SALA DE ESPERA

Já fazia algum tempo que ele estava alí ...esperando.

Vez ou outra o garçon lhe dirigia uma pergunta lacônica:

-Mais um vinho, senhor?

Ele assentia com a cabeça e, sem nenhuma palavra, pacientemente revirava o seu jornal que havia sido lido e relido, entre curtos intervalos nos quais desviava o olhar para o movimento da rua.

Na porta do hall, uma enorme luminária de cristal diuturnamente acesa, iluminava o intenso movimento de hóspedes.

Sobre um balcão, uma única gérbera pink, caprichosamente arranjada, dava um certo glamour ingênuo àquela pressa do dia a dia, que a tornava imperceptível a maioria...porque na vida nunca há muito tempo para se observar as flores singulares.

-Por favor senhora, seu voucher?

Alí todos acreditavam serem os donos dos seus tempos, dos seus espaços, dos seus negócios, dos seus destinos.

Ele, vez ou outra, disfarçadamente impaciente, olhava o relógio e mal percebia que ali já estava por uma eternidade.

Mas, continuava a esperar. Aprendera. Era o seu único ofício.

Contemporizou.

Afinal, o que eram alguns minutos a mais diante daquele tempo que lhe parecera tão atemporal?

De súbito, ouviu um tímido "boa noite".

Mas já? Não era possível, se mal acabara de amanhecer.

Trêmulo, fechou rapidamente o jornal das mesmas notícias, e antes que tivesse tempo de sorver o último gole daquele frisante para responder ao cumprimento, entenderam que a vida, por ali, já havia passado.

Gritaram pela Lua.

Assim que o astro desceu até eles, se esvaeceram na luz do desconhecido.

Agora, era o tempo quem iria esperá-los...