A espera

Belvedere Bruno


 Olhares masculinos sempre lhe traziam a pergunta: -   Será ele?  Por que não? Tem olhos negros como os meus e sobrancelhas grossas.  Por que me olharia  tanto, se não fosse? -Assim pensava na ingenuidade  de sua infância  .  Os dias passavam e mais envolvida ficava, vislumbrando o encontro de sua vida.
Com o passar dos anos, tornou-se uma mulher sensual , atraindo  todos os tipos de olhares. Lascivos, vulgares,  invejosos.  Contudo, ainda  tentava ver neles o  que sempre buscara,    repelindo   qualquer lampejo  de   impossibilidade .     Encontraria o olhar, pensava, pois  ali residia  a  razão de sua vida.
Os cabelos embranqueceram e  a busca não cessara. Nos olhares ternos que lhe dirigiam em sua senectude, ainda  imaginava que poderia encontrá-lo.   - Sim , poderia,  por que não?- dizia para si mesma.
Passeando pelo parque numa tarde de domingo, subitamente tropeçou  e caiu ao chão. Um senhor, bastante  idoso, veio em sua direção para ajudá-la. Erguendo-se, olhou-o fixamente e,  segurando seus braços, perguntou trêmula : -  É você, papai?
O  homem , sem proferir palavra, virou as costas e, balançando a cabeça , continuou  sua caminhada.