VIDA

Sigo em sua direção, olho-o, sento- me a sua frente e aguardo, respeitando seu silêncio.

- Olá! Há quanto tempo não a vejo. Isto é, há quanto não conversamos. – Ele me diz, quando já estava imersa em meus devaneios, escutando o ritmo de sua respiração, que chegava como música a meus ouvidos.

- Oi meu amigo. É verdade. São quase duas semanas que não venho conversar contigo. – Digo, me referindo aos dias tumultuados, de tempo chuvoso, os quais me dediquei exclusivamente ao trabalho.

- Senti muito a sua falta. Ele diz, com um longo suspiro.

- Me desculpe. Também senti sua falta. Nossos momentos juntos são tão especiais.

Ele fica em silêncio, como se estivesse se alimentando de minhas palavras.

- Estive sempre a olhá-lo, de longe, quando me dirigia ao trabalho.

- Eu sei. Encontrei seus olhos, todos os dias a me olhar, em meio a meu próprio reflexo, nas janelas daquele veículo.

Meu amigo parecia sorrir ao proferir essas palavras.

- Infelizmente as pessoas lembram de mim, somente quando passam à minha frente, ou quando precisam de alguns minutos para pensar na vida. – Queixa-se, quase em tom melancólico.

- O que é isso? Deu para fazer charminho agora?

- É que, às vezes penso que as pessoas não me dão muita importância. – Tenta se justificar, meu amigo.

- E você quer ser mais lembrado do que já é? – Pergunto atônita.

- Como assim?

- Ora, as pessoas o julgam como amigo, pois vêm a ti confessar seus maiores segredos. Escrevem lindas cartas de amor e se sentem honradas em colocá-lo nelas.

- Isso é verdade...

- Então, e nas artes? Quantos não o retrataram em suas telas? E os poemas? Poesias? Contos? Filmes? Histórias famosas, onde você é peça principal. Sem falar na importância que teves para os desbravadores, que somente com teu auxílio puderam chegar a seu destino.

- Mas houve histórias tristes também. De guerras... – Ele se apressa em lembrar.

- É verdade. Mas em todas as histórias nenhuma culpa é atribuída a ti.

Parecendo convencido, segue em seu silêncio.

- Continuando, pense em como as pessoas se sentem felizes em colocar-lhe nos nomes de seus filhos (Lindomar, Osmar, Guiomar), e empresas ( Miramar, Praiamar, Quebra-mar).

Senti neste momento um risinho abafado vindo de meu amigo.

- Está bem. Conseguiste me convencer. Olharei as pessoas por outro prisma a partir de agora. Eu é que deveria me sentir honrado por tantas homenagens.

- Pode ser que muitas pessoas ainda não tenham a felicidade de conhecê-lo pessoalmente, mas você sempre será lembrado, nem que seja somente pelos livros de escola. Todos devem ser gratos a ti, meu amigo.

- Gratos? Não entendo.

- Você é uma incógnita para os cientistas, que passam a vida tentando descobrir algo novo que venha de tuas profundezas. Saibas que tu tens a maior honra de tudo o que há nesta Terra.

- Eu??

- É. Tu, meu amigo, representas a Vida.