O Ataque dos Coelhos Verdes

Parte 1 - Os coelhos e os tratores.

Era um pacato vilarejo no interior do estado de São Paulo, isolado de tudo e de todos, onde os habitantes levavam uma vida tranqüila e simples, iam para a Igreja, cultivavam plantações e criavam seus animais. Curioso era o notável apreço que esses camponeses tinham por um bicho em especial: o coelho. Esses seres de orelhas e dentes avantajados, e olhos vermelhos como a pele do Demônio, exerciam uma enorme fascinação sobre aquela gente. Desde almoço de domingo a amiguinho das crianças, os coelhos eram uma peça fundamental daquele dia-a-dia campestre.

Em uma bela segunda-feira, avistou-se na colina um grupo de tratores. Gerônimo, o rapaz que tocava o sino na igreja apressou-se em sair gritando aos quatro cantos:

- É o ataque dos demônios de Lúcifer! Corram, peguem suas tochas!

Todos permanecem imóveis apenas observando atônitos ao desespero daquele jovem, até que o padre local chega, dá um estrondoso tapa na cabeça do sujeito e diz:

- Bebeu de novo, não é filho da puta? Deus não gosta de lazarentos como você, espero que tenha uma cirrose que o faça vomitar sangue, seu filho do excomungado.

Após a cena, todos foram verificar do que se tratava a aproximação daqueles tratores. O motorista de um deles, que usava óculos escuros e possuía uma barba "Lemmy Kilmister", adiantou-se em explicar a situação:

- Bom dia caros senhores e senhoras, presumo que muitos queiram saber o que viemos fazer por aqui. Nós somos funcionários da "Little Boy Energy Co”.Nossa companhia trabalha com energia e tem planos de construir uma usina de energia nuclear por aqui. Não se preocupem, a natureza será totalmente preservada, sem acarretar nenhum prejuízo a vocês e a seu modo de vida, e o que é ainda melhor: Vocês todos terão empregos na usina!

Enéas, que sempre era o porta-voz do vilarejo disse:

- Bem, acho que não há nenhum problema, essa usina parece boa - e virando-se para seus conterrâneos - o que vocês acham? Alguém tem alguma objeção quanto a essa construção?

Todos afirmaram concordar, e logo os tratores seguiram seus serviços, enquanto aqueles humildes camponeses voltaram para sua calma rotina.

Parte 2 - De olhos vermelhos, e pêlo verdinho...

Cinco anos se passaram. A Usina finalmente ficou pronta, mas no vilarejo nada mudou, Gerônimo continuava alcoólatra, todos ainda apreciavam coelhos e a rotina mantinha-se a mesma. Talvez a único acontecimento significativo tenha sido a morte da vaca Gertrudes, que era querida por todos. Como prometido, foram fornecidos empregos para os habitantes do vilarejo, e com exceção do padre e de Gerônimo, todos largaram sua vida rural para trabalhar na usina, mas ainda continuaram a ser criadores de coelhos. O novo trabalho naquele estabelecimento acarretou no fim da agropecuária de subsistência, pela falta de tempo para esta. Assim surgiu a necessidade de se ir periodicamente à cidade em busca de comida. Essas idas ao mundo “civilizado” fizeram com que aqueles camponeses percebessem que o salário que recebiam não servia só para comida, e logo chegou energia elétrica ao vilarejo, seguida de água encanada, e até Internet! Após um tempo, todos as famílias já possuíam carro, televisão, computador, geladeira, microondas, etc. Curiosamente, o padre, que não quis o emprego na usina, também começou a adquirir bens, e mais que qualquer outro morador, até TV de plasma comprou, os boatos que corriam eram de que ele administrava uma rede de prostituição de freiras na cidade e que também comandava uma gangue de coroinhas traficantes de drogas. Mas os coelhos ainda eram amados, mesmo também ainda sendo almoços.

O advento da água encanada fez com que as pessoas se esquecessem de um lago próximo ao vilarejo, mesmo as crianças preferiam ir nadar na piscina do clube na cidade. Mas os coelhos, os famosos coelhos, cultivaram seu estranho hábito de nadar pela manhã, costume incomum, mas com que todos já estavam acostumados. O diretor da usina percebeu o abandono do local e, visando cortar gastos, ordenou que o lixo tóxico produzido pela usina fosse jogado diretamente naquele lago. Assim se passou durante um mês. Até que um dia os coelhos não apareceram para comer ou brincar com as crianças. No dia seguinte dois garotos, preocupados com os bichinhos que adoravam, foram até o lago procurá-los. A visão do lago foi chocante, aquele local lindo e limpo, que outrora fora um local de diversão e alegrias daquelas duas crianças, havia se tornado algo sujo, feio e mal-cheiroso. Os garotos se separaram na busca por seus amigos orelhudos, indo cada um para uma direção. Seus nomes eram Davi e Josué.

