O mundo insano

As ruas pareciam mais frias do que de costume. Aquela gosma que brotava no chão, junto com aquela fétida fumaça que parecia corroer tudo que estava pela frente. Tudo era feio e sujo, e só eu sabia disso. Casas desmoronavam a minha frente, provavelmente pelo efeito da fumaça. E eu, continuava a correr. Olhava para trás, e via aqueles homens com cara de porcos tentando me capturar. Nas mãos daqueles “homens” havia uma rede, como a que se usa para capturar animais. Mas não vou me deixar ser capturado. Na face de porco daqueles homens, eu via enormes e salientes dentes pontudos prontos para dilacerar-me.

Olhava para o céu, que agora estava rubro. Não podia ao menos pedir ajuda aos céus, que assim como todo o resto, era falso. Tudo é falso, e só eu sabia disso. Do chão, as vezes saíam algumas enormes lanças com pontas ensangüentadas, que ao eclodirem, rasgavam um chão deixando nele um buraco que ao olhar dentro, dava para ver o inferno. Não deixarei essas lanças me acertarem, tampouco as almas vindo do inferno me capturar. As vezes quando olhava dentro daquele inferno, via pessoas, que diferente das outras, não tinham cara de porcos, e sim, de pessoas que eu amava. Minha filha estava lá dentro, mas não havia nada que eu pudesse fazer com aqueles porcos vestidos de branco tentando me pegar.

Corria pela rua, que ao invés de carros, tinham demônios raivosos vindo em minha direção, eu desviava de todos eles e continuava a correr. Não ia deixar ninguém me capturar. De alguns buracos, provenientes das lanças infernais, saíam algumas larvas enormes e com inúmeros dentes pontiagudos como os dos tubarões brancos. Tentavam devorar-me, mas como sempre, fui mais rápido e superior.

Cheguei até as margens do rio, e os malditos porcos estavam próximos de mim, sem opções, pulei na água corrente, deixando para trás aqueles malditos, prontos a dilacerar-me. Não podia ver o que havia naquele rio de águas rubras, mas podia senti-los. Aquelas criaturas tentavam me pegar e me rasgar o corpo, mas a correnteza me puxava. Puxava em direção à cascata, e essa seria minha salvação. Caí da cascata, que devia ter cerca de oito metros de altura, e ao afundar-me na água, senti minha perna sendo rasgada, provavelmente por um daqueles seres malditos que habitavam a água. Desfaleci diante de tanta dor, e acordei às margens da cachoeira, perto daquele bosque que diziam ser muito belo. Não me parecia belo com todos aqueles olhos e braços.

Ouvia vozes vindo das árvores malditas daqueles bosques. Ouvia também outras vozes, que ao constatar ser dos malditos porcos, corri pelo bosque. O bosque era escuro, e as árvores fediam a maldade. Com seus enormes e numerosos braços tentavam me pegar, mas eu pulava, rolava, corria...

Não me lembro decerto qual delas me acertou, lembro-me apenas de acordar aqui, com esses malditos porcos a minha volta. Estou amarrado, imóvel, apenas esperando a hora do almoço desses porcos.

Eles dizem que estou louco, e preciso de remédios, mas um dia eu consigo me soltar daqui, e vou dar a esses porcos, o remédio que eles precisam.

E você, caro leitor, olhe direito, e verá como o mundo é feio e sujo.

Derek Mendonça
Enviado por Derek Mendonça em 15/05/2008
Código do texto: T990802
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