VISÃO MACABRA

Maria Isabel sempre gostou de ler antes de dormir. Solteira, morando só, o hábito era antigo, vinha desde criança. Herdara um bom número de livros de seus pais (ambos professores), mas já os tinha “devorado” todos e mais de uma vez. Muito católica, um dia conversando com o Padre, após a Missa, falou-lhe que gostava de ler, mas que já havia lido tudo o que tinha e que sua situação financeira, no momento, não lhe permitia comprar mais livros. O Padre, um homem cinquentão, afável, atencioso e carinhoso com suas ovelhas, disse-lhe rindo:

– Maria Isabel, navega na internet! Ou vai à Biblioteca Pública!

Respondeu ao Padre, um tanto tímida, que, ir à Biblioteca era impossível, pois seu horário de trabalho coincidia com o que a Biblioteca estava aberta (e seu patrão não a liberaria para ir à Biblioteca!) e que não tinha internet.

– Mas como, Maria Isabel? Em pleno início do século XXI, não tens internet?

– Padre, meu salário de secretária em uma cidadezinha do interior como a nossa, não me permite este luxo! – disse a jovem, que era órfã e residia longe de alguns possíveis familiares que ainda lhe restassem.

O Padre então a levou à Sacristia (ele morava em algumas peças, no fundo da Igreja) e lhe disse, com um sorriso carinhoso:

– Espera um pouquinho! Vou te emprestar uns livros meus. Vais gostar!

Daí a pouco, trouxe uma pilha de livros em uma sacola, e lhe disse:

– Já tens o que ler! Mas, já sabes, meus livros vão, mas tem de “ir de voltar”!

Agradecida e alegre com a brincadeira do Padre, foi para casa. Após seus afazeres, deitou-se em sua cama, com sua constante companheira, uma gatinha “vira-lata” e leu quase todo o primeiro livro, de uma “sentada só”! Mas o sono chegou...

Maria Isabel dormia. De repente percebeu que não estava só no quarto! Acordou assustada e em sobressalto sentei-se na cama. Na semi-escuridão do quarto viu alguma coisa diferente. Era um vulto de estatura mediana, delgado, envolvido por véus esfarrapados e esvoaçantes. Sentiu, de repente, muito frio. Entrava um vento fétido e gelado, vindo não se sabe de onde. A figura, ou o vulto, ou o que fosse, estava imóvel. Não falou. A jovem também não. Passaram-se minutos que lhe pareceram horas. Pela janela entreaberta percebeu a lua: a lua estava raiada de sangue!... Seus olhos voltaram rápido para aquela estranha visita. Apertando os olhos, percebeu que ela carregava algo semelhante a um livro naquilo que parecia ser uma das mãos; e na outra, algo brilhava a luz da lua, parecia a lâmina de um punhal. Desmaiou.

Quando acordou já estava claro (coisa rara, porque gostava de levantar antes do dia amanhecer!) Seu corpo doía terrivelmente, sem saber bem porquê. Teve um pesadelo, pensou. Rezou uma Ave-Maria.

O dia transcorreu normalmente, apenas sentia uma certa náusea e uma leve depressão. Não estava a mesma, naquele dia.

À noite chegou em casa. Estava mais tranqüila e impressionada como um pesadelo poderia te-la afetado tanto.

Tomou um banho, fez um lanche, revisou as portas e janelas da casa, trocou a areia da gata, colocou água e ração novas para “sua filhinha” (a gata!) que certamente estaria em sua cama, dormindo como de costume. Ao chegar no quarto, acendeu a luz e pôs no som sua música preferida, baixinho, pois sempre gostou de ler ouvindo música e dormir ouvindo música. Sua TV pegava apenas dois canais, e, além dos noticiários, achava os outros programas sem graça, portanto pouco a ligava.

– ÁGHATA!! –gritou! Sua gata estava deitada em cima de sua cama, mas havia uma enorme mancha de sangue ao seu redor. Ela estava viva, mas toda ensangüentada!! Correu para ela; parecia atordoada. Procurou ver onde estava machucada. O sangue era recente, era sangue vivo! Ainda estava quente! E a pobrezinha parecia anestesiada... Olhando mais atentamente, verificou que a pata dianteira direita, havia sido arrancada ou cortada. E da patinha cortada saíra todo aquele sangue! Deitou-a sobre a poltrona antiga que tinha no quarto, enrolada em um velho cobertor, que ficava em sua cama de vime, ao lado da sua, embora ela acabasse sempre dormindo com ela. Tirou a roupa suja da cama e foi procurar um remédio para colocar na patinha da gata, intrigada como aquela mancha de sangue havia aparecido na cama e, como uma gata que não saia de casa, poderia ter tido uma pata arrancada. Após banhar e curar a gatinha, que parecia, lentamente, sair daquele torpor, acomodou-a, enrolada, em sua cama. Ligou para a polícia e contou o que tinha acontecido. Perguntaram:

– Deu falta de alguma coisa, senhorita?