Josué, após pouco tempo de procura, viu uma moita se mexer, porém, ao investigá-la, não encontrou nada. Eis que ouve uma espécie de guincho, um som semelhante ao de um animal raivoso, mas que nunca tinha escutado nenhuma espécie de ser vivo proferir. Ao olha para trás ele vê! A visão do horror! O suor desce seu pescoço causando um estranho arrepio que, associado ao tremor de todo seu corpo, causa-lhe um pânico indescritível. A criatura que pairava à sua frente era aquilo que um dia fora o animal branco e amigável que alimentou a alegria do pobre garoto durante toda sua infância - Não, não pode ser! - pensa o garoto, mas era, um coelho, um coelho mutante. O animal possuía uma pelagem inteiramente verde, os olhos vermelhos, de doçura, passaram a expressar ódio intenso, as garras tornaram-se enormes e afiadas, os dentes pontiagudos, as orelhas fofas passaram a se assemelhar a chifres. Josué queria sair correndo. Sim! Como ele queria! Mas o pânico que tomava conta de sua mente era muito mais forte, seus únicos movimentos eram seus tremores de medo.

O coelho encarou firmemente a criança apavorada, tomou posição de ataque e, com um gesto certeiro, saltou sobre a cabeça de Josué, cravando os fatais dentes em seus olhos. O sangue jorrava por todos os cantos, enquanto aquele pobre menino tentava inutilmente arrancar aquela besta assassina de sua cabeça. As garras do mutante furioso perfuravam sua cabeça até atingir-lhe o cérebro, enquanto, usando as patas traseiras, partia os lábios do desafortunado em pedaços.

Do outro lado do rio, Davi, que ainda exercia sua busca em vão, ouviu os gritos escabrosos de seu amigo, berros de dor intensos e inimagináveis, ao mesmo tempo em que queria a todo custo saber o que houve com seu amigo, Davi sentiu o pavor correr espinha.

Parte 3 – Náuseas e Jesus

A necessidade de ir ao socorro do amigo falou mais alto. Davi correu desesperadamente até o local onde Josué estava, ao ver o corpo do companheiro no chão, sensações de horror, medo e tristeza misturadas com uma intensa ânsia de vômito dominaram o garoto. A cabeça de Josué havia se tornado apenas uma massa disforme envolta em uma poça de sangue. Seu corpo estava cheio de arranhões e mordidas, em sua barriga havia um buraco de onde pendiam suas vísceras, e seus braços estavam roídos até os ossos. O cheiro forte dos órgãos internos do cadáver misturado ao odor do lago poluído causou uma forte náusea em Davi, mas o rapaz teve de recobrar as energias à força, pois a sua frente surgiu o Demônio Verde, exibindo ódio insano e sede de sangue no olhar. A criança disparou a correr apavorada, o medo preenchia sua mente, seu amigo estava lá, dilacerado, mas não olharia para trás, precisava chegar ao vilarejo e avisar todos sobre aquele ser sedento de sangue e morte – Haverá mais deles? – pensava – Não, não pode haver mais, Deus não seria tão cruel conosco. Ao terminar esse pensamento, sentiu uma fisgada em sua perna direita e uma dor extremamente forte o dominou, seu corpo se espatifou no chão, aterrorizado, viu que sua perna fora arrancada, o sangue esguichava incessantemente enquanto um coelho mastigava aquilo que segundos atrás era parte de seu corpo.

Não! Davi ainda possuía forças! Ainda confiava no seu Deus e que se havia mais coelhos, era só aquele que estava devorando seu membro mutilado. Perseverante, o garoto se arrastou por vários metros deixando uma trilha de sangue atrás de si – Sim, meu Deus, confio em ti! – exclamava. Subitamente foi silenciado. O espetáculo de dor e desespero se iniciou de verdade. Guinchos infernais ecoavam por todas as direções espalhando a mensagem do horror, de todos os cantos surgiam coelhos, famintos por sofrimento. Mais uma mordida e uma horrenda dor, seu braço era arrancado, logo foi sua perna. Nesse momento já não sentia mais nada, a morte era certa, morrer devorado por coelhos certamente não era o futuro que Davi tinha em mente, mas não havia mais escapatória, logo já estava sentindo seu outro braço ser arrancado, estava banhado em sangue, sentia mordidas e arranhões em todo o restante de seu corpo despedaçado, – Quantos deles há? 10? 20? Ou mais? Prefiro não pensar, vou apenas morrer em paz – pensou, de qualquer maneira não conseguiria ver quantos animais lhe massacravam, pois nesse instante um coelho arrancou seus olhos. Bastaram poucos segundos para que aquele jovem não tivesse mais vida, havia sido totalmente desmembrado e logo todos seus pedaços seriam provavelmente devorados. Não teria sequer um enterro digno.

Enquanto um espetáculo de sangue acabava de se desenrolar nas redondezas do “lago tóxico”, a maioria das pessoas estava em seu horário de trabalho na usina, as crianças estavam em casa, em sua maioria jogando videogame, e um grupo de senhoras conversava fogosamente sobre a mais recente notícia do vilarejo: o padre havia sido visto saindo do confessionário com duas mulheres dotadas de volumosos seios e glúteos definidos, diziam também que uma delas era travesti.

