RAPSÓDIA DOS PÁSSAROS...
Eu sempre andava por ali, a observar as manhãs que despontavam no horizonte, e embora já quase primavera, em mim ainda pairava uma névoa invernal.
Senti cansaço, e então me sentei no mesmo banco, imune ao tempo, surdo às histórias e negligente aos climas da nossa vida.
A mata não era mais a mesma, e o canto do sabiá que prenunciava a chegada de mais uma estação, se confundia com os motores da avenida, e com a minha saudade.
Mas eu parei para observar.
Vi lá no alto , uma bromélia solítária que me parecia feliz.
Disse-me que o cenário do todo lá de cima sempre se entende melhor.
Vi também a alegria e a simplicidade das flores do campo, que nunca florescem sózinhas.
De súbito um pica -pau sorridente, depois de me dizer "bom dia", feliz partiu para o seu trabalho que também não me parecia nada fácil.
Entendi que, às vezes, certos destinos são duros como pedras, mas um dia, também se quebram na erosão do tempo.
Voltei meus olhos para o chão, e uma procissão de formigas pacientemente...trocavam as folhas de lugar.
Tudo tão lento, mas tudo tão rápido. Em segundos a terra estava limpa!
Soou uma brisa suave, e rapidamente, o chão que fora organizado pelas formigas, era um novo tapete de folhas recém desgarradas do tempo.
Uma caprichada gota de orvalho escorregou duma pétala e sumiu na terra.
Senti sede.
Um Bem -Te -Vi cantou várias notas suaves, trazendo-me de volta.
Eu apenas o ouvia...mas não o enxergava entre a mata fechada.
Ensinou-me que algumas canções sempre impressionam os ouvidos, e sustentam a alma...embora não alcancem nossas retinas.
Ali, estavam muitas lições de vida.
Abri meus olhos e percebi que já era noite. Não reconheci minha imagem refletida no espelho d'água do lago de sempre.
Quando me levantei, meu tempo já havia passado, tão rápido e misterioso quanto o término da rapsódia dos pássaros...