Refrão modificado
Em todos os idiomas existem refrões, isto é, adágios populares. Quanto mais humilde uma pessoa, mas faz uso desses ditos que quase sempre têm um fundo moral edificante.
Digo quase sempre porque as novelas brasileiras fazem não apenas sucesso com seus erros crassos, mas também pelos modismos que intentam sedimentar nas massas (povão). Quem não se lembra dos ditos: “né brinquedo não”, “justamente”, “com certeza”, “ninguém merece” e dezenas de outras nem sempre impropriedades?
Na minha adolescência vivenciei situações em que meu avô (ó), pai (mãe), tio (a) sempre encontravam um jeito de falar ou gritar um refrão. Em suas comprovadas inocências visavam me ensinar algo com um axioma de impacto.
Claro que motivados por suas simplicidades não poderiam, jamais, explicar as origens dos refrões pronunciados e tampouco se estavam certas as formas de escrevê-los ou pronunciá-los.
Leiam com atenção esta historieta que no momento lhes conto:
Corria o ano de 1965 ou 1966. Nessa ocasião eu tinha dezesseis ou dezessete anos de idade. Ensinei ao meu pai como deveria proteger o telhado da nossa mercearia com uma rede elétrica. Eu fiz o trabalho! Eu corri risco de morte! (Cuidado! Não diga ou escreva “risco de vida”).
Se um ladrão tentasse invadir nosso estabelecimento, pelo telhado, sofreria um choque de pequena voltagem, mas com amperagem suficiente para provocar uma parada cardíaca e/ou um bom susto no invasor meliante. Os eletricistas sabem muito bem que o perigo de morte não se encontra nas altas voltagens, mas sim na amperagem que uma corrente elétrica suscita.
Naquele tempo eu gostava de estudar (ainda estudo) os fenômenos da eletricidade. Orgulho-me em dizer que esse estudo faz parte do meu ecletismo extenuante e sofrido com vistas a tentar saber de tudo um pouco mais.
Não me satisfazia em premir um interruptor e ligar ou desligar um dispositivo (conector) com esse ato. Eu sempre quis e ainda hoje quero sempre saber o porquê do funcionamento das coisas.
Após pronto o serviço fiz o teste com um gato que, ao tocar na rede eletrificada emitiu um miado agonizante e pulou em correria desabalada para um local mais seguro.
Meu falecido papai Muniz (que Deus dê àquele inocente a merecida luz) disse em júbilo o que eu sempre vi escrito: "vivendo e aprendendo", uma das tantas expressões proverbiais que realçam o valor da experiência para nosso aprendizado - uma versão mais ritmada da velha frase "vivendo é que se aprende".
Meu simplório papai, assim como tantos outros brasileiros simples e incultos, por opção ou falta absoluta de oportunidade, não sabia que o refrão correto é: “morrendo e aprendendo”.
A explicação para esse refrão? Simples, senão vejamos: “Um velhinho, angustiado, sente que vai morrer sem ter entre as mãos a vela tradicional, o lume que guia as almas que desencarnam, mas a choupana é tão, tão pobre que não lhe resta nem um coto de vela.
O filho mais novo, sentindo a aflição do pai, vai até a lareira e traz, na pá, uma boa brasa bem viva e um pouco de cinza. Cobre a mão de seu pai com as cinzas e depõe sobre elas a brasa, que, dessa forma, não lhe queima a pele. O velho, surpreso com a solução, exclama: "Morrendo e aprendendo!" - o que se traduz como "até na hora da morte estamos aprendendo!".
É por essa e outras arguciosas razões que continuo a pesquisar e estudar, mesmo já estando perto de completar seis décadas de existência. Mas atenção para este aviso! Meus escritos dependem do olhar vigilante dos leitores - principalmente os especializados. São eles que me obrigam a corrigir os meus lapsos ou a reforçar as minhas convicções.
Não temo aparecerem meus primeiros pruridos de escritor amador porque um singular desejo me enaltece, sem correr risco de morte. Sei que: errando e acertando, pelejando, estudando e pesquisando, certamente chegarei aonde quero chegar. A vida é assim mesmo: “morrendo e aprendendo”.