Olha a vida aí........
Toda noite era assim, eu só queria me embriagar e partir pro meio da multidão de bêbados sequelados e sujos, mas que mal há nisso? Perante a Deus somos todos iguais. Toda e qualquer criatura que respire deve ser conhecida e estudada para que se possa amá-la como ela é. Obviamente que neste caso eu não amava todos os bêbados dali, mas alguns eu já havia me afeiçoado um pouco. Devo admitir que meus objetivos, eram profissionais, eu os estudava, nas entranhas de suas idéias eu me instalava para confundi-los, tentando fazer com que acordassem novamente para a realidade.
- O mundo é bom meu irmão!! A vida curta !! nada se leva daqui!
Outro grita, - Foda-se a democracia de falsos burgueses metidos a besta!
E por aí se caminhava, entre desvios e ramificações desordenadas rumo a destino algum. Misturando filosofia com arte contemporânea, falando de banqueiros e de Leis de Trânsito absurdas, era uma bagunça sem precedentes, ideologias, sim lá também havia comunistas e cães da polícia e do exército, camuflados, viciados e sem moradia, vagavam por ali tolerando toda e qualquer barbaridade imoral e ilícita.
Eu segui por alguns meses, freqüentei diariamente o local, viajei pra mundos que eu já havia esquecido, lembrei de histórias antigas que também havia esquecido, entre a falta de cultura de muitos, a grande cultura de outros, talvez mal aproveitada, traumatizada, memória morta que se foi, que se tenta recuperar, é compreensível enlouquecer e se entregar há um vício cretino e egoísta, é compreensível que todos ali estejam matando aos poucos suas memórias e seu passado, eu prossegui entre doses de conhaque, carteiras de cigarro, o pó maldito da esquina e a erva doce de Marcos, cervejas e vinhos me acompanharam, até ficar sem dinheiro e começar a dever pro dono bar, fui me tornando como eles, em questão de um ano poderia ser eu ali reclamando de tudo, bebendo sem parar, comendo polenta frita acompanhada de Marllboro, discutindo futebol, padecendo, ficando burro.
Nestes últimos dias que parei de freqüentar o lugar, as ressacas me fizeram dormir muito e desintoxicar, voltei a ler e praticar esportes, ainda bebo,mas moderadamente, posso escrever estes contos de noite, acho que vou viajar um pouco, pra outro lugar só pra mudar de ares, talvez uma namorada pra baixar a poeira e navegar em terra, sabor, prazer e vida, quem sabe um cachorro pra animar a casa, àrvores novas, uma criança pra brincar, livros, uma rede, bons filmes, pizza, cobertor e beijo, preguiça, até um bolo, programas de televisão, Gargalhadas, alucinações caseiras, um bom sono, um bom colo, cafuné, pescaria, um jazz pra fazer um churrasco e um samba pra dormir, um cacho de uva na boca, uma cachacinha, bolinhos de aipim, flores e vento, um apartamento, talvez um carro velho, um violão, uma varanda com vasos de flores, um moinho ao longe, um Jardim....
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