– Não! Mas alguém entrou em minha casa!

– Tem sinal de arrombamento nas portas e janelas?

– Não!

– Senhorita, temos mais do que fazer do que cuidar de sua estória maluca! Vá dar trote para outro lugar!

Magoada com a falta de sensibilidade da polícia, com vontade de chorar pela humilhação e pelo descaso, foi até a estante que tinha na sala e onde havia colocado os livros que o Padre lhe emprestara, para pegar o livro que estava lendo, pois já estava quase no fim. Era um livro muito interessante. Mas... onde estava o livro?...

Procurou por todos os lugares. Nada! Não era dia de faxina. Ninguém havia entrado em minha casa. O livro não era dela, era emprestado e sumira; sua gata tivera uma pata cortada e uma enorme mancha de sangue estivera em sua cama! Sentiu um calafrio: teria tido um pesadelo na noite anterior?... Haveria ligação entre o “pesadelo” e o ocorrido?... Inquieta foi deitar. Mas antes pegou outro livro para começar a ler, já que não havia encontrado o que estivera lendo. A gata dormia em sua cama. Deitou-se, começou a ler... e... dormiu.

De repente, acordou! Havia deixado a janela fechada, mas agora estava entreaberta, e ela podia ver a lua raiada de sangue. A luz estava acesa, como a havia deixado. E “aquela coisa” estava ali! Imóvel. Quieta. Parecia mais perto. Na sombra do rosto que não aparecia, embora houvesse luz, apenas conseguia ver uma mecha de cabelo louro, muito louro. Daquilo que parecia ser o pescoço, pendia, em um cordão roxo, uma patinha de gato, toda ensangüentada! No lugar do que seria uma das mãos estava um livro. Na outra, aparecia uma mão descarnada, muito branca, segurando um punhal. Onde estava o livro que ela havia começado a ler?... Estava nas “mãos” daquela “coisa”!! Então o véu esfarrapado, semelhante a um capuz, que lhe cobria a cabeça, escorregou para trás, e ela viu um rosto de mulher putrefato, muito branco no que ainda era carne e viu os olhos!! Que horror! Eram olhos de ódio, com raias de sangue, semelhantes às da lua!! Colocou o livro debaixo do que havia sido um braço e com a mão livre apontou para a patinha pendurada em seu pescoço. Então riu: uma risada cruel, sarcástica, terrível...

A gatinha dormia. Maria Isabel pôde ver a lâmina do punhal que brilhava e que o espectro girava, nervosamente, em sua “mão”, enquanto ria. A lâmina estava suja de sangue!

– Faltam duas! – disse com uma voz feminina, soturna e raivosa. – Faltam duas!

Desta vez Maria Isabel não dormiu ou desmaiou. Ficou atônita olhando aquele espectro que se desvanecia no ar.

A gata, parecia estar se acordando e miava baixinho. Olhou-a mais atentamente e viu a gatinha, a “sua filha”, banhada em sangue! Outra vez!!

Muito sangue, quente, escorrendo da outra patinha, que também havia sido cortada!...

O quarto parecia ter voltado ao normal. A janela agora estava fechada. Sentiu muito frio, parecia um frio nos ossos, um frio pegajoso. Foi até a janela e abriu: não viu lua alguma no céu... Nem vento: a noite estava calma. Correndo, foi tratar da gatinha, mas não dormiu mais. O pobre animalzinho gemia; colocou remédio, limpou a cama, mas Aghata estava tão fraca, que mal levantava o pescoço. Amanheceu. A gatinha não quis comer...

Durante todo o dia passou preocupada com o animalzinho. Mal chegou em casa e foi procurá-la: lá estava ela, em cima da cama, banhada em sangue, outra vez... O sangue, das duas patinhas cortadas não havia estancado, por mais que ela tivesse amarrado o ferimento. A gatinha mal levantava a cabeça...

Curou-a, aqueceu-a em seu colo. Ela estava mais magra, e parecia mais comprida. Faltavam-lhe já as duas patas dianteiras. Ela não parava em pé, só se arrastava. Maria Isabel nem se lembrou de ler aquela noite! Sentou-se na velha poltrona, pôs a gata no seu colo e decidiu que iria ficar vigiando. Mas... o sono a venceu. Acordou sobressaltada, com uma coisa quente e pegajosa em seu colo: de novo!! A estranha figura estava sobre sua cama, de frente para ela. A gata estava no colo, mas contorcia-se de dor! Em uma mão o espectro empunhava o punhal, na outra, meio escondidos sob seus véus nauseabundos, um punhado de coisas que pareciam livros, e pude ver naquilo que seria um pescoço, um cordão roxo, com as três patas de minha gata e, que horror!! Uma das patas ainda estava sangrando! Mas o estranho espectro estava diferente, parecia ter mais carne, mais forma humana do que antes: cabelos louros, rosto muito branco, o delinear de um corpo magro, dedos compridos nas mãos ainda meio desfeitas, e ela dançava sobre a cama, uma dança macabra, acompanhada por seres escuros, seres das trevas, certamente... e ria, como ria!! Das órbitas, com algo que pareciam olhos, a jovem sentiu um olhar cruel e irônico. Um som ensurdecedor se fez ouvir e, em meio a risadas nervosas a “coisa” disse:

– Está chegando tua vez! Sexta-feira serás tu!...