Logo era hora do almoço, todos foram alegremente para suas casas comer e assistir o noticiário do meio-dia. Meio-dia e treze minutos o sino da igreja toca, Gerônimo mais uma vez havia se embriagado e esquecido a hora certa de tocá-lo. O pai de Davi, cujo nome era Prometeu, teve uma desagradável surpresa ao chegar em casa, seu filho, que nunca se atrasava para nenhuma refeição não estava em casa, avistou algumas crianças jogando pôquer ali perto e lhes perguntou se sabiam algo sobre o menino, estes lhe disseram que ele, junto com seu amigo Josué, haviam ido procurar os coelhos sumidos. Apressou-se em ir à casa dos pais de Josué, mas não estavam lá – Devem estar fazendo hora extra – pensou.

Prometeu contou a situação para Atena, sua esposa, e ambos foram até o lago em busca das crianças. Apesar de uma visível preocupação, a hipótese que primeiramente vinha à cabeça dos dois era que os garotos haviam simplesmente se empolgado nas brincadeiras e se esquecido da hora. Não imaginavam que caminhavam para um verdadeiro teatro de horror.

Ao se aproximar do lago o cheiro nauseante já lhes afetou os sentidos, o cheiro estava muito mais insuportável do que já era. Antes de progredir mais em suas buscas, eles escutaram algo. O guincho! Um ruído animalesco que nunca ouviram antes, um som que parecia expressar raiva e agonia. Assustaram-se, mas o medo que sentiam estava longe de ser proporcional ao show de pavor, angústia e dor que os aguardava. Em instantes apareceu em sua frente o coelho, o animal mutante pronto para tirar a vida de quem visse.

Atena temia pela sua vida, mas ela reconheceu aquele animal. Sim, por mais monstruoso que estivesse seu aspecto naquele momento, ela o reconheceu. E como não poderia? Aquele era o coelho preferido de seu filho, do qual ela ajudou a cuidar e alimentar com muito carinho e amor. Batizara a criatura com o nome “Jesus”. Tentou uma aproximação:

- Jesus! Ei Jesus! Sou eu! Atena. Lembra-se de mim? Eu te alimentei durante anos, cuidei de você, te dei carinho. Você está mudado, mas eu ainda gosto de você, fofinho.

O animal mudou sua feição de ódio, as palavras doces de Atena pareciam haver acalentado o bicho, afinal, eram mutantes, mas ainda possuíam sentimentos – Vê, eles são dóceis – disse Atena a Prometeu. Nesse instante, o coelho profere um ruído animalesco mais infernal do que qualquer barulho que já haviam ouvido antes, o ódio ressurge em sua face com intensidade dobrada, suas pernas traseiras dotadas de força extrema o projetam para a cabeça de Atena, e nela aquele Diabo tóxico crava os dentes.

Atena não chegou a ter tempo de gritar. As afiadíssimas presas de Jesus penetraram em seu cérebro instantaneamente, afetando para sempre o funcionamento do órgão. Os líquidos cerebrais vazavam, o sangue escorria cobrindo todo o rosto da pobre mulher, e os dentes rasgavam-lhe cada vez mais a cabeça. Sua inteligência e capacidade de raciocínio se esvaíam. Finalmente, após o espetáculo de sofrimento e tormento, Atena caiu imóvel no chão. Jesus havia lhe causado morte cerebral.

Parte 4 – Holocausto coelhal

Prometeu engoliu um grito de horror. Acabara de presenciar sua esposa ser brutalmente morta, e nada pôde fazer. Os olhos de fogo do coelho voltaram se para ele, que se pôs imediatamente a correr. A fera partiu em sua perseguição, e com seus terríveis e odiosos grunhidos, atraiu mais coelhos atrás de sua vítima. Logo Jesus e mais doze coelhos estavam à caça de Prometeu, que corria como nunca havia corrido antes. O suor escorria o rosto daquele homem, o medo dominava seu pensamento, na tentativa de se salvar se dirigiu até o vilarejo, sem pensar no erro que estava cometendo. Agora o inferno iria realmente começar.

O horário de almoço estava no fim, e naquele momento várias pessoas se dirigiam para a usina, quando avistaram Prometeu correndo desesperado e berrando:

- Corram! Salvem suas vidas! Os coelhos vão matar a todos.

Ao ouvir aquelas palavras todos pensaram que ele estava ensandecido e ficaram a observá-lo. Mas, perceberam o seu fatal engano quando viram aquele exército verde atrás de sua presa. Um dos animais saltou sobre as costas de Prometeu derrubando-o no chão, imediatamente os treze animais famintos por carne humana estavam sobre aquele que seria seu almoço. Os outros homens apenas observavam atônitos a cena. Os brados de amargura do pobre ser que estava sendo devorado vivo eram a mais pura trilha sonora do inferno. Esguichos de sangue projetavam-se para todos os lados. Logo os gritos cessaram anunciando mais uma morte. Quando os coelhos finalizaram sua macabra refeição, a única coisa que sobrou de seu alimento, foram ossos com alguns poucos restos de carne grudados, e um imensa e aterrorizante quantidade de sangue. E não era o suficiente para o apetite assassino daquelas criaturas atrozes, elas então se dirigiram ao vilarejo com a intenção de causar um verdadeiro holocausto.

