Balé de Aleivosia - 3º tempo
"O inimigo mais perigoso que você poderá encontrar será sempre você mesmo."
Indignação a primeira vista. Ninguém entendeu nada, suas vidas eram grandes mas limitadas, suas cabeças imensas mas estupefatas.
Como assim? Absurdos demais naquela noite lhes causariam náuseas, mas fazia sentido, um convite assim tão chique não era em vão!
- Eu sei que cada um de vocês gosta muito de estar vivo, e que também gosta de sua família e tem paixões... Pois então um não, significa perder isso tudo, e da maneira mais cruel e dolorosa que existe. E não pensem que isso significa a morte, existe coisa ainda pior do que a morte meus caros. – Sua voz na sala mal iluminada e aconchegante era como uma faca muito gelada passando lentamente pelo pescoço de cada um deles. – se vocês não estão nervosos, fiquem, pis é bem sério tudo isso. Quero que usem de suas habilidades para fazerem coisas inacreditáveis e salvar a própria pele...
O previsto acontecera, um deles levantou-se alterado, discutindo com o inimigo, seguranças o contiveram e um último aviso foi distribuído: - Tente isso mais uma vez, e irá sofrer conseqüências. Isso vale para todos. Eu sei que é injusto eu querer brincar de Deus, mas e o mundo é dos justos por acaso? Eu sou seu dono e não contestem, pois será pior. Tenho dito, e como primeiro mandamento, quero que divirtam-se como nunca nesta inauguração da minha casa de shows, e ninguém além de vocês pode saber disto, e não se preocupem, tudo está bem, e não tentem fugir, nem escapar, nem saber quem sou, mas a qualquer momento mandarei noticias a vocês!
Os seguranças, armários de preto, tiraram um a um da sala bem escondida, e voltaram a celebração dos excluídos por Deus.
Eles não sabiam, e provavelmente nem saberiam que Don Latoffayel era um homem muito poderosa e portador de uma doença incurável, querendo divertir-se antes de encarar a morte.
A noite era bem longa, suas pernas estavam nuas e dispostas a correr com todos eles. Sentiam-se numa prisão, e era exatamente nisto que estavam. Era obrigação dançar... A casa estava cheia, mas será que todos eles haviam recebido aquele chamado de horror? Cada olhar parecia que sabia do que se passava. A música parou um momento, um homem foi ao microfone, a stripper foi chamada pelo nome de batismo até o palco para cantar uma linda canção, qualquer que fosse a banda estava preparada.
O infeliz sabia de tudo, e agora ela tinha amigos que jogavam seu jogo, um deles de longe, outro de muito perto a encorajou, a indignação lhe interrogava de como descobrira, pois era raridade quem sabia, já que era raridade para os clientes que ela cantava. Ela deu um tapa na própria coxa, sorriu para um casal gay que se beijava. Subiu ao palco com rainha da noite... “Uma canção que todo mundo conhecesse?”
Madonna? Cyndi Lauper? Não, I will survive... Por mais homem que fosse, qualquer um sabia a letra, e dançava a melodia.
As luzes foram de encontro ao seu belo corpo, um aviso, um tilintar de piano e a música começou.
O público envolto numa aura de mentira e felicidade, as paredes de aquário, o fogo artificial e alusivo queimando nas colunas jônicas, os mezaninos repletos de dançarinos e efeitos. O chão mudando de cor, fazendo ilusões desavisadas, o teto como um céu estrelado. Tudo era o que se precisava na vida dentro daquela imensa boate. E a música acabou e ela teve medo de morrer, porque aquilo não deveria ser feito, mas nada aconteceu...
Aplausos, sorrisos, um selinho sem merecimento, um convite pra mais um drink. Procuravam-se sem voz os escolhidos, queriam falar-se queriam conhecer-se, queriam saber o que os levou até ali.
A noite acabou, eram quase cinco da manhã de um horário de verão descuidado, e o calor se ausentava, assim como o frio... Fazia fresco nas almas. Combinaram por pupilas de todos saírem juntos, eram vítimas unidas. No estacionamento, a confiança era mais prepotente... “Vamos a casa do amigo conversar, precisamos dar jeito nisso!” as conduções então partiram com um só destino, aquele homem arrogante, e poderoso não podia lhes impedir disto.
Nenhum bolo, café amargo, a cozinheira estava de saco cheia de pratos caros, o dono da casa realizado pelos dois dias de limpeza que conseguiu deixar involuntariamente.
Haviam cadeiras para todos, mas ânimo não. Ninguém nunca vira tanta maquiagem borrada de uma vez só. Entraram então na questão mais cruel de suas vidas...
Todos eles:
A Stripper, e agora cantora Jeniffer, O Jornalista Dimytrius, o homem que matava outros homens como Mauro, a professora de teatro Lola Pietra, a estilista Klara Raklan, a mimada menina que perdia carona nas festas é Natália, filha do médico legista Narciso, e o cozinheiro Marki. Um time e tanto... Lola logo tratou de dizer que estava grávida, o que já era perceptível pelo tamanho da barriga.
- Aquele homem é um louco e pode querer meu filho.
- Será que é sério aquilo tudo que ele falou.
- Vocês viram que ele sabe muito sobre nós, deve ser.
- Não podemos é arriscar-mos.
- O que pensam em fazer?
- Tentar matá-lo?
- Nos matariam bem antes.
- Será que ele não sabe que estamos aqui, agora?
- Uma coisa é certa, estamos preocupados e precisamos ns unir. Sozinhos não vamos chegar a lugar algum.
- Ele disse que se voltarmos a trabalhar seremos morto... Alguém vai se arriscar?
-Mas e quem ele pensa que é para fazer isso.
- É isso. Nós temos que descobrir quem é este homem, descobrir seu ponto fraco e elimina-lo.
- Será que ele tem ponto fraco?
- Todo mundo tem!
- E meu bebê?
- Ele está com você não está? Então está bem.
(animadoras gargalhadas)
- Está de quanto tempo?
- Seis meses e meio.
- E quanto tempo isso vai durar?
- Vocês nunca o viram, nunca ouviram falar nele? É impossível que ninguém saiba quem é!
- Esta é a verdade, seja quem for, ele é muito inteligente, rico e preparado, e o que eu sugiro é que fiquemos juntos até ele mandar algum recado ou coisa do tipo.
Concordância geral da assembléia, mesmo que contra vontade.
Um minuto de silêncio em respeito a morte de seus sossegos, e o dono da casa, Dimytrius, ouviu um bip incontrolável na sala. Olhou para a estante da tevê e lá discreta estava uma caixinha preta com uma luz vermelha piscando, fixou-se no desconhecido objeto, e caiu por si desesperado: - É uma bomba, corram, saiam daqui, vai explodir!
(!) uma dança formou-se de desencontro a harmonia, rostos, pernas, tudo fora de uma sintonia mais bela que se possa ver, e aconteceu para fechar o grande espetáculo a esplêndida visão do fogo levando tudo aos ares, protegidos estava. Mas só o corpo, sem teto e cansados mergulhados numa piscina de medo.
"Somos solicitados... atraídos... e guiados... para tudo que formulamos na nossa imaginação."