Quando o inferno chama

Como bom mochileiro que era, sempre andei sem rumo. Mas dessa vez eu tinha um, e era a Montanha do Diabo. Não sabia por que raios tinha esse nome, sendo ela tão bela. As vezes achava que fosse por aquela brisa gelada que afagava minha nuca e me dava calafrios enquanto eu subia a montanha. Mas certamente essa brisa era devido ao frio que fazia lá. Já passava de 800 metros de altura e estava um pouco cansado, mas deixaria para descansar quando alcançasse a mansão enorme que tinha um pouco acima dos 900 metros. Dizem que é mal assombrada. Aliás, dizem muitas coisas, e eu não acreditava nelas.

Chegando em frente a mansão, antes de entrar, sentei-me na frente dela, – de costas para a mesma – olhando para baixo, e observando como tudo era tão belo lá de cima. Toda aquela neve, o silêncio, a brisa, o sol e tudo mais que completava aquele belo cenário. Acho que fiquei por horas absorto em pensamentos as vezes inúteis. O sol já estava se pondo, e achei que devia entrar antes que escurecesse, mas o pôr-do-sol me hipnotizou. Fiquei assistindo-o até sumir completamente.

Agora, estava eu em meio àquelas trevas alucinantes da noite fria da Montanha do Diabo. Tinha medo a cada passo que dava, pois a lanterna já estava ficando fraca e não via muita coisa; e cair da Montanha do Diabo não era o que eu planejava.

Subi os desgastados cinco degraus que haviam na frente da casa e posicionei-me frente o centro da porta. Olhei-a hesitante. Não por muito tempo. Empurrando-a com certa força – que era necessário, pois ela pesava muito – abri-a quase que por completo. Adentrei a casa fechando a porta cuidadosamente. A casa estava muito escura, e por esse motivo achei-a um pouco assustadora. Assustadora somente pelo fato de não estar vendo quase nada, afinal eu era descrente de todas aquelas tolices que falavam acerca da casa. – Droga de lanterna! – Disse eu dando nela uma tapa bem dado, que pareceu funcionar, pois ela melhorou instantaneamente.

Agora podendo ver melhor a casa, constatei que os móveis ainda se encontravam no lugar, as paredes e o teto estavam limpos e em bom estado, assim como o resto da casa. Isso deveria ser impossível, pois há séculos ninguém morava na casa. Pensei que pudesse ser outro viajante ¬que estivera na casa e arrumado-a; ou então uma imobiliária que tenha a arrumado com intenção de vendê-la; ou dezenas de outras possibilidades que eu pensara, pois meu ceticismo não me deixaria crer nas coisas que falavam acerca da casa.

E observando a beleza da casa, – com a arquitetura muito antiga, clássica e belíssima; toda a casa com tapete vermelho e macio; os corrimãos de bronze, detalhados e roliços; e pendurado no teto, um lustre belo e dourado – acabei esquecendo o fato da casa não parecer desabitada. Subi as escadas e fui procurar um quarto para pernoitar. Entrando na primeira porta, encontrei um belo quarto com uma enorme cama limpa e macia, e decidi que era ali que iria dormir. E dormi.

Já passava das duas horas quando acordei. Estava bastante assustado, com medo e também estava muito suado – apesar do frio que fazia na montanha –. Sentei na cama, e fiquei olhando vidrado para o nada, lembrando daquele maldito pesadelo que me fez acordar tão assustado.

“Numa cadeira, via uma mulher sentada, amordaçada e com as mãos e pés amarrados. Parecia assustada e atemorizada. Em sua frente, havia um homem com um punhal. Ela gemia, gritava, esperneava e fazia tudo que podia dentro de suas atuais condições. E quanto mais ela amedrontava-se, mais o deixava feliz. Ele queria ver nela o sofrimento. E para saciar seu desejo, pegou o punhal e enfiou em seu olho direito enquanto o mesmo estava fechado de medo. A dor parecia insuportável, pois ela gritava sem parar, esperneava e contorcia-se o quanto podia. Tentou abrir o olho, mas a dor parecia ainda mais brutal. Até que desistiu de tentar fazer mais alguma coisa, e deixou que a dor levasse embora a sua vida. E ainda antes que ela pudesse morrer, viu que era ele o homem que acabara de assassinar a mulher.”

E nesse momento vi um vulto passar frente à porta de meu quarto. E um pouco receoso, saí do meu quarto com meu canivete suíço na mão. Olhei o corredor e nada. A escada, e nada. O hall, nada. E quando havia desistido de achar alguma coisa, senti uma brisa fria tocar minha nuca e um calafrio correr todo o meu corpo. Olhei pra traz, e vi a mulher com o punhal no olho, empurrar-me escada abaixo. Rolei pela escada, e senti todo o meu corpo doer, e ao chegar ao chão, minha cabeça chocou-se fortemente e senti o sangue quente escorrendo da minha cabeça. Não fiquei consciente por muito tempo. Mas foi tempo o suficiente para ver em volta de mim, centenas de espectros. Os espectros eram como uma nuvem branca, com um capuz e olhos vermelhos incandescentes. Eles rodeavam-me como loucos, e finalmente entravam em meu corpo e eu sentia uma dor atordoante. Ainda antes que minha vida se esvaísse, pude perceber que aquilo tudo era uma forma de julgamento. E como havia sido condenado pela maldade dentro de mim, eu morri... Assim como você também morrerá!

Derek Mendonça
Enviado por Derek Mendonça em 16/04/2008
Código do texto: T947674
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