Os trabalhadores, desesperados, correram para suas casas para salvar suas vidas. Os coelhos se dispersaram e se espalharam pela local em busca de mais aperitivos. A primeira vítima foi Enéas. O Porta-voz da cidade já era um senhor de idade, o peso dos anos não lhe permitiram correr o suficiente para salvar sua vida. Num golpe certeiro, um coelho abocanhou seu calcanhar, rompendo seu tendão. A dor causada foi algo inimaginável, algo que o pobre velho nunca chegou perto de sentir um dia. O ancião caiu bruscamente no chão, quebrando dois dentes, fazendo com que se engasgasse com seu próprio sangue. Com suas poucas forças restantes, virou-se de barriga para cima, fazendo esforço para se levantar, nesse instante coelho que o perseguia saltou sobre seu abdômen, mordendo-o ferozmente. O mutante assassino roia sua carne e penetrava em seu organismo lançando enormes porções sangrentas de carne triturada. Em poucos minutos, que para Enéas pareceram horas de extrema tortura, a besta assassina atingiu o estômago do homem idoso. Ao perfurar o órgão, jatos e jatos de sangue misturado com suco gástrico espalharam-se. O corpo inteiro daquele senhor tremia e se debatia em vão. Uma pura exibição de violência e selvageria ocorria ali.

Já não havia mais vida naquele corpo disforme, mas a fera infernal ainda não estava satisfeita. Após ter destruído o estômago, atacou o intestino com voracidade, o coelho então se deliciou com uma saborosa refeição de carne e bílis, seguida de uma adorável degustação de tripas.

Em outro canto do vilarejo, dois coelhos perseguiam implacavelmente um jovem trabalhador chamado Josias, este contava com o vigor de sua idade e conseguiu chegar a sua casa, mas então descobriu algo terrível: sua mulher havia ido para a cidade, deixando a casa trancada, e ele não portava as chaves. Sem saber o que fazer ele corre até os fundos da casa e pega uma pá, que era muito usada na época em que era agricultor. Após empunhar sua arma de defesa um coelho salta sobre ele. Agilmente, o rapaz desfere com toda sua força um golpe no animal, que voa contra a parede e cai desacordado. Exatamente o mesmo ocorre com a outra fera, que cai ao lado de seu companheiro. Aliviado, Josias se vira e vai em busca de abrigo. Pobre homem, não imaginava a tolice que havia feito. Seus golpes com a pá apenas estimularam ainda mais a fúria selvagem daqueles seres satânicos. A desgraça total era seu destino certo.

Os dois coelhos se levantaram e, simultaneamente, saltaram cada um sobre um ombro daquele que havia tentado os matar. Raivosamente, morderam as orelhas do infeliz, e juntos as puxaram. Aquilo fez com que a pele da cabeça inteira de Josias se esticasse para lados opostos, e rasgasse exatamente no meio, deixando seus músculos e crânio inteiramente expostos em meio a uma cascata de sangue. Os coelhos guincharam em um volume ensurdecedor, expressando sua satisfação. A dor e a visão do seu próprio couro caindo sobre seus ombros foram perturbadoras demais para o sujeito, que saiu correndo para qualquer direção e gritando incessantemente por socorro. Enquanto corria, seus carrascos continuavam sobre seus ombros, apenas se divertindo com sua agonia.

Simão, outro habitante local, havia conseguido se refugiar em sua casa, porém ao ouvir as súplicas por ajuda de seu companheiro, armou-se com uma faca e saiu para tentar salvá-lo. Ao ver a situação em que seu amigo se encontrava, o choque foi enorme, até então só havia visto o corpo humano daquela forma nos livros de biologia de seu filho. Ignorou a repugnância e o asco que tal visão causou-lhe e foi ao ataque. Correu na direção do parceiro, ergueu sua faca, concentrou-se – Vou matar esse desgraçado – pensou – esse ser só pode ser um enviado do inferno, tenho que matá-lo. Estava se aproximando, o golpe seria certeiro, partiria em dois aquele bicho maldito e depois acertaria o outro, daria certo, não poderia falhar, tinha a sua vida e a de seu colega em jogo. Estava a ponto de desferir o golpe, quando os dois coelhos pularam sobre sua cabeça, cravando as garras em seus olhos. Simão, desorientado, desferiu o golpe às cegas. Pobre homem. Queria salvar seu amigo, mas o que fez foi decepar sua cabeça, talvez sua “sorte” foi de que já não podia mais enxergar e não teve de presenciar tal cena.

Após isso, ambos os mutantes saltaram de cima do homem que haviam cegado, e ficaram por um tempo apreciando-o correr em círculos, desorientado e banhado em sangue. Quando se cansaram, um deles se lançou sobre o órgão genital da vítima, arrancando-o. O desventurado soltou um urro cavernoso e caiu no chão, gemendo de dor. Ainda teve capacidade de murmurar para si mesmo:

- Por quê? Por quê? O que eu fiz para merecer tamanho infortúnio? Espero que acabem logo com esse sofrimento, não agüento mais tamanha dor.

Os coelhos, como se tivessem lido sua mente, não o mataram, apenas foram embora em busca de mais vítimas, deixando-o para padecer em agonia. A Simão, com os olhos furados e o pênis mutilado, apenas restou ficar deitado esperando que sangrasse até morrer.

Parte 5 – Enquanto os coelhos dormem...

