De volta ao insólito no país dos mortos-vivos
- Imagine-se voltando a um lar onde o amálgama desertou. Onde um velho libidinoso e sem potência ulula todas as noites em busca do que moveu sua vida e que agora não mais.
Imagine-se, apenas imagine-se, voltando a mesma porta que você cruzou jurando não voltar, por que só havia pedras, só havia cactos, só havia desolação atrás dela.
Imagine-se vivendo junto a alguém que vive no país da improbabilidade; alguém que julga pintar de cores vivas uma realidade desbotada e absurda, buscando emoções virtuais e com uma capacidade emocional tão embotada que confundia facilmente nada com alguma coisa.
Imagine-se em meio a um pesadelo de culpas, medos, ressentimentos, de ódios incontidos e acusações infrutíferas.
Imagine-se voltando ao jardim onde nada cresce, nem erva daninha, por absoluta falta de oxigênio, por absoluta desmotivação. Imagine-se voltando ao quarto escurecido onde os sonhos são pesadelos, onde o calor não aquece e o frio é apenas uma desculpa; as pragas, os gritos, as agressões são como aranhas fazendo teias em torno das pessoas, abafando-lhes a vida, destruindo-as.
Imagine voltando ao lugar onde os vivos e os mortos convivem com a mesma raiva, com o mesmo ressentimento que fez morrer a uns e que faz viver a outros.
Na mala, além das roupas, as nódoas marrom-avermelhadas do sangue seco dançavam sob seu olhar estupefato. Ainda buscava dentro de si o que o fazia voltar ao insólito país dos mortos-vivos.