UM AMIGO NA ESQUINA
Tinha andado só, sem rumo certo, bateu a porta antes de fechá-la com chave para que quem escutasse – assim os vizinhos – pudessem saber que ele saía de casa. Com esta “determinação” saiu em passos largos, as mãos no bolso da jaqueta, porque fazia frio.
Engraçado como a atmosfera era sempre dias pálidos; flores desabrochando por cima dos muros tácitos, borboletas errando pelo ar, voando sempre baixos, pássaros passando muito longe quase como se alcançassem o tampo cinza do céu. É porque parecia quase noite, à tarde cinza um pouco fria e os rostos tensos que topou pelo caminho pareciam acreditar – pela pressa que andavam - que a chuva logo desabaria.
Assobiou, contudo um pouco desavontade, as mãos se apertando muito em cada bolso.
Deu de cara com uma praça como se encontrasse uma clareira, todavia ali apenas arvores de troncos grossos e copas frondosas, e bancos comuns de praças, secos e vazios, olhando um para o outro. Pareceu, ao hesitar, perscrutar um grito de criança no final.
Nada: parecia que o mundo acabara para recomeçar outro dia.
Ainda ficou parado no mesmo lugar, a boca se abrindo em espanto cadente, já não se lembrando do que o levara para fora da sua concha. A tepidez dela se ia embora num bocejo derradeiro.
Num girar entre os calcanhares resolveu voltar pelo mesmo caminho que viera, protegendo muito as mãos em cada bolso da jaqueta, ofegante porque estava perplexo, e na esquina do caminho deu de cara com outro homem com as mesmas mãos no bolso de uma jaqueta como se viesse ao seu encontro. Pararam então um instante, não um de frente para o outro, assim cada um abrindo um espaço para que o outro passasse, e trocaram um sorriso compartilhando o que pessoalmente nunca viriam a entender. E logo cada um seguiu seu caminho, sem dizer nada, sem nem mesmo olhar para trás.
Rodney Aragão.