Pânico, medo, horror, destruição, desgraça, pavor, essas são apenas algumas palavras para descrever o sentimento que pairava naquele vilarejo. Todos os que escaparam do ódio bestial se esconderam em suas casas, até que os coelhos retornaram ao seu lago tóxico, mas sabiam que seria por pouco tempo, logo sentiriam fome de novo, e então trariam uma verdadeira representação do inferno àquele vilarejo de novo, até matar todos que ali habitavam. Não, não podiam permitir que sua vida fosse levada de forma tão indigna.

Ao se certificarem que não havia coelhos a espreita, vários moradores, incluindo Gerônimo, o bêbado, se reuniram e foram até a igreja, onde, por ser um lugar espaçoso, todos caberiam. Além disso, acreditavam que lá estariam sob a guarda de seu Deus. O local estava fechado, bateram na porta e o coroinha apareceu. O garoto estava suado e com o cabelo muito desarrumado. Pediram que chamasse o padre, ele pediu para que aguardassem um momento e entrou. Logo apareceu o padre, quando o viram, ninguém pode esconder o espanto que este lhes causou. Em sua batina havia um rasgo na região abaixo da cintura, por onde se projetava inteiramente pra fora seu pênis ereto. Um dos cidadãos presentes, corado de vergonha, disse:

- Padre, desculpe-me a intromissão, mas seria bom que o senhor desse uma arrumada eu sua batina.

O padre examinou suas vestes e logo percebeu o erro, que imediatamente corrigiu – Maldito coroinha, que gosta de coisas mais selvagens – pensava.

- Perdoem-me por esse erro, não mais ocorrerá, mas entrem, entrem, o que os fez virem todos juntos aqui?

O mesmo indivíduo respondeu:

- Você não viu padre? A cidade está infestada de coelhos verdes mutantes assassinos!

- Então é verdade mesmo! Hoje à tarde eu ouvi uns gritos e olhei pela janela para ver do que se tratava, e vi os tais seres, mas na hora eu achei apenas que havia fumado demais.

- Fumado demais? – Pergunta o cidadão espantado.

- Perdão, perdão, quis dizer “Bebido vinho sagrado demais”.

Uma freira que estava em um pequeno quarto da igreja, ouviu as conversas e foi ver do que se tratavam. A mulher estava entorpecida, e se esqueceu de cobrir os trajes em que se encontrava, ela vestia naquele momento suas vestes de sadomasoquismo, inclusive levava um chicote em sua mão. Quando as pessoas que estavam na igreja a viram, obtiveram outro choque. Gerônimo, que já estava bêbado, não se conteve e gritou:

- Esse padre é um filho da puta!

O padre, espantado com tal afronta, retrucou:

- Você está bêbado, meu filho, controle-se.

- “Controle-se” é o caralho! Você é um calhorda, um pulha, um rufião, você faz orgias aqui nessa igreja, aposto que essa freira se masturba com o crucifixo!

- Ora, seu sicofanta! Seu patife alcoólatra de bosta. Filho do tinhoso! Eu amaldiçôo essa sua alma pútrida!

- Pode amaldiçoar! Você não passa de um lixo de ser humano. Um miserável torpe, biltre e ordinário. Quando morrer, irá direto para o inferno, onde será empalado por Lúcifer.

Uma expressão de cólera dominou a face do padre, ele pegou um crucifixo que estava pendurado na parede e o cravou profundamente no lado esquerdo do peito de Gerônimo, e com o objeto retirou o seu coração. O rombo no corpo do homem embriagado, permitiu que suas artérias esguichassem sangue diretamente sobre o padre, fato que enalteceu ainda mais seu ódio. Mesmo já tendo matado o sujeito, não se conteve e cravou o crucifixo em sua barriga e retirou seus órgãos internos. Assim, sucessivamente, arrancou seu estômago, intestino, pulmão, esôfago, vísceras, etc. A cena fez com que dois espectadores vomitassem, tornando o odor do local ainda pior. O cadáver mutilado jazia no chão, envolto de seus órgãos estraçalhados. Um cidadão presente, enfurecido com tamanha brutalidade, berrou:

- Lazarento! Eu vou te matar!

Foi correndo na direção do padre, armado de uma faca que trazia consigo, mas escorregou na poça de sangue de Gerônimo, caindo de costas no chão. Mal tem tempo para pensar em levantar, e aquele representante de Deus já apressou em pisar brutalmente em sua cabeça. O homem sentia uma dor imensa, mas não teve forças para reagir, a cada pisada, seu crânio era afundado, até que sua cabeça explodiu, lançando longe os olhos, sangue e pedaços do cérebro esmigalhado.

Inconformados com aqueles atos de selvageria, os outros cidadãos presentes correram atacar o padre, com exceção da freira, que, ainda bêbada e drogada, encontrava-se sentada no chão se masturbando. Derrubaram o assassino no chão e lhe desferiram inúmeros chutes, quebrando seus ossos, esmagando seus órgãos e fazendo esguichar sangue de todas as partes possíveis de seu corpo. Parem! Em nome de Deus, eu vos suplico – gritava o padre, mas ninguém apresentava um pingo de compaixão por aquele ser repugnante. Mesmo após tê-lo matado, não pararam a agressão, o corpo do defunto tornou-se uma espécie de massa bizarra, nenhum osso, nenhum órgão externo ou interno estava mais inteiro, era apenas uma coisa desfigurada e asquerosa.

