Era uma vez... - Parte 9
“Era uma vez um barbeiro que cortava os cabelos das crianças, dos jovens e também dos adultos, que moravam nas vizinhanças de sua barbearia. Ele não era efeminado como o é a grande maioria dos cabeleireiros, talvez por não se sentir cabeleireiro, e sim barbeiro, embora não se restringia em fazer barbas, pois a sua especialidade, se é que realmente tinha alguma, era o corte de cabelos”.
“Era uma vez um barbeiro que cortava os cabelos das crianças, dos jovens e também dos adultos, que moravam nas vizinhanças de sua barbearia. Sua sexualidade não era colocada em questão pelos freqüentadores de sua barbearia. Ele apenas cortava cabelos, fazia barbas e esporadicamente realizava um tipo de tratamento de pele facial de jovens, cujas faces estavam cobertas de espinhas”.
“Era uma vez um jovem que como a maioria dos jovens possuía uma infinidade, logicamente finita, de espinhas na face. Sua sexualidade nunca fora colocada em dúvida por nenhum freqüentador da barbearia, tampouco entre seus vizinhos, que nem sempre eram jovens como ele. Tão logo se informou que o barbeiro que cortava seu cabelo também fazia tratamento de pele facial, não teve dúvidas e iniciou o tratamento, pois as espinhas lhe incomodavam tanto no aspecto estético quanto no físico, já que tinha muitas espinhas internas, que doíam muito. Sua face ficava coberta de um creme verde, que lhe configurava o aspecto de um ser extraterreno. Muitos senhores riam daquela situação, enquanto outros ficavam espantados com a tecnologia utilizada pelo barbeiro. Havia ainda aqueles que se referiam ao tratamento como frescura, mas sem insinuar qualquer posição quanto à sexualidade do jovem e também a do barbeiro”.
“Era uma vez um jovem que como a maioria dos jovens possuía uma infinidade, logicamente finita, de espinhas na face. Tinha a fama de abusar da ingenuidade das crianças da vizinhança, porém nunca foi rotulado de pedófilo. Talvez, e esse talvez tenha talvez algo de certeza vinculado nas suas entrelinhas, gostasse de estar com parceiros do mesmo sexo, talvez não. Talvez o desconforto da incerteza lhe conferisse o dever de provar a sua masculinidade. Não fazia o tratamento na pele facial no barbeiro por pensar que as crianças não gostariam daquela face repleta de crateras. Fazia porque lhe incomodava a vaidade, normal em todos os humanos, e também porque lhe doíam excessivamente. Ele não beijou nenhuma daquelas crianças nas suas investidas sexuais. Ele respeitava o sexo masculino daquelas crianças”.
“Era uma vez um barbeiro que cortava os cabelos das crianças, dos jovens e também dos adultos, que moravam nas vizinhanças de sua barbearia. Sua sexualidade não era colocada em questão pelos freqüentadores de sua barbearia. O jovem que cortava o cabelo segundo as vontades da tesoura desse barbeiro, também fazia tratamento de pele facial com o mesmo, e também sua sexualidade jamais fora contestada pelos senhores mais velhos que freqüentavam a barbearia”.