COMBUSTÃO

 

“Ser amado é consumir-se na chama.

Amar é luzir com luz que não apaga.”

 

(Rainer Maria Rilke)

 

A primeira vez que Natália e Irineu  se viram foi algo arrasador . Sabe aquele gelo na barriga, o coração disparado, um arrepio pelo corpo? Pois é, dessa forma, teve início um jogo de sedução e de desejo...

Encontraram-se num ponto de ônibus. Por coincidência pegaram o mesmo ônibus; mas desceram em pontos diferentes.

Irineu era moreno de olhos verdes claros, cabelos pretos brilhantes, um metro e oitenta e cinco. Corpo definido. Fazia exercícios. Natália era branca de cabelos pretos, olhos castanhos, lábios pequenos, seios fartos – mas não exagerados –, pernas roliças bronzeadas. Gostava de jogar vôlei. Ambos tinham vinte e cinco anos.

No segundo dia já havia um sorriso de reconhecimento. O jogo de olhares continuava. Só no terceiro dia que houve uma conversa.

O dia estava chuvoso.

Que chuva hein?, disse Irineu.

Nem fale! E eu com essa calça branca. Até parece que ela chama chuva, incrível, é a terceira vez que eu coloco e chove.

Parece que é para você não usa-la, né?

É, vou aposentá-la.

Desculpe minha falta. Meu nome é Irineu.

Natália.

Você trabalha em quê?

Em um supermercado.

Eu trabalho num empresa de contabilidade.

Nosso! Só cálculos hein?!

É, mas eu gosto. Tanto é que fiz Contabilidade.

Eu estou estudando psicologia. Trabalho no RH do supermercado.

Ah...

A conversa estava boa, mas Natália precisava descer.

Bom o próximo é o meu ponto. Até mais.

Até. Irineu ficou matutanto... Natália...

 

XXX

 

Passou-se o tempo, os dois estavam entrosados, quando Irineu fez um convite para Natália:

Daqui há três semanas vou descer à praia; você gostaria de ir?

Natália olhou-o

Vou ver se dá. Depois te dou uma resposta.

Trocaram telefones.

No dia seguinte, Irineu não apareceu. Nem no outro, Natália se preocupou. Chegando em casa resolveu ligar.

Alô?

Ela sentiu uma fraqueza pela corpo, o sangue a fugir-lhe do rosto.

Boa noite; eu gostaria de saber se o Irineu está.

Está sim; quem é?

Aqui é a Natália.

Ele está doente

Ah...por isso que ele não apareceu esses dois dias

Vocês se conhecem da onde?

Do ponto de ônibus.

Vou passar para ele

Obrigada.

 

XXX

 

Natália acabou aceitando o convite para a praia.

Quando chegaram à praia, aquela paisagem paradisíaca, o mar, o movimento, o calor, o clima sensual... De repente, os dois estavam naquela guerra amorosa que o sexo proporciona... Amaram-se com gana, com vontade, com furor... Terminaram encharcados a seclusão do amor...

Você é incrível!...

Eu nunca senti isso com ninguém...

Foi apenas uma vez. Depois ficaram na vontade novamente.

Depois daquele dia, voltaram compromissados um com o outro...

 

XXX

 

A vida foi seguindo o seu curso. Noivaram, casaram-se, e no dia do lua-de-mel:

Finalmente mataremos essa sede, falou Irineu –, aquela vez na praia foi apenas um aperitivo...

Eu estava louca para sentir novamente aquela sensação. Por isso que eu me segurei até agora.

A primeira vez foi no banheiro; e, mesmo debaixo d’água, seus corpos fervilhavam. Chegando até a sair fumaça depois...

Nossa! Essa foi incrível!...

A outra foi no sofá... A próxima na cozinha... Mas quando foram para o quarto, aconteceu algo inexplicável: nas preliminares, saíram umas faíscas, as carícias o combustível, e o sexo a chama... Foi um amor impossível de descrever em palavras... Os corpos foram se unindo de tal forma que nem um, nem outro,, perceberam que a cada orgasmo, cada êxtase, era uma chama viva que emanava de seus corpos.

O envolvimento foi tanto que eles acabaram entrando em combustão naquele grito de prazer que muitos dos hóspedes ouviram.

Um deles ligou para a recepção solicitando à gerência uma solução para aquela obscenidade toda.

O gerente resolveu ligar. Discou o ramal e nada. Esperou alguns minutos. Tentou novamente, nada. Resolveu subir para falar-lhes pessoalmente. Bateu na porta. Nenhuma resposta. Chamou, nada. Então procurou abrir a porta com a chave mestra.

Ao entrar, percebeu um cheiro estranho no ar. Um vapor do quarto do casal. Os pertences na sala... roupas pelo chão...

O gerente correu para saber o que estava acontecendo. Ao chegar na porta do quarto levou um baita susto:

Meu Deus!

Não havia ninguém ali. Apenas uma marca na cama chamuscada, e cinzas espalhadas pelo quarto espalhadas pelo vento que entrava pelas frestas das janelas...

 

Ah... “O fogo da paixão que me consome...”

 

19-26/10/06 – ( Primeiro Contos)

 

 

Gonçalves Reis
Enviado por Gonçalves Reis em 09/07/2008
Código do texto: T1073114
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