Realizar atitudes sumamente animalescas despertou naqueles cidadãos um sentimento que nunca haviam experimentado em suas vidas. O instinto animal, que vivia nas profundezas de suas mentes, surgiu de uma forma devastadora. Os homens atacaram a freira, que apesar de intoxicada não havia causado mal a ninguém, e a estupraram brutalmente, violaram seu corpo enquanto ao mesmo tempo a espancavam. Alguns homens, após forçá-la a lhes fazer sexo oral, algo que ela apreciava quando fazia por vontade própria, desferiam-lhe socos em sua face, quebrando seu maxilar, seu nariz, arrancando os olhos das órbitas, até lhe causar traumatismo craniano e levá-la a morte. O sexo continuou por um bom tempo, uma manifestação de necrofilia ocorria.

As esposas que estavam presentes, não sentiam raiva dos atos de seus maridos, mas sim, apreciavam-nos. Um verdadeiro delírio coletivo ocorria ali. A situação tensa e desesperadora, a morte iminente, a sensação de indefesa, tudo isso levou o desvairamento a todos que ali estavam. Após todos aqueles espetáculos sangrentos, a noite terminou com uma orgia selvagem entre todos os sobreviventes. A angústia tornava-se loucura, a morte tornava-se prazerosa. A vontade de sobreviver virava demência.

Parte 6 – Sobrevivemos! (?)

A orgia terminara, todos dormiram. Da insânia partiram para um longo e profundo sono. Estavam extremamente exaustos. Eis que um estupefato grito despertou a todos. Salomão, outro cidadão daquele infeliz vilarejo, acordou e viu os corpos das vítimas das atrocidades cometidas na noite anterior. A pintura da morte no chão, os corpos mutilados, os órgãos espalhados, sua única reação a tal terrível visão foi gritar. As reações todas foram de lástima, as lembranças daquela infame noite vinham à cabeça daquelas pessoas golpeando suas consciências. Como poderiam ter cometido aqueles horríveis crimes? Estavam realmente ficando loucos. Totalmente loucos! Precisariam agora realmente agir como pessoas civilizadas, não mais brigar entre si. Tinham que se unir ou virariam comida de coelho ou simples vítimas de seu sadismo assassino.

Recuperaram-se lentamente e reuniram-se, dessa vez planejariam uma maneira eficaz de salvar suas vidas. Restavam lá onze pessoas constituídas por quatro casais, e três homens solteiros. Havia mais pessoas que se mantiveram abrigadas em suas casas, mas era improvável que ainda estivessem vivas. Moisés, um bom planejador, tomou a palavra:

- Bem, eu tenho o seguinte plano...

Nem bem pôde terminar de pronunciar a frase quando o barulho de vidro sendo quebrado ressoou pelo recinto, e o barulho se repetiu várias vezes, todas as janelas estavam sendo quebradas. Eram os coelhos! As bestas verdes mutantes do inferno conseguiram adentrar o último local em os sobreviventes achavam estar seguros. Era o fim! Não havia mais esperança para aqueles seres humanos, só lhes restava rezar, numa vã crença de que seriam salvos por algum tipo de força superior. Grunhidos infernais, ensurdecedores, as criaturas satânicas entravam por todos os cantos. Dezenas? Não. Centenas delas. Os coelhos haviam se reproduzido, a mutação lhes havia dado a habilidade de procriar numa velocidade inacreditavelmente alta. Aqueles que logo seriam apenas um cadáver mutilado nem ao menos gritaram, apenas recolheram-se às suas inúteis preces enquanto os demônios verdes avançavam em suas direções para lhes selar o destino cruel. Os coelhos vinham de todos os lados, de forma que as pessoas se agruparam em círculo no meio da igreja, obviamente deixando aqueles que ficaram nas bordas mais vulneráveis. E foi nestes pobres diabos que os coelhos saltaram primeiro. Infelizes! Suas mortes agora eram realidade.

E eis que mais um cruel e sangrento espetáculo de sangue começava. Os coelhos eram inúmeros, saltaram sobre os corpos de suas vítimas cobrindo-os de mordidas em todo o corpo. As pessoas que estava no meio daquela carnificina apenas presenciavam a matança sem nenhuma possibilidade de reação. Orelhas, dedos, pedaços de órgãos rasgados, pus, ossos roídos, olhos, tudo isso voava para os lados. O feto de uma mulher que estava grávida virou aperitivo. Um tumor de um homem que tinha câncer e não sabia se tornou algo como um delicioso pão de queijo. Os restos de fezes que jorravam dos corpos se assemelhavam a trufas de chocolate. E todo aquela exibição gourmet era ornamentada com jatos e mais jatos de sangue.

O líquido vermelho que simboliza dor e morte era jorrado em tão incrível quantidade que as pessoas paralisadas no meio do massacre não podiam ver nada do que se passava ao seu redor, apenas uma cortina vermelha que se estendia em frente aos seus olhos e lhes sujava o corpo. Quando os gritos, os guinchos infernais e o sangue cessaram, aquelas que seriam as próximas vítimas agonizavam – É a nossa vez – pensavam.