Um sibilar semelhante ao de uma cobra, mas muito intenso, se fez ouvir. Senti cheiro de enxofre. Meu Crucifixo e minha imagem de Nossa Senhora estavam no chão; o Crucifixo e a Santa eram de gesso, e estavam estraçalhados, cobertos de sangue!...

Maria Isabel não foi trabalhar. Não tinha dinheiro para pagar um veterinário. Mesmo assim fui até um deles. Quando mostrou o pobre animalzinho, o veterinário teve uma arcada de vômito. O que sobrara das patas de minha gatinha, estava necrosando e um cheiro de carne podre exalava, cada vez mais forte. Como eu não tinha me dado conta disto??

O veterinário olhou-a intrigado e perguntou:

– A senhorita participa de rituais de magia negra??

– Não! - respondeu – Sou Católica Apostólica Romana! Vou todos os domingos a Missa, pode perguntar para o Padre!

Com ar desconfiado, o veterinário disse:

– Não há o que fazer. Tenho de sacrificar o animal!

– Não!! Minha gata é tudo o que eu tenho na vida!! Tenho quase trinta anos, sou solteira, já perdi meus pais e não tenho parentes aqui. Vim para cá porque consegui emprego aqui. Meus parentes ricos nunca me deram atenção! Muito menos agora iriam me dar! Salve minha gata!

– Impossível! Está podre, não vê?

Maria Isabel olhou para aquele “veterinário idiota” e lhe disse:

– Doutor, quando receber meu salário voltarei para pagá-lo, como já havia combinado! Mas, por favor, salve minha gata!

– Não há o que fazer. – respondeu – e abriu a porta, com incontida impaciência, para que ela saísse.

Pegou a gata e voltou para casa, chorando de dor pela gatinha e de humilhação pela indiferença do idiota do veterinário! Ora, quem sacrificaria um animalzinho tão querido?! “Gostaria de saber por que as pessoas têm prazer em machucar às outras”, pensou.

– Maria Isabel, aonde vai tão triste?

– Padre!! Foi o Céu que o enviou. Olhe só isto! – e desenrolou o bichinho quase morto.

O Padre empalideceu! Levou um susto! Benzeu-se três vezes e pediu-lhe para contar o acontecido. Não podia contar aquela loucura ali na rua. O Padre convidou-a para ir até a Igreja e lá chegando, levou a jovem e o pobre animalzinho para a Sacristia.

Sentou-se pesadamente na cadeira, como se tivesse cem anos. Maria Isabel sentou-se, acomodando a gatinha no colo, do melhor modo que pôde, e foi lhe contando a história, desde o início. O Padre suava e tremia, pálido, inquieto. Quando terminou de contar a história, lágrimas rolavam pelo rosto do Padre...

– Minha filha!! O que eu fiz contigo?! A culpa é toda minha!...

– Ora, Padre, o senhor não poderia cortar as patas de minha gata! O senhor é uma pessoa bondosa! E como iria entrar em minha casa?

– É uma longa história... mas a culpa é minha!!...

Depois de um longo silêncio, o Padre contou-lhe a seguinte história: Ele, Padre jovem, recém saído do Seminário, foi trabalhar em uma pequena cidade como aquela. Um dia, em sua congregação, notou uma mulher loura, de olhos azuis, muito bonita e bem vestida. A partir daquele dia, ela estava sempre na Missa, não só na Missa aos domingos, como também nas Missas diárias das 6h, que naquele tempo se realizavam sempre, e na das 18h, na “Hora da Ave-Maria”. O Padre, jovem, não podia negar que a presença contínua daquela mulher o agitava de modo estranho; sonhava com ela, via-a em todo lugar aonde ia, pensava nela! Contou que fazia longas penitências para esquecê-la, mas era impossível. Ela era um pouco mais velha do que ele (poucos anos), solteira, mas era uma mulher experiente e sensual, que tinha consciência do quanto mexia com o pobre Padre. Suas confissões versavam sobre sonhos eróticos, que ela contava com riquezas de detalhes, embora o Padre em vão lhe pedisse para “omitir os detalhes!” Quando ela terminava suas confissões (diárias!) o Padre rezava: “Minha Santa! E para quem confesso eu??” Ele era o único Padre do lugar... Pediu, então, para ser transferido. Mas nada. A mulher era uma tentação constante para o Padre.

