No SexShop

Estava eu feliz com o feriado se se anunciava. Ficaria sozinha e nua o tempo todo se assim Eros o pemitisse. Na quinta-feira dirigi-me a uma loja de conveniências, estava com a carteira recheada, tudo viria a calhar.

Levando meu sorriso e meu porte altivo porta adentro perco-me em suspenso, olhos ávidos diante de um mar de tantas delícias. Mas seriam delícias reais? Iguais as carnais ou apenas pedras filosofais? Ora, pouco importa. Eis-me aqui, Inês é morta então... deixa vir.

E lá estão todos a minha espera. Finjo que nem os vejo e busco coisas curiosas que nem sei pra que servem... pomadas, lubrificantes, até uma coisa esquisita que parece uma piranha de cabelo chamada Butterfly. De repente um boneco fica olhando pra mim com cara de "cuméquié" . Desato a rir. Depois eu passo por aí.

Tem tanta coisa aqui... acho que vou precisar voltar com mais tempo. Hoje, apenas coisas triviais. Chego perto deles que murmuram barulhos indefiníveis... coisas... sons, apenas. Querem me chamar atenção, claro, eu os entendo. Aliás, cooooooomo os entendo.

Tenho mania de ler bulas então vejo lá, poliuretano... sim, por certo é melhor do que pano. Não deforma e não solta as tiras. Tomara que não encolham. Sim, podem encolher, sabiam? Certa vez um produtor de plásticos me falou em uma tal de memória que os plásticos têm. Não entendi direito e nem quis perguntar porque estava distraída com algo esticante e que não parecia ser plástico. Enfim, ele deveria saber o que estava dizendo. E pensando assim vem-me uma certa preocupação. Como fazer pra conseguir que essas coisas percam a memória? E se depois resolverem abrir o bico, como fico? Que sinuca de bico...

Mas eles eram majestosos, havia pra todo gosto. Pequeninos, médios, enormes, até uns impossíveis, de todas as cores, curvaturas e texturas, parados ou plugados... um parque de diversões.

Enquanto eu os olhava indecisa, sem saber qual levar eles estranhamente começaram a falar seus nomes e se apresentarem a mim, de dedo em riste, como alunos em sala no primeiro dia de aula:

“Juju, coleguinha de Jardim de Infância, sempre dividia meu pirulito com você”

“Paulinho, da sexta série, lembra?”

“Juvenal, mecânico do seu pai, que se baixava e deixava aparecer o rego da bunda pra você de propósito”

“Ítalo, coroinha da igreja, você sempre ria quando eu badalava meu sininho”

“Otávio, seu primo safado que espiava você da janela do banheiro”

“Fernando, fiquei 3 anos a fio fazendo fiu-fiu quando você passava rebolante”

“Janjão, melhor amigo do seu namorado que por você babava, babava e babava...”

“Maronna, fui teu primeiro e ainda te amoooo...”

Comecei a entrar em desespero...

Bebeto: "Que se passa yo no sé, que se passa, yo no sé quien fué..."

Marinho: "Nas tardes quentes as velhas brancas cheiram a talco...”

David: "Não vem morocha, te floreando toda..."

Serginho: "Cara... ringrazio il cielo che mi ha dato te..."

Raul: "Hey! No vayas presumiendo por ahí...”

Francisco: no teclado, via msn. afff...

Meu Deus, eu poderia ter uma banda...

“Tarzan, o bambambam”

“Betão, o segurança de ébano”

“Rossano, o melhor de todos”

“Xereta, nem é bom falar”

Chega!!! Calem-se todos!!!

André,

Dudu,

Cléber,

Cowboy

Augusto

Rafael

Airton

... havia tantos e tantos ainda...

Enxuguei as lágrimas, entreguei a cestinha vazia e saí andando por aí, pensando...

Tantos passaram por mim, alguns eu tive, outros quase, a maioria não passou de especulação mas todos fazem parte da minha história de vida.

Mas isso é vida? Será que vibrador realmente consola?

Chego em casa, tomo um copo d'água... não ouso olhar-me no espelho.

Eu sou, SEI que sou...

Um quadro de Vênus mal “pintada”

Uma jóia não tão rara.

Mas uma obra de arte!

_________________________________

Ana Átman
Enviado por Ana Átman em 20/09/2008
Código do texto: T1188498
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.