O momento chegara, restavam dois homens e três mulheres, provavelmente os últimos daquele amaldiçoado vilarejo. Chegara seu momento de sentir imensa dor. E após sua morte? Aquelas criaturas malditas poderiam se espalhar por outras cidades, por outros estados, e até por outros países! Sua capacidade de reprodução era incrivelmente eficaz. Logo dominariam o mundo. Era o fim! Sim, seria o fim da raça humana.

Mas estranhamente, as milhares de mordidas que dilacerariam a carne e tirariam a vida não aconteciam. Moisés, que estava entre os sobreviventes, criou coragem e abriu os olhos. Então o que o viu era algo que não sabia se o alegraria ou o entristeceria. Além dos corpos violentamente retalhados, havia uma estranha e repugnante gosma verde cobrindo todo o chão. Moisés passou um tempo paralisado e após ter consciência do que estava presenciando disse aos seus outros companheiros:

- Ei! Olhem isso, é inacreditável.

Aqueles que esperavam a iminente morte perceberam que esta não veio e também se puseram a examinar o local onde estavam. Sim, era realmente inacreditável. A mutação pela qual os coelhos passaram foi brutal. Após lhes trazer o ódio e lhes transformar em bestas assassinas, a radioatividade derreteu seus corpos. Era o fim do pesadelo, os últimos cidadãos do vilarejo haviam sobrevivido! Confraternizaram entre si – Vamos embora daqui – dizia um – Nunca mais quero voltar para este local em minha vida – outros exclamavam. Saíram da igreja, o cenário lá fora era pavoroso, dezenas de pedaços de cadáveres espalhados por todos os lados, Moisés avistou seu carro, as chaves já estavam em seu bolso, todos entraram no veículo, o motor ligou sem problemas. Pegaram a estrada e rumaram para uma vida nova. Tudo aquilo pelo que tinham passado foi horrível, mas superariam, iriam começar uma vida nova, arrumar empregos na cidade, e alertar as autoridades sobre a usina e o lago tóxico.

Infelizes. Mil vezes infelizes. Não era o fim, não, não era. Na igreja, algo diabólico ainda ocorria, as gosmas verdes começaram a borbulhar e a se agrupar. Rapidamente, as feras derretidas se juntaram e formaram uma só. Daquela formação maldita, surgia um coelho, um único coelho. Um verdadeiro Satã, mas com orelhas ao invés de chifres. Uma criatura medonha, o ódio e a força de centenas de mutantes infernais concentrados em um só. O ser que surgia media aproximadamente 15 metros, ao surgir destruiu as estruturas da igreja, avistou o carro de suas presas em fuga e pôs-se a correr em sua perseguição. Inacreditável era a velocidade daquele coelho, nem o mais veloz dos carros poderia dele escapar. Moisés avistou-o pelo retrovisor – Não! Não! Por que isso acontece? Não merecemos tal infortúnio! – dizia. As outras pessoas no carro também se puseram a lamentar e a chorar. Realmente, não lhes havia escapatória. O coelho, com um simples golpe de sua pata traiçoeira, arremessou o carro com força em um poste. O impacto do choque foz com que o carro explodisse imediatamente. Dos desafortunados que lá estavam, a maior parte de seus corpos que se poderia encontrar era uma mão. A explosão os desintegrou cruelmente. Seus corpos sem vida, pareciam ter sido processados em um liquidificador. Espalhava-se pelo chão um verdadeiro suco de sangue e restos humanos.

Parte 7 – Um final e uma moral.

A besta gigante rumava para a cidade, dominada pelo insaciável desejo por sangue. Dezenas de vida já haviam sido perdidas, os coelhos já haviam causado extremas dores e desgraças, mas nada parecia satisfazer o ódio infernal daquelas criaturas, absolutamente nada. Parecia que a raça humana estaria fadada à extinção. Milênios e milênios de civilização. Grandes culturas desenvolvidas e tecnologias criadas, deuses inventados e guerras travadas. A raça que um dia dominara o planeta acabaria. Seriam vítimas de sua própria ambição e ganância. Uma idéia que parecia prática: “Jogue o lixo tóxico no rio, economizaremos dinheiro assim, a natureza que se dane”. Afinal, era só um pouco de água, que problema haveria naquilo? Pois é, mal sabiam os infelizes donos da usina que aquele local, que usaram como depósito de lixo, se tornaria o berço da destruição humana.