Começou a convida-lo para almoço, café, jantar, mas o Padre sempre dava uma desculpa e dizia que não poderia ir. Um dia, ela chegou na Sacristia, sem marcar hora, e disse para o Padre com uma voz sensual e um vestido muito decotado e justo:

– Padre, eu não estudei quando tinha idade para isto. Agora quero estudar. Pode ser meu Professor?...

O Padre levou um susto, disse que não podia, gaguejou, ficou vermelho, suando, depois empalideceu, enfim, ficou em um constrangimento de dar pena. Ante a insistência da jovem e bela mulher, o Padre disse-lhe que lhe emprestaria alguns livros, era o que poderia fazer. Emprestou-lhe uma gramática, um livro de matemática e um pequeno Missal, para que ela pudesse acompanhar melhor a Missa. No outro dia, ela apareceu, no mesmo horário (isto que já tinha ido à Missa da manhã!) e disse ao Padre:

– Padre, me empreste o Missal do Altar, que eu quero ler!

– Não, aquele é o que uso para as Missas! Aquele não!

– Ah... Empreste-me depois da Missa da Ave-Maria! Eu leio de noite e lhe trago antes da Missa das seis!

Após insistências mil, nas quais a mulher ia chegando cada vez mais perto do Padre, este, com medo de “pecar”, disse-lhe, como que enfeitiçado, que lhe emprestaria após a Missa e pediu-lhe que ela se retirasse da Sacristia, pois já estava na hora de preparar-se. Ao ver-se só, rezou: “Demônio, afasta-te de mim!” Benzeu-se, pôs os Paramentos e foi rezar a Missa.

Os fiéis pensaram que o Padre estava doente: a Missa foi rezada de modo atabalhoado, o Padre gaguejava e se atrapalhou com a ordem das orações. Com o canto de olho, via que a mulher sorria, maliciosamente para ele, com as pernas cruzadas, em plena Missa!

Após a Missa, ainda nem havia retirado os Paramentos, lá estava ela:

– Padre... o Missal!...

O Padre, trêmulo, foi até o Altar e trouxe-lhe o Missal. Ela segurou as mãos do Padre e olhando-o fixamente, perguntou-lhe:

– Como posso lhe pagar tamanha gentileza?...

O Padre desconversou e pediu que se retirasse. Passou a noite rezando, ajoelhado no chão frio, em penitência.

Chegou a hora da Missa. Bateu o sino, colocou os paramentos e... “sua bela tentação loura”, nada! Simplesmente, depois de quase um ano, ela não foi à Missa. Como ele iria rezar sem o Missal grande, que ficava sobre o altar?? Alguma parte, sabia até de cor, mas... com o Missal pequeno, de uso particular de suas devoções, ficava difícil para enxergar, mas, mesmo assim, rezou a Missa!

Passou-se toda a manhã e nada de sua “tentação” trazer-lhe o Missal. Na hora das confissões, ela não veio. Na Missa das 18h, também não. Lá foi o pobre Padre rezar lendo no Missal pequeno, mas enxergava pouco, e ficava difícil ler as letras miúdas! E a Congregação perguntando:

– Padre, cadê o Missal do Altar?

– Estou colando umas folhas que estavam soltas. Amanhã já estará em seu lugar! – Mas, pensava, “Eu estou mentindo para o povo! Nossa Senhora!...”

Não sabia o que fazer. Ligou para a casa da sua “tentação loura” e nada. Pediu ao sacristão, que estava com ele há poucas semanas, que passasse por lá e visse se a “senhorita” estava em casa. O rapazinho voltou e disse: “Tudo fechado! Mas tem luz lá em cima! Bati e bati, mas ninguém atendeu!”

Desesperado, o Padre resolveu ir até lá! Já era noite. Bateu. Nada. Bateu de novo, a casa estava toda às escuras, quando uma voz feminina, delicada e sensual se fez ouvir:

– Quem bate?...

– Sou eu, o Padre!

– Entre!...

E a porta, como em um passe de mágica, se abriu. Entrou. A porta se fechou atrás dele.

– Suba as escadas! Estou acamada!... Não posso descer!

O Padre ficou em dúvida, mas, em quase um ano, ela sempre se fizera presente, até que, agora, bem que poderia mesmo estar adoentada!

Subiu devagar a escada de madeira, que ringia a seus passos. No topo da escada percebeu, ao fundo de um corredor, uma porta semi-aberta, com uma luz bruxuleante!

– Padre, venha cá! Estou muito fraca para levantar!...

