Era uma vez... - Parte 6

“Era uma vez um menino travesso que obrava obras nada convencionais para os padrões conservadores da época. Sua posição de evacuador oficial não lhe garantia entrada franca em nenhum dos cinemas da cidade. Essa oficialidade se restringia apenas aos arredores de sua casa. Sua responsabilidade era tamanha que fazia questão de retirar das gavetas dos armários das casas invadidas as meias e cuecas do proprietário. Quando as gavetas não saiam dos armários, resolvia o problema colocando uma cadeira próxima ao local. Era demais a sua engenhosidade”.

“Era uma vez outro menino travesso que morava nas cercanias das casas invadidas pelo menino travesso que obrava nas gavetas dos armários dessas casas invadidas. Esse outro menino travesso nunca obrara em qualquer gaveta. Sua relação com a evacuação se restringia aos vasos sanitários, mas sabia das peripécias evacuativas daquele menino travesso. Era interrogado pelos proprietários das casas invadidas, mas jamais dedurou o menino travesso com características de evacuação social. Não dedurava por ser condescendente com aquelas obras. Não dedurava por ser leal ao menino travesso com características de evacuação social. Não dedurava por não ter características das arapongas. Sabia que aquilo não estava correto, o que lhe incriminava como cúmplice, mas mesmo assim não conseguia delatar aquele menino travesso com características de evacuação social”.

“Era uma vez outro menino travesso que nunca se imaginou espião. Freqüentava os mesmos lugares que o menino travesso com características de evacuação social. Sua vida jamais seria levada a sério por qualquer escritor, pois não fazia nada que não fosse a normalidade. Era um menino travesso e nada mais que isso. Suas travessuras poderiam se confundir com atos impensados, apenas isso. Sabia que seria apenas coadjuvante de qualquer trama. Isso era real”.