Sobrenatural

Seus olhos eram mágicos. Havia alguma coisa neles que transformava tudo o que via em algo diferente, especial.

Aquela pequena orquídea em suas mãos era frágil, olhou e de repente lá estavam eles, seus olhos, fixos na pequena flor que num ímpeto começou a dizer coisas, de suas pétalas saíam uns tentáculos como se fosse a cauda de escorpião, e agora eles se mexiam e vibravam como a hipnotisar com fascinação aqueles olhos incrédulos. Toda vez que isso acontecia ela apertava os olhos com os dedos e os esfregava vigorosamente na tentativa crédula de que as imagens fossem assim sumir; tudo imaginação, coisa de louco, mas os tentáculos cor de rosa amarelados se mexiam encantados como se tentassem laçá-la. Olho de novo e os viu sorrir e aos poucos foi se deixando levar por aquelas imagens meio aquareladas nos olhos recém espremidos, sorria solta e deixava a orquídea dançar entre seus dedos, que coisa linda a dança das flores, pensava.

Tudo indicava que seu coração fosse puro...

Passaram-se os dias e o vento batia forte na janela de vidros pequenos, estava ocupada, coisa séria, e de repente como de hábito um deles chamou sua atenção feiticeira e logo os pedacinhos começaram a se soltar da moldura correndo desencontrados rumo ao único raio de sol que os atingia de frente, ela ficou pasmada com tanta ação ante a presença da luz e de novo piscou os olhos mas se deleitou dominada com o caleidoscópio que se formava a sua frente montando imagens psicodélicas que em tudo combinavam com o que se lhe ía por dentro, a paixão não conhecia, mas sabia existir... E assim por horas ficou ali a se deixar enamorar pelo encanto mágico que de seus olhos fluía e conversava sem pudor com sua mente ainda repleta das emoções do momento e os sonhos discretos de quem se recusa a não crer. Seria assim a paixão? Como será que este olhos haverão de captar um coração que se entrega?

Deixou passar e esqueceu.

Até que um dia reconheceu a chance de observar mais de perto o desconhecido insólito. Havia medo do escuro e de sons que não reconhecia de pronto, chovia e o lugar que a esperava era assim meio assustador porque nada, mas absolutamente nada se movia, não havia cheiro ou som que a ajudasse a descobrir uma pista, ou a ter certeza de alguma coisa; essas coisas são assim mesmo, só que ela, principiante não sabia. Por algum tempo caminhou sem rumo e achava que estava em paz, mesmo com medo, ainda não conhecia o incômodo de si na entrega e na troca. Reslveu prosseguir já era tempo, há muito pensou neste lugar e agora ali estava, resolveu abrir a porta. Entrou.

Os olhos, antes mágicos, a dar sinais mais do que claros de sua normalidade, estavam agora bem abertos e via muito pouco com eles; sentia porém que havia uma presença vibrante que a envolvia sem defesa como o som distante de blues a tocar o fundo de uma alma apaixonada, percebeu rapidamente que seus olhos não eram mais necessários, sabia disso e resolveu confiar. Caminhou um pouco e sentou, levantou o rosto devagar e desta vez sem medo resolveu apostar na mágica que percebia no ar. De alguma forma se sentia diferente, como as imagens malucas que sempre povoaram o que via, havia algo por dentro que a fazia assumir quase uma outra identidade. Era outra finalmente, e era muito, muito bom.

Já era tempo pensou e aos poucos entregou a alma para aquela experiência quase mediúnica. Estava feliz, sabia disso, explicar não carecia, de olhos fixos em si mesma, sentiu chegar cada vez mais perto uma voz querida e delicada como a orquídea rosa amarelada que dançara entre seus dedos, buscou a mágica corriqueira e deparou-se com o mais estonteante sorriso e o mais amigo de todos os abraços que alguém jamais ofereceu. As pérolas desvendadas pelo sorriso só não brilhavam mais do que aqueles olhos que chegaram sem pedir licença e brilhavam em luzes todas as cores do misterioso caleidoscópio que há pouco a fizera sonhar, deixou-se enfeitiçar para sempre, e até hoje dizem, é refém subjugada do sortilégio tramado por um coração feiticeiro ante a mítica doce de olhos sobre-nada-naturais.

Anadijk

Houten, 30/09/2008

Anadijk
Enviado por Anadijk em 30/09/2008
Reeditado em 30/09/2008
Código do texto: T1203913
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