O Padre encaminhou-se para a porta, e o que viu, foi a visão mais bela que havia visto até então: A jovem mulher, deitada nua em uma belíssima cama de casal, à meia-luz, sobre uma colcha de pele negra e muito brilhante! O Padre olhou, extasiado, para tanta beleza! Cortinas vermelhas emolduravam o quarto; quadros enormes, pintados a óleo, daquela mulher lindíssima, estavam espalhados pelo enorme quarto: em todos eles, ela estava nua, em posições sensuais e provocantes! Como ela era bela!... O jovem Padre não conseguia se mexer. Sabia que devia sair correndo daquele lugar demoníaco, mas estava como hipnotizado, enfeitiçado, imóvel...

A mulher, consciente do que se estava passando, disse-lhe:

– Vem cá, Padre! Pega o teu Missal! – e apertava o Missal entre os seios, abraçando-o com volúpia! – Vem, não tenhas medo de mim...

– És um demônio! Mas... um demônio muito belo...

Ao aproximar-se dela, sentiu um perfume inebriante. Tentava pegar o livro e ela fazia que o iria entregar, e o escondia, ora sob as costas, ora sob as pernas, ora entre os seios...

O Padre contava, rubro, e pedia desculpas pelos termos que usava, mas parecia enfeitiçado, contando aquele conto de amor e, ao mesmo tempo, para ele, de horror! Continuou relatando, hesitante, que “havia pecado” e ainda por cima, o Missal, o livro sagrado, estava na cama, junto à consumação do pecado! Lágrimas escorriam por seu rosto ante aquilo que ele chamava de “profanação” do Livro Sagrado. Contou ainda que, após o prazer que lhe proporcionara o ato nunca antes experimentado, encheu-se de vergonha, arrependimento e temor! Pegou o Missal, vestiu a batina e olhou, pela última vez aquele corpo belo e nu, que parecia dormir suavemente. Seus cabelos louros cobriam-lhe a face e, num gesto tresloucado, afastou os cabelos do belo rosto da mulher, jurando ser esta a última vez que a tocaria! Qual não foi sua surpresa, ao afastar o cabelo, ver um rosto horrendo, demoníaco, completamente diferente do belo rosto que vira antes! Os olhos se abriram, vermelhos, muito vermelhos e ela ou “aquilo” deu um salto, soltando uma enorme e irônica gargalhada sinistra e ameaçadora.

– Pecaste, Padre! Sacrilégio! Agora és meu! Sucumbiste ao pecado da carne, e o teu Missal agora, manchado pelo pecado, nunca mais será o mesmo! – E a gargalhada se espalhou pelo velho casarão que ficou às escuras.

– Tua alma é minha! –continuou a ouvir em meio ao gargalhar!

O Padre, tateando saiu daquele lugar que agora lhe parecia o inferno, e correndo, pelas ruas escuras daquela noite suja, chegou até a sua Igreja.

Na manhã seguinte, quando as beatas chegaram para a Missa das 6h, encontraram a porta da Igreja entreaberta; cautelosas, entraram, pois ainda estava escuro. Ao acostumarem-se com a escuridão, viram o Padre caído ante o altar, abraçado ao velho Missal, tremendo e balbuciando palavras ininteligíveis, com febre, retorcendo-se na laje fria. As velhas senhoras, o levaram para seu quarto: ardia em febre. Cuidaram dele, por mais de semana. O Padre emagrecia a olhos vistos. Aos poucos, a febre passou, mas ele não se separava do Missal, parecia assustado e repetia, como um louco:

– Pequei, Senhor! Pequei, Senhor! Não sou mais digno de ser chamado Teu Filho!

Como o Padre custava a se recuperar, a Igreja estava sem ter quem rezasse a Missa, e o Prefeito foi falar com o vigário da Paróquia da cidade vizinha, que encaminhou um pedido ao Bispo para enviar outro Padre para o seu lugar.

O Padre que chegou, já era um Padre velho. Muito perspicaz, percebeu que o jovem tinha remorsos e medo, e não doença alguma, por isto o médico não pôde curá-lo. Ouviu-o em confissão e o aconselhou a ir embora, pois com ele, já trouxera sua transferência para outra cidade vizinha. O Missal voltou para o Altar, mas nele havia uma enorme mancha de sangue, que não saia por nada deste mundo. Mas, também não atrapalhava o velho Padre... Trocou-o por um novo e colocou aquele com as coisas do seu antecessor.

Juntando seus poucos pertences e, embora lembrando os livros que faltavam, mas achando o velho Missal sujo de sangue, decidiu leva-lo consigo, para que lhe lembrasse sempre o pacado da carne que cometera; despediu-se de sua congregação, notando que nunca mais aquilo que fora a bela e loura mulher havia aparecido na Igreja. Após a Missa e o almoço de despedida, perguntou à velha cozinheira:

– Dona Maria, onde está o sacristão, quero me despedir dele.

– Sacristão??... Mas, Padre, o senhor ainda continua doente: esta Igreja nunca teve sacristão!

