A CORUJA MÃE DA LUA

*

-Era uma vez, num tempo tão antigo, que os bichos ainda falavam e tinham entendimento...

- oxi, oia tu errada! os bicho tem intidimento sim, nóis é que num intende mais as fala dele.

pois bem...nesse tempo antigo, uma mulher do povo tinha duas filhas feias e uma bonita, mas bonita de doer na vista...

- eita! assim tão tão?

- é!

- oia, mãe de moça assim bunita tem cabeça inxada...é muito gabirú...

- gabirú?

- homi, sujeito safado, cretino, que anda atrais das moça mode desencaminhar elas. mai tu é burra.

- ah, tá...bem...o fato é que a filha mais nova era bonita das pedras chorarem...

- uia!

- deixa eu contar a estória?

- e apois? conte.

- pois bem, a moça era bonita e a mãe dela vivia muito orgulhosa e metida, vivia fazendo agavo da filha, vivia diziendo pras outras mães das moças do povo que filha bonita que nem essa ela tava pra ver.

- mai que dona mai mitida né? cando acaba Deus castiga e ruim é Ele...

- aí, a mulher disse bem no meio do rio, quando lavava roupa..

- tão mitida e lavava ropa no rio? é de ver mucuim cum tosse...

- olha, to perdendo a paciencia! tu quer que eu conte o resto da estória ou não?

- oxe, conte! e eu tava dizendo nada?

- aiiinnn!....a mulher disse, bem no meio do rio que não tinha rapaz naquela cidade pra casar com uma moça tão linda quanto sua filha. Que não via ali ninguém, eu disse ninguém, que chegasse aos pés da belezura.

- repara! precurando causo. as outra muié deve de ter ficado medonha de raiva.

- e então? correu logo esse rumor e a moça ficou muito triste.

- toméin...qua era o rapais que ia chegar pra casar a mãe dela falando assim, né não? fica logo tudo discabriado...essa coitada ficou foi no caritó.

- pior! a coitada da moça disse assim:

[i] - mas, mãe! pra que a senhora foi falar isso? e agora quem vai querer casar comigo?[i]

- ai a velha metida respondeu assim:

[i] - bonita como tu é vai aparecer um rapaz coberto de ouro pra tu![i]

- einta, coitada, ia esperá era muito...ela ficou pra tia?

- nããoo!

- e as outras irmã, as feia? as coitada?

- elas não gostavam nada, né? que você acha? mas o fato é que arrumaram noivos e casaram, e a moça bonita nada, né? demorando pra aparecer.

- oia, num tô dizendo? a coitada ficou no caritó...

- nada! foi pior.

-pior que o caritó? intão morreu...coitada...a mãe boquirrota....to murdido agora.

- nada foi pior.

- homi!

- deixa eu contar?

- conte criatura, pela lui, já to aguniado...

- então! a moça já com medo de não casar, quando foi um dia apareceu na cidade um moço lindo, vestido com uma roupa de ouro.

- de oro? uia, devia de ser o num sei que diga, visse? é sempre o cão que veste roupa de oro.

- era não. o rapaz apareceu e todo mundo sorria só de ver a cara dele, por que ele era bonito demais, aí, ele foi pra rua da moça e cantou na janela dela. mas cantou tão lindo que as flores do jardim choraram e...

- cá gota! mai tu inxagera muito, flor chorando é pra se lascar! hehehe

- ah! você tá mangando, num conto mais...

- oxi, to mangando nada...conte vá, conte...

- rum! pois a moça apareceu na janela e o moço sorriu, eles se apaixonaram na mesma hora, e ai ele disse:

[i]-faz tempo que lhe procurava, quer se casar comigo?[i]

- a moça ficou tão assim! ela nunda tinha visto aquele rapaz, mas parecia que já o conhecia.

- tuméin a coitada já berando o caritó...até se fosse o brinquedo do cão ela quiria! inda mai sendo ele bunito das flô chorá...heheheheh....nun é?

- deixe de mangação, vá! já disse que num conto mais, e num conto mesmo! só amanhã eu termino, se você se comportar...

- oxiii! mai tu é assim né? vai deixar eu sem saber do fim até aminhã? tu é marvada que só a gota.

- se me xingar é pior, ai que nem conto amamnhã nem mais nunca!

- tá bom, tá bom...intémenhã intão.

- até...

CONTINUA...

- eita, case que morro de isperar tu!

- mas, eu estou no horário...

- homi, termina a istóra, pela hosta consagrada!

- tá, tá...onde eu parei?

- o moço contando bonito até a flô chorá.

- ah, tá! pois bem, o moço pediu a moça em casamento. Mas, ela ficou assim, assim...

- num sei mode que...ela tá já no caritó... e adispois ela num achava que já tinha visto o moço? que fuleragem é essa?

- bom ela achava, massss não tinha certeza. O moço era bonito, cantava lindo e tal. Mas, a moça era direita, não ia indo com o primeiro que chegava, né?

- logo bem se vê que isso foi no tempo dos bicho falando...hoje, ai ai, cando ele dissesse "bora?" ela já tinha era se ido...hehehehehe....

- hihihihih...mas, não é? Mas, acontece que os tempos eram outro e veja só, a moça pegou a conversar com o rapaz, até para conhecê-lo melhor, não foi atrás da roupa de ouro que ele usava e nem do cavalo lindo que ele montava, nem da voz tão linda que ele tinha.

- tô achando que essa moça nem insistia...mermo naquele tempo num tinha moça bestada, oia, moça é o bicho mais sabido que inventaro...hehehehe...

- pois bem, eles estavam nessa conversa quando chegou a mãe da moça...

