À sedução mortífera.

Mais uma morte.

De repente todos os seus medos haviam retornado e a vontade de fazer com que logo tudo se repetisse se tornava notoriamente voraz.

Cabelos castanhos, olhos pequenos e negros, pele branca e aparência frágil. Era ela. Era a próxima.

Sem muito esforço ele conseguiu conquista-la e deixa-la inteiramente a sua disposição; mas é lógico que ele conseguiu! Quando em sua história isso não teria sido possível? Todo o charme de seus olhos, toda a sedução de suas palavras e o jeito singular como ele movimentava o corpo fazia qualquer pessoa se encantar com aquele ar de mistério doce que ele emanava.

Sutilmente ele a deixava mais e mais dependente de sua presença fazendo com que isso alimentasse sua sede de sangue, de medo. Ninguém, absolutamente ninguém, sabia o motivo pelo qual todas as outras pessoas que passaram por seu caminho haviam desaparecido; por incrível que possa parecer, o jeito ímpar dele despertava a simpatia absoluta dos que o conheciam e ninguém era capaz de imaginar que ele faria algum mal a qualquer outro, embora com aquele ar noturno.

Ela já estava inteiramente dependente; dependente de maneira obsessiva e da principal arma que ele tinha: seu sexo. Era exatamente isso fazia para saciar seus anseios psicopatas e terminar – como sempre – solitário. Ele caminhava sozinho no mundo independente de qualquer outra coisa. O fim mais uma vez estava próximo, bastava que a próxima noite de luxúria chegasse.

Sábado, dia quatro de agosto. A noite se aproximava e os planos maquiavélicos borbulhavam em sua cabeça. Era noite, ele conseguiria concretizar o que pretendia desde o dia que havia visto aquela mulher. Entre todos os gemidos altos e cheiro de sexo vulgar, as coisas foram se desenrolando de maneira comum até que ele decidiu que seria a hora. Ele a matou. Dominado pela vontade intensa de dominar, ele o fez. Sua alma queimava.

Violou seu secreto;

Sufocou-a;

Abriu sua carne;

Derramou seu sangue;

Cortou sua língua;

Estripou seu âmago;

Destruiu-a;

Sua alma queimava.

Nada era capaz de provocar tamanho prazer que não ver o desespero nos olhos amedrontados de suas vítimas, ver o lençol ensopado de vermelho-vivo, de sangue inocente. Ele amava; ele a amava. Era sua forma de demonstrar e de fazer com que seu amor se eternizasse.

Os demônios o esperavam à porta. Era o pagamento. Era a porta. Eram os fantasmas. Eram os pesadelos. Era o fogo que não queimava. Era mais uma luz que se apagava. Eram as vozes graves. Era a pergunta, era a reposta, era a cobrança. Eram as trevas.

Saindo do quarto completamente revigorado e vívido, ele encontrou seu medo mais uma vez, na verdade, o único momento em que não tinha medo de tudo era quando tinha, de fato, alguém a sua mercê e podia concretizar os desejos de sua mente debilitada; ele se sentia seguro assim. Depois disso, o silêncio exterior e a gritaria interior o feriam; mais uma vez a luz se apagava e o demônio que morava em seus lábios sedutores se calava. Era o momento de reflexão. Reflexão? O que ele refletia? NÃO! Era o momento de começar a caçar novamente, de procurar sua próxima vítima desesperadamente antes que sua virgindade espiritual fosse estuprada por sua insegurança devastadora.

Ele era assim, não tinha escolha. Não existia um “talvez ele mudasse”, isso não aconteceria nunca, mesmo que ele quisesse. E por que ele mudaria se, de certa forma, era assim que se sentia completo? Por que abandonaria a crueldade total e o gelo de seu sangue; aquele que petrificava as veias? Seu olhar era mortífero e sedutor e fazia com que todos quisessem o amar. Sentir-se inapelavelmente desejado era sua obsessão venenosa e ele não quebraria esta cadeia.

Caçando incessantemente.

Caçando incessantemente.

Caçando incessantemente.

Caçando incessantemente.

Cabelos loiros e ondulados, olhos marrons, pele branca e aparência frágil. Era ela! Aquela mulher que passava na rua emanando sexualidade por seus poros. Era ela. Ela. Ela seria a próxima vítima. O medo se dissipava mais uma vez e ele novamente mergulhava em suas trevas a procura do êxtase da vida.

Sedução;

Dependência;

Possessão;

Obsessão;

Sexo;

Morte;

Era sua vida, era tudo o que tinha.

Caçar.