O Padre, mais assustado ainda, ou pensando estar louco, saiu às pressas, não levando nem o farnel da galinha com farofa para comer na viagem. Seus passos, como por encanto, o levaram em direção ao velho casarão. Mas... onde estava o casarão? Havia ruínas de um antigo casarão, e o pasto alto atestavam que ali, há muito, não morava viva alma!... Persignando-se o Padre passou por ali e seguiu caminho, sem deixar de notar uma risada estranha e sarcástica a cantar-lhe no ouvido:

– Tu és meu, Padre pecador! Eu volto pra levar tua alma!... Padre pecador! Padre sacrílego!...Tu és meu! Voltarei para levar tua alma!...

O Padre se foi, apressado: nunca mais iria voltar àquele lugar...

Dez anos se passaram. O Padre era o Vigário de Santa Fé e continuava rezando suas Missas. Até que um dia, na Missa das 6h, ela apareceu...

O Padre, mais uma vez, desejou loucamente aquela mulher linda, deslumbrante e provocante! Pediu perdão a Deus e seguiu rezando a Missa. Ao término da Missa, ela entrou abruptamente na sacristia e, com uma doce voz, disse-lhe: – Padre , eu queimo de paixão! – O Padre persignou-se, decidido a não mais pecar. Virou-lhe as costas e foi tirando os Paramentos.

Com voz muito suave, ela lhe disse:

– Padre, “eu não pude estudar quando mais jovem! Quer ser meu professor”?...

– Vai-te visão do inferno. Não cairei mais em tuas artimanhas!

– Padre, “me empreste, então uns livros para que eu possa ler”! E o Missal, o velho Missal que lembra a nossa paixão!...

O Padre já sabia o que viria: tomando um frasco de água benta, jogou-o em cima da mulher, que, contorcendo-se de ódio, voltou a ter a face horrenda daquela noite ignóbil, e , em redemoinho, foi desaparecendo, nem por isso, deixando de proferir esta maldição:

– Nunca mais emprestes teus livros a ninguém! Se os emprestares a outra mulher, te amaldiçôo! Irás te apaixonar por essa mulher e isto é parte de minha maldição! Tu e ela irão morrer e... mais uma vida inocente, a quem ela mais amar, também irá ter o mesmo fim! Terrível fim, com morte lenta e sofrida! Assim te digo e assim será !! – e desapareceu sumindo pelo piso da sacristia e deixando no ar um odor de enxofre.

O Padre benzeu-se e foi rezar ao pé do altar. Cada vez que olhava o velho Missal manchado de sangue, sentia em sua alma uma dor terrível, a dor do pecado, da fraqueza humana, da traição a seus votos!

Mais dez anos ou mais vinte haviam se passado; o Padre já perdera a conta. Foi Transferido de cidade em cidade, mas levava sempre o velho Missal, até que um dia, em suas muitas mudanças, o Missal se perdeu. Não lhe passou pela cabeça nada de misterioso. O tempo foi apagando as lembranças ruins! Era alegre, bondoso, temente a Deus, vivia conforme mandava a Santa Madre Igreja, e tudo se perdeu no tempo...

Terminando a terrível narrativa, o Padre, lívido, parecia que iria desmaiar! Tremia e chorava.

– Vês, Maria Isabel, como eu sou o culpado de tudo??

– Mas meu bondoso e querido Padre, o senhor não está apaixonado por mim, por aí já sua Tese já vai “por água a baixo!...”

– Não, minha querida, não estou apaixonado por ti! É muito mais do que isso: eu te amo com toda a pureza que traz o amor, e, se não fosse Padre e tão mais velho do que tu, daria minha vida para que fosses minha esposa! Tu és a mulher que todo o homem gostaria de ter como esposa e companheira, pois, com tuas qualidades, és quase uma santa!

Maria Isabel levou um susto! Seria esta a explicação pela atenção e carinho do bondoso Padre? Mas a todos tratava tão bem?... E sentiria ela algo por ele que não fosse uma afeição apenas fraterna? Sua educação e postura religiosa jamais deixariam que outro sentimento encontrasse morada em seu coração em relação ao Padre que tanto amava...sim, que amava!... Persignou-se, entendendo pela primeira vez o sentimento do amor que lhe parecia apenas filial...

Ruborizada disse:

– Lamento, Padre! O Amor é cheio de renúncia quando é incondicional! E só é amor quando assim é.

– Eu sei, disse o Padre! Jamais te dei a entender coisa alguma. Nem ousaria perguntar-lhe se significo alguma coisa para ti!

Uma lágrima rolou pelo rosto de Maria Isabel... que viu, também o Padre, secar uma lágrima furtiva que rolava de seus olhos...

– Padre! Que iremos fazer?

– Enfrentar o demônio!!

Dito isto, pegou um grande frasco de água benta e, delicadamente, passou sobre a gatinha. No mesmo instante, o sangramento parou, e, embora sem as patinhas, a gatinha parecia não mais sentir dor e ronronou para o Padre.

