A cãibra, e a parede... um surto.

O quarto estava fechado, inalava-se um cheiro de incenso misturado com cigarro.

O calor se tornará insuportável, em cada poro do seu corpo emergia gostas e gotas de suor.

Seus olhos inchados depois de dois dias sem dormir, pálpebras roxas. Dos seus lábios saia uma antiga cantiga de ninar, enquanto inalava o cheiro do incenso já no fim.

No chão havia mais de cinco papéis pequenos de cor metálica espalhados e duas seringas usadas sobre a escrivaninha.

Pedro ainda se achava lúcido, no radio tocava algum tipo de Blues, mas não prestava atenção, á mais de dois dias no quarto fechado, sem ter se alimentado durante todo esse tempo.

Sob efeito da heroína não sentia fome, e nem o calor que se encontrava no quarto, apenas medo.

Seus olhos vermelhos feito sangue, estavam fixos na parede oposta á sua cama, um de havia um desenho negro, feito por ele à alguns anos, sem nenhuma forma especifica. Hora se mexia, hora não era mais que um forma desenhada.

Por um segundo seu medo aumentará, mas logo foi esquecido, após picada da ultima dose heroína, depois começou a achar-se engraçado, deu risada de si mesmo.

Continuava o mesmo verme, 48 horas no quarto escuro incapaz de desligar o radio. Logo quando menos esperava, cãibras começaram em suas pernas, ele se encontrava na mesma posição havia horas, seus tendões pareciam de se desprender, seus braços pareciam estar sendo arrancados, veias saltitavam do seu pescoço, sua face parecia pegar fogo.

Sua voz não saia, estava suando cada vez mais. Desesperadamente, quase cego, pareceu tentar procurar algo sobre o criado-mudo. Nada.

Sua seringa estava fora do alcance de suas mãos, lembrou que já havia acabado a droga. Desespero.

Perdeu-se, surtou, viu luzes piscando, e a imagem na parede parecia ter criado vida;

Sentia ancias, seu corpo se contorcia, tanto de dor como de pânico, o quarto se achava cheio de fumaça. Apanhou o canivete que usava para separar a droga.

A imagem vinha em sua direção, não se dava por si, estendeu o braço e bem no punho fez um corte diagonal, sentiu o sangue escorrer, passou a língua, mas não sentia gosto algum.

Cego de dor e tormento fez o mesmo no outro braço, com a mão que agora tinha o pulso sangrando e sem muito movimento um corte menos fundo.

Queria que passasse, as luzes piscavam. Agora sentia o gosto do sangue, o corpo suado e tremendo, aos poucos foi perdendo o movimento de esteria. Escuro.

O sangue lavava o chão e o tapete, o corpo de Pedro em posição fetal, com os pulsos cortados, morto sobre a cama. Foi como foi encontrado dias depois.

Paula Rodrigues (Coka)
Enviado por Paula Rodrigues (Coka) em 03/10/2008
Reeditado em 03/10/2008
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