Insanidade no divã
Doutor, sempre sozinho, em belas tardes, confesso-lhe carregar um pequeno fardo. Tudo que eu sinto, é solidão, tudo que falo, lembra minha solidão. Não sei por que, mas cada gesto meu, é feito com a solidão. Não, não, se não consigo enxergar a felicidade? Não existe felicidade maior pra mim! Por mais que este fardo seja pesado, consigo viver minha vida e as tardes. Ah, as tardes!
São os melhores momentos, pois me permitem refletir e encontrar um caminho que me torne leve, leve o bastante para flutuar e esquecer a solidão. Mas gosto dela, sabe? Uma grande companheira
Mesmo sozinho, ela me faz companhia. Ora, Doutor, não me venha com perguntas como “porque” ou “como”. Acontece, são ironias do destino. Gosto de viver assim, me alegra, faz com que acorde sempre de bem com a vida. Faço cada minuto valer anos, até chegar minha tarde. Não entendi? Ah, parece que amo a tarde. Sim! Amo à tarde! O Sol é brando, o ar está leve e tudo parece calmo. O momento perfeito para me sentir dono do mundo, senhor do Universo, nada mais que isso. Doutor, não, o senhor não entende, mas que inferno! Sou humilde, imponente, pura contradição mesmo. Olho ao redor e fecho os olhos, respiro levemente o ar e acordo em minha cama, na minha casa. Solidão? Que solidão? Ah, ia esquecendo-me do fardo que relatei no início da sessão.
Sim, ela continua lá. Levanto e descubro que minha solidão é um fardo que suporto carregar e que nada mais é realidade, apenas devaneios de um sonhador, que sonha acordado e dorme no próprio sonho. É, o senhor julga-me como confuso, louco, insano ou qualquer coisa assim. Se quiser, assumo publicamente em alto e bom som, quer ouvir? É ISSO QUE SOU! LOUCO, INSANO, CONFUSO! Ah, desculpe-me, não era preciso gritar? Deu vontade, só isso, o senhor compreende? Tenho diversos gritos sufocados, mas deixemos para outra sessão.
Como me sinto? Sinto-me feliz por ser assim, pois ser normal é impossível. Não compreendi? Ah, deu nosso horário. Podemos encerrar por hoje a sessão, a que horas volto? Às duas da tarde na quarta-feira? Sim, estarei aqui. Até logo, obrigado! Ah, seu cheque, aqui está.
Até quarta, doutor!