Maria Isabel, feliz qual criança, disse:

– Padre, louvado seja! Minha gatinha não vai mais morrer!!

– Maria Isabel, onde estão os livros?

– Não sei... “Aquela coisa levou...”

– Volta para casa. Na noite de quinta para sexta-feira estarei lá contigo!

– Mas, Padre... eu moro sozinha!...

– Não te preocupes, não te farei mal algum, nem o demônio o fará!

Maria Isabel levantou-se, atordoada com tantas revelações! Abraçou-se à gata e foi para casa.

Os livros do Padre haviam desaparecido. A gatinha, sem três patas, mas já cicatrizadas, permaneceu em sua caminha de vime, com água e ração. Arrastava-se até a “caixinha de areia”. Tudo calmo. Estranhamente calmo... Terrivelmente calmo!

Quando chegou a noite de quinta-feira, pelas 21h, o Padre chegou. Trazia um crucifixo, um frasco com água benta e o Missal do Altar.

Ao entrar, benzeu toda a casa, recitando orações em latim, que Maria Isabel desconhecia. Maria Isabel percebeu que, pouco abaixo do Crucifixo que o Padre trazia ao peito, havia uma medalha de São Bento! Depois das orações, o Padre sentou-se na velha poltrona, no quarto de Maria Isabel e disse-lhe:

– Podes dormir, minha filha: a luta é do demônio comigo!

– Mas, Padre!...

– Deita-te e reza. Dorme.

Com o silêncio, segura pela presença do Padre, e depois de noites insones, Maria Isabel, cansada, adormeceu. De repente, acordou-se com um grito! Era a terrível mulher loura, só que desta vez jovem, bonita e nua, pendendo de seu pescoço um cordão roxo, com as três patas cortadas de sua gata! O Padre estava de pé, levantando alto o Crucifixo de madeira. A gatinha estava encolhida, na cama, ao lado de Maria Isabel, que viu em seu pescoço e no pescoço da gata, uma medalha de São Bento, cheia de inscrições junto a uma cruz. Ela e a gata estavam cobertas por gotas de água, que ela percebeu logo ser água benta.

A linda e loura mulher nua fazia trejeitos ondulados, como se fosse uma serpente, e falava várias palavras convidativas ao amor. Mas o grito que ouvira, era do Padre!

– Vai-te para o inferno, demônio! O pecado é lindo, mas seu gosto depois de praticado é amargo como fel! Vai-te, em Nome de todos os Santos, São Bento e Nossa Senhora!

– Só irei depois de levar comigo vocês dois e este gato, que terminarei de matar hoje!

– Vai-te para o inferno! Tua maldição acabou! Eu encontrei o Amor e não pequei, porque ela tem a alma pura, a alma de um Anjo! Jamais iria maculá-la! Vai-te com teus demônios, seres das trevas!

Mas o demônio em corpo de mulher lutou com o Padre: esbofeteava-lhe o rosto, derrubava-o e subia sobre ele, com seu corpo insinuante e convidativo!

– Beija-me! Eu te darei todos os prazeres do mundo da paixão! Eu te darei poder, riqueza! Abjura tua fé e teus votos! Deixa esta tonta, que nunca poderá te dar do amor o que eu tenho para te dar!

– Vai-te Satanás, dizia o Padre, que parecia extenuado com aquela luta desigual, que o machucava com pontapés em órgãos vitais entremeadas por palavras lascivas e promessas de um gozo carnal sem fim.

Em dado momento, o Padre, pegou o frasco da água benta de dentro de suas vestes e jogou sobre a mulher infernal, levantado o Crucifixo e a Medalha de São Bento e jogou também o Missal, com violência sobre a mulher que, em um terrível grito, foi-se transformando em uma enorme naja.

– O Missal profanaste! Mas ele te levará de volta para o inferno!

A naja enrolou-se, levantando seu pescoço viscoso que brilhava, mantendo nela penduradas as três patas da gata e preparou-se para jogar seu veneno no rosto do Padre, enquanto contorcia-se de dor!

Então, o Padre deu a ordem sagrada:

– Em Nome de Jesus Cristo, vai para o Inferno de onde saíste e não me atormentes mais! São Miguel, luta por mim!

O quarto foi banhado por uma intensa luz prateada. A naja, em urros terríveis foi sumindo no solo, até desaparecer por completo, deixando no lugar em que estivera, as três patinhas cortadas da gata, já putrefatas e o Velho Missal, cuja mancha de sangue desaparecera. A cama de Maria Isabel brilhava. Como por encanto, todos os livros do Padre apareceram.

Maria Isabel foi tomada por um torpor estranho, que a induziu a um sono profundo. Quando acordou, já era dia alto. Não poderia ir trabalhar, pois já estava na metade da manhã. Sua gatinha estava ao seu lado, com seus toquinhos de patas (apenas uma inteira!) mas parecia alegre e feliz! E o Padre?? E... o que mesmo tinha acontecido naquela noite??...

