Era uma vez... - Parte 7
Era uma vez uma menina que tinha as duas pernas e os dois braços em perfeito estado. O médico obstetra que fizera o parto, cuja menina de pernas e braços perfeitos estava para nascer, não respeitou a pobreza da mãe que carregava na barriga essa menina de pernas e braços perfeitos, e permanecera na câmara municipal, onde era vereador, atrasando, e muito, a retirada da menina de pernas e braços da barriga daquela pobre mãe pobre”.
“Era uma vez uma menina que tinha as duas pernas e os dois braços em perfeito estado. É claro que nem o médico obstetra, nem a mãe e nem o pai daquela menina sabiam que ela era menina antes dela ter nascido. Sabiam que era uma criança, apenas isso. O médico obstetra atrasara o parto, e, em conseqüência desse atraso, a menina de pernas e braços perfeitos tivera uma séria anomalia no seu cérebro”.
“Era uma vez uma menina que tinha as duas pernas e os dois braços em perfeito estado. Seu cérebro sofrera uma séria anomalia devido ao descuido do médico obstetra. Não tivera uma infância como a das outras crianças, que além de pernas e braços perfeitos, também possuem os cérebros sãos, devido aos médicos obstetras que fizeram seus partos não se atrasarem, pois não eram vereadores em suas cidades. Mesmo não tendo o cérebro em perfeito estado, o que talvez lhe propiciaria uma infância parecida com o das crianças normais, ela brincava, da sua maneira, é claro, mas brincava, e brincava, e brincava”.
“Era uma vez uma menina que tinha as duas pernas e os dois braços em perfeito estado. Brincava com uma boneca sem cabelos. Brincava de deixar sem pernas e sem braços a boneca sem cabelos. Brincava de deixar sem pernas e sem braços a boneca sem cabelos, pois queria dizer ao médico obstetra, que lhe tirou a normalidade da vida, que se sentia sem braços e sem pernas. Na realidade, se sentia um nada”.