No calor da noite
Minha primeira experiência de conto sob efeito de álcool, espero que gostem e façam diversas interpretações.
Andava por vielas estreitas, sentia as sombras noturnas a vigiar-me. Vinham-me à mente as lembranças de lendas aterrorizantes que ouvira durante a infância. Povoavam minha cabeça imagens de pessoas mortas, mutiladas, degoladas, torturadas e submetidas a outros infortúnios.
Parei em um canto, vomitei. A bebedeira daquela noite havia sido demasiado exagerada. Continuei andando e encontrei um mendigo que me disse:
- Vejo que tu tens segredos, posso ajudar-te.
- Não sei de que falas, vou-me embora.
- Fica, podemos ser amigos.
- Conhece alguma rapariga com quem poderia satisfazer-me esta noite?
- Tu compreendes-me agora, pelo que vejo. Segue-me, mostrar-te-ei um universo de prazer.
Aquele homem sujo me guiou por ruas e becos estreitos e escuros, dizia que havia um lugar secreto que esperava por mim. Chegamos a uma porta, ordenou-me que lá entrasse. Obedeci. Naquele profano recinto dezenas de damas dançavam nuas, exibindo volumosos seios, tentando-me. Meus instintos dominaram minha mente – Ah! Como quero possuir essas senhoras – pensei. – Tens de pagar o preço – disse o mendigo – Pagarás com tua alma. Assustado, mas ao mesmo tempo dominado pela vontade de foder, concordei. Meu anfitrião exibiu uma folha de aparência antiga e disse:
- Esse é o contrato, terás prazer, porém pagarás, mas não te arrependerás.
Assinei com gosto, só ouvia a voz de meu pênis ereto e nada mais. Ao terminar de rabiscar aquilo que seria minha assinatura, ouvi vozes rodeando-me, nuvens erguendo-se, gargalhadas que não mais paravam torturavam-me. – Tolo! – berrava o mendigo – infinitamente tolo! Vendeste-me tua alma, pertences a mim agora, tudo que eu desejar, tu farás e não retrucarás.
Antes que eu pudesse pensar, vomitei de novo, só então me dei conta do que havia acontecido, havia vendido minha alma. Seria feito de mim o que bem entendessem. Subi para um quarto com uma prostituta, aproveitaria ao máximo meus últimos momentos de vida. Enquanto trepava com a dama da noite, sentia uma navalha cortar meu pescoço, não tinha mais consciência do real e do irreal. Enquanto minha vida se esvaía, fervilhava em prazeres imensos que nunca antes havia imaginado, e com o gozo blasfemo, adormeci, sem saber onde acordaria e se vivo estaria.