Correu para a Igreja. A velha senhora que lhe fazia a comida e limpava a Igreja, disse-lhe que o Padre estava acamado. Maria Isabel pediu para vê-lo. Entrou com a velha senhora no quarto, e viu o Padre deitado e, no lugar dos olhos do Padre, havia duas grandes feridas escuras...

– Padre!! Padre!! O que lhe aconteceu?

– És tu, Maria Isabel... Reconheceria tua voz pura e suave entre milhões de outras vozes!...

– Padre, o que lhe aconteceu?

– Minha querida, ninguém mexe com o mal e lhe fica imune! O demônio voltou para o inferno e não mais nos atormentará. Eu sei que fui perdoado! Mas todas as ações trazem conseqüências: o veneno da naja atingiu meus olhos; jamais poderei ver novamente, jamais poderei ver o teu rosto, mas ele está gravado dentro de mim... Meus olhos não doem, apenas ficaram destruídos: foi a conseqüência do mal que pratiquei. Já falei com o Bispo, por telefone, e ele me enviará para a Casa dos Padres Velhos, uma espécie de Mosteiro, onde lá terminarei os meus dias, em oração e em paz! Fica com todos os meus livros, não irei mesmo lê-los mais! Ficarás com a recordação de um amor puro, que foi “meu amor de salvação”... Dentro de vários livros meus e que te dou, encontrarás poesias que escrevi para ti, ao longo destes anos todos! Verás o quão puro é o meu amor por ti! Tu és para mim um Anjo, uma Santa, uma deusa! Jamais poderia macular este amor!

Maria Isabel chorava copiosamente! Ajoelhou-se ao lado da cama e o Padre a abençoou. Ia saindo, em silêncio, quando o Padre tornou a dizer-lhe:

– Minha querida e meu amor, junto a Deus, tu me deste força para vencer a tentação e vencer o demônio! Leva os livros todos. Sei que cuidarás deles e os lerás! Não tenhas medo! O demônio foi vencido!...

Maria Isabel disse-lhe que voltaria para buscar os livros. E saiu da Igreja chorando...

Dias depois, um carro da Igreja veio buscar o Padre, e outro Padre jovem veio para ocupar o seu lugar. Nunca mais se soube do velho Padre...mas todos os dias, como por encanto, Maria Isabel encontrava uma nova poesia entre os livros que dele ganhara! Nunca mais voltou à Igreja: não suportaria ver outro Padre rezar a Missa em seu lugar... E os anos foram passando...

Um dia de sábado, veio o novo Padre à sua casa e pediu para entrar; disse-lhe que o velho Padre do lugar havia falecido. Mas, antes de falecer, o “Padre Cego”, como era chamado na Casa dos Padres, pediu que entregassem a Maria Isabel uma corrente com uma medalha de São Bento, que sempre ele carregara no pescoço e jamais havia se separado dela. Entre lágrimas, Maria Isabel recebeu a medalha e a colocou no seu próprio pescoço. Sua gatinha, já bem velha, arrastou-se até onde ela estava e começou a ronronar... Também o Padre lhe entregou um envelope, amassado, que seu antecessor havia enviado para ela. Após o Padre sair, Maria Isabel, trêmula, abriu o pedaço de papel, escrito com a letra de seu amigo, mas inclinada, torta no papel, letra de quem escreveu sem enxergar. Dizia:

“Maria Isabel: és a luz dos meus olhos! Teu rosto de Anjo e Santa levarei comigo! És meu “amor de salvação”!... Na eternidade nos encontraremos...

Com o meu mais puro e eterno amor...”

Durante os dias seguintes, Maria Isabel não foi trabalhar. A casa permanecia fechada. Conhecidos, resolveram arrombar a porta, e encontraram a mulher ainda com traços bonitos, mas já não tão jovem, caída no chão, morta, sorrindo, com um papel amassado em uma das mãos; tentaram ler, mas as palavras estavam borradas. Talvez de lágrimas. Ao seu lado, sua gatinha “torta” como a chamavam, estava morta também. Maria Isabel morrera sorrindo... parecia tranqüila e feliz... Mas, seus livros, todos, haviam desaparecido de sua estante... Nenhum sinal de arrombamento, nada havia desaparecido a não ser os livros, o corpo não sofrera nenhuma violência e parecia estar feliz, pois sorria.

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Daí a algum tempo, o novo Missal da velha Igreja havia desaparecido do altar... e o Padre, que agora já não era novo no lugar, rezou a Missa nervoso, trocando partes da cerimônia e palavras... parecia doente e febril...

...........................FIM.....................

Nota da autora:

Qualquer semelhança com fatos ou pessoas, vivas ou mortas, são mera coincidência.

ESPERANÇA
Enviado por ESPERANÇA em 23/03/2008
Reeditado em 13/07/2012
Código do texto: T913687
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