[MICROCONTO] - FÉ
A velha senhora caminha até a igreja.
Uma antiga construção, feita de perdas sólidas, desgastadas pelo tempo.
Essa senhora, uma beata, diziam, é na verdade muito maledicente, que nunca faz nada de bom.
Só reclama e destila seu sutil veneno sobre os outros.
Junto dela vem o sobrinho. Rosto angelical.
Apenas pose. É um garoto ruim; bebe, fuma, rouba e bate nos mais fracos.
Os dois andam empertigados pela rua, fazendo a maior pose de crentes.
Como a maioria das pessoas que andam por aí.
Vão até a igreja, como fazem regularmente.
Precisam ser pios aos olhos da sociedade. Mas este não é um dia como os outros.
O sol queima intensamente e o céu tem um tom morto.
Os dois caminham apressados, altivos, como se fossem melhores que todos os outros.
A porta da igreja, duas toneladas de madeira maciça, grande, ameaçadora.
Parece querer devorar todos os pecadores que enchem o lugar.
Fazem um sinal da cruz, apressado e sem vontade. Entram na igreja.
O padre reza uma missa para os fornicadores e hipócritas habitantes do lugar.
A missa é longa e cheia de rituais bonitos, mas inúteis e às ultimas palavras do padre, gargalhadas poderosas são ouvidas.
Antes de poderem sequer raciocinar, o chão se fende.
Um a um, o povo orgulhoso da cidadezinha é arrastado para o inferno. Nem todos chegam lá inteiros.
Seu verdadeiro lugar.
A velha matrona e o jovem desordeiro, aterrorizados, são feitos em pedaços por demônios cruéis e impiedosos.
Não importam as súplicas, não importam os gritos de dor, pois eles conhecem seu verdadeiro caráter.
A igreja afunda no solo infecto, pois capturou “fiéis” o bastante.
Apenas meia dúzia de pessoas fica sobre o chão vazio. São os poucos que tem o coração puro.
A igreja se transforma, é na verdade a mão esquerda de um demônio.
Logo ele a põe em outro lugar, pois fiéis nunca hão de faltar.
Fim.