chicória iremos ajudar.

É... a coisa não foi muito bem como se imaginava. Ana Júlia foi à cidade e marcou um dia para a apresentação de Ex-Mudo Crosby. No grande e esperado dia, as cadeiras estavam lotadas e havia pessoas de pe e do lado de fora do teatro. Estava realmente tudo pronto, tudo maravilhoso, se não fosse uma única coisa.

Ex-Mudo Crosby acomodou-se no centro do palco e foram abertas as cortinas. “Vai Ex-Mudo, soca o nabo!” – gritou a vovó Ana Júlia. Apresentou-se para a platéia e começou a cantar. Cantou divinamente por durante cinco minutos. Mas a platéia estava à espera que ele começasse. Não ouviam nada de musica, só viam as gavetas se abrindo e fechando sozinhas. Mas musica que era bom, nada. Todos começaram a gritar que Ex-Mudo era uma fraude e que Ana Júlia, que por ser uma velhinha, aparentemente indefesa, aproveitava-se de sua avançada idade para dar golpes por ai. Mas ela afirmava que estava o ouvindo cantar. Então, os expectadores, ignorantes, subiram no palco, quebraram e atearam fogo no coitado Ex-Mudo Crosby, que cantava tão divinamente.

PARÁGRAFO FINAL

É... Ex-Mudo Crosby também falava em uma freqüência muito alta, podendo apenas ela o ouvir, e por ser taxada de louca, Ana Júlia vai parar num Hospício. Onde chorava todos os dias ao lembrar que aquele povo ignorante matou Ex-Mudo Crosby. E finalmente morreu, ao ver os funcionários do hospício fazendo uma saladinha com sua amiga, Dona Chicória.

Ana Júlia Marcato
Enviado por Ana Júlia Marcato em 03/11/2008
Código do texto: T1262535