- a véia mitida e boquirrota...

- ela mesma. Ai ficou muito impressionada com o rapaz que era bonito, vestia roupa...

- sei sei, de oro. e ai o que a véia fez?

- tá com pressa?

- não, não, mai é qui essa parte eu já sei.

- siiiimmm! começe. aí que eu paro de contar, viu?

- owww, vá, continue, eu fico calado...

- pois bem, lá vai. A velha fez um enxame! e chamou o rapaz pra dentro de casa, e serviu café com bolo, e danou-se a conversar de tudo que no mundo há...

- oia, que véia mais inxirida!

- não é? e vai conversa e conversa, e se ofereceu pra hospedar o rapaz e tudo.

- mai que véia safada!

- e não é? o rapaz era muito educado, aceitou e ficou procurando conversar com a moça, que ficava morta de vergonha, por ques abia qual era a intenção da mãe.

- e quá era?

- digo já. teve uma hora que o rapaz foi tomar banho e a véia chegou e disse pra moça:

- olhe aqui, sua burra, esse partido você não pode perder! faça o que quiser mas só deixe ele sair daqui quando ele se caar com você!

- a moça ficou passada. o rapaz tinha pedido pra se casar com ela, mas ela ainda estava pensando, ele não era mais que um estranho!

- mas mãe, eu nem conheço ele!

- e o que é que tem? ele é rico, bonito e dá bem pra você! depois eu não vou passar embaixo...já disse que aqui na cidade não tinha rapaz pra casar com você por que você é muito bonita. esse ai tá na medida! trate de fazer ele se interessar, faça o que puder mas case com esse, que é rico e tem roupa de ouro!

- e se ele for ruim, mãe!

- pode ser o próprio satanás! esse ai é o homem que vai se casar com você. eu não vou passar por mentirosa!

- oia só que véia safada!

- pois é, a moça ficou triste triste. e o que foi pior é que o rapaz tinha ouvido tudo.

- eiiiita!

- pois bem, ai a casa abalou com um tremor medonho, e de repente uma luz e um calor invadiram a casa toda. a velha e a filha ficaram com um medo triste.

- eita! foi o cão com raiva, num foi?

- foi nada! era o sol, o rapaz era o sol. ai veio pra sala, já todo brilhante e disse assim:

- minha amada! eu vim lhe socorrer deste destino triste que é uma mãe fofoqueira e orgulhosa...eu cheguei aqui e te pedi em casamento, mas você não me aceitou só pela aparência, conersou comigo, procurou saber quem eu era, duvidou das minhas intenções...você é uma mça boa e direita, vai ser minha esposa!

- falou bunito! mai o sol, era? e num queirmou tudinho não?

- isso é estória, meu filho, em estória tudo pode acontecer!

- é mermo, mas conta o resto que tá bunito.

- a velha ficou doida de feliz! pensou logo assim: pronto, agora eu to feita, to rica e to eleita. Mas, o rapaz - que era o sol - falou assim, pra ela:

- e você, criatura da boca grande e do orgulho maior ainda, por castigo eu vou lhe transformar numa coruja feia, da boca grande!

- bem feito!

- ai ele transformou a velha naquele bicho feo da foto. o rapaz carregou a moça com ele e deu a ela todas as riquezas, todo amor, mas a moça vivia triste.

- mai, mode que?

- ele perguntou o que era que ela não estava feliz, e ela disse assim:

- senhor meu marido! eu vivo triste por que nunc mais vi a minha mãe!

- minha querida, sua mãe é uma pessoa má![i/]

[i]- eu sei, mas ela é minha mãe, eu só queria ver ela um pouco.

ai o sol viu que a moça tinha mesmo um coração de ouro e ...owww, amanhã eu continuo..

- mai que peste! ainda aminhã...gota!

CONTINUA....

Nossa você já chegou?

- inhapois! to doido pra saber o resto.

- ah, sim...vou contar, viu?

- arroche.

- pois bem, a moça vivia triste triste, apesar de todo amor e de todo luxo que ela tinha no palácio do rei sol.

- sim, isso ai ocê já contou...

- ai o rei sol viu que a moça era mesmo muito boa, por que mesmo ele dizendo que a mãe dela era ruim, a moça sentia saudade dela e queria pedir a benção...

- pra tu ver! a pobre era boinha mesmo.

- não é?

- siiimmmmm, mas conte!

- pois bem, o rei sol fez uma mágica e prometeu a moça que toda noite de lua a moça podia e ver a mãe, mas não concordou em desvirar ela em gente de novo.

- é mermo! ele tinha virado ela num bicho feio arrteado. eu vi na foto lá incima.

- pois é! ai a moça na primeira noite de lua cheia desceu do palácio do rei sol pra ver a mãe...quando a velha, virada no bicho feio viu a filha, ao invés de ficar feliz deu um urro tão feio, tão lamentoso, que a moça se assustou e voltou. é dai que o povo começou a chamar aquele bicho feio de coruja-mãe-da-lua, por que toda noite de lua cheia a filha boa volta pra ver a mãe e ela solta o mesmo grito, lamentoso e feio...de dia, com vergonha de ser tão feia, a coruja mãe da lua vive em cima dos mourões, disfarçada. mas, mesmo assim, não deixa de ser fofoqueira, fica parada observando a vida dos outros pela fresta dos olhos.

-oia...mai tu tá é falando o urutau!

- dele mesmo!

- eita! apois eu gostei da istóra! tu vai contar outra, vai?

- não sei, e se o pessoal não gostou?

- ai eles vai falar ai imbaixo, no canto de deixar recado, né?

é mesmo

tchau......

e partiu a contadora de estórias.