Olhos, vermelhos, dentes pontiagudos, garras afiadas, espumando uma espécie de gosma verde pela boca, lá ia o coelho ansioso para matar, mutilar, estraçalhar, decepar, fatiar, destroçar, e causar dor, muita dor! Ao ser avistado na cidade, o pânico foi instaurado, ninguém podia acreditar naquilo que via, alguns ficaram em estado de choque enquanto a maioria corria para salvar suas vidas. O mutante emitiu um guincho agudo e profano, e o que se seguiu foi o mais puro show de horror. Nada tão cruel havia sido viso antes pela humanidade. Nada! A besta maldita fazia mais e mais vítimas, as pessoas tentavam fugir, mas a criatura era infinitamente mais rápida e ágil. O coelho não se contentava em apenas matar, mas obtinha prazer também com a tortura. O ser infernal fazia com as pessoas as mais inimagináveis atrocidades. Pegou uma mulher que tentou se esconder atrás de um carro, imobilizou a no chão com uma de suas patas, e com a outra esmagou membro por membro, pernas, depois braços, até que restasse apenas um tronco envolvida em um caldo de pedaços de corpo humano destroçados. A infeliz ainda estava viva, o coelho avistou um bueiro e introduziu o que dela restou lá, e depois retirou, a passagem era pequena e apertada, a cada vez que lá a mulher passava, toda sua pele ficava ralada, pedaços de carne e músculos saltaram para fora, até que em um golpe final, o coelho arremessou a na luz de um poste, onde bateu a cabeça e lá ficou encaixada e sem vida, respingando sangue. Um velho que não conseguia correr devido à idade, foi agarrado pelo animal, e este, utilizando suas duas patas o esticou lentamente, ouvia-se osso por osso quebrando, músculo por músculo se rompendo, a pele e a carne rasgando, o homem gemendo e tremendo de dor e sofrimento, até que se partiu em dois pedaços, e o coelho o arremessou longe. A violência e ódio infernais daquele ser não poupavam ninguém, uma criança pequena havia se perdido se seus pais, e não possuía noção do que estava ocorrendo, não se preocupava em fugir ou se esconder. Era um garotinho, quando o coelho o avistou, ele estava defecando na rua, afinal, crianças não têm pudor para satisfazer suas necessidades fisiológicas. Um súbito impulso subiu à mente do ser mutante, por um momento, este teve uma noção de higiene e sentiu vontade de ver o ambiente limpo. Tomado pela fúria, agarrou o moleque e o esfregou em cima de suas fezes como se fosse um esfregão. Repetiu esse processo até que nada mais restasse da criança, fez dela uma porção de carne moída ao molho vermelho. E assim a besta prosseguiu sua rotina mórbida, lançando corpos mutilados ao ar e provocando uma verdadeira chuva sangrenta.

Estado de calamidade, o coelho já era notícia no mundo inteiro. As autoridades não tinham a menor idéia do que fazer. Os presidentes dos países mais poderosos se reuniram, e chegaram a uma conclusão: A solução seria uma bomba, ou melhor, A bomba. Após Hiroshima, a humanidade esperava nunca mais ter de ver o cogumelo da morte se formar novamente, mas era preciso, a explosão iria matar muitos, mas teriam de escolher entre a morte de milhares de pessoas ou da humanidade inteira. Assim então seria feito. A bomba seria fornecida pelos Estados Unidos. O artefato nuclear foi batizado de “Ugly Woman” e seria levada por um avião chamado “Granola Lesbian”. Não podiam perder tempo, em meia hora o avião já partiu levando a bomba. Ninguém soube explicar porque nos Estados Unidos já havia todo um sistema preparado para lançar uma bomba nuclear na hora em que fosse preciso, mas aquela não era a hora apropriada para se preocupar com tal fato.

Lá ia Granola Lesbian em direção ao coelho. A humanidade seria salva agora, aquilo não poderia falhar de forma alguma. O avião chegou próximo ao desgraçado, o piloto suava frio, suas mãos tremiam, o futuro da civilização estava em suas mãos, atingira a posição de lançar a bomba, já imaginava as pessoas o glorificando e o condecorando por ser o salvador de todos. Mas não, não era possível! O sistema do avião falhou, a bomba travou, a chance daquilo ocorrer era de uma em um milhão, mas aconteceu! Um arrepio percorreu seu corpo, o desespero foi tamanho que quase o fez bater o avião. Então um pensamento veio à sua cabeça. Se falhasse em sua missão, poderia ser o fim da humanidade, o coelho era tão rápido e infernal que poderia acabar com todos os aviões e bombas antes que pudessem ter outra chance de serem usados. –Vou ter de bater com o avião nesse maldito, é minha última alternativa – pensou. Respirou fundo, lembrou de sua família, amigos e de toda a humanidade que deixaria para trás, mas morreria por uma boa causa. Se agarrou no manche e iniciou a última manobra da sua vida. Voou a toda velocidade na direção daquele coelho blasfemo, quando estava prestes atingi-lo, o avião foi agarrado pela pata gigante e infernal do mutante. – Merda! Esse filho da puta vai me arremessar longe, a explosão não lhe afetará – pensava o atônito piloto. Porém, para a surpresa do corajoso homem, o coelho abocanhou o avião e o engoliu inteiro. Os sucos gástricos do coelho penetraram na aeronave e derreteram aquele valente ser humano que lá estava, matando-o instantaneamente. Mas aqueles líquidos ácidos vindos do estômago do animal afetaram também a bomba que, após alguns segundos, explodiu lançando pedaços de carne e caldos verdes a mais de um quilômetro de distância. Os poucos que sobreviveram à fúria bestial, morreram com o impacto e com a radioatividade. Finalmente, a raça humana estava livre da maior ameaça à sua existência que já pisara na face da Terra. Aquele vilarejo que foi palco de tamanho horror tornou-se um lugar esquecido e abandonado. Na cidade onde o coelho foi morto o mesmo ocorreu, dizem que até hoje seus pedaços estão lá, pois ninguém teve coragem de limpar o local. O tempo passou, mas a história ainda povoa milhares de mentes. Os mais velhos e sábios dizem: “Não será um meteoro, não será um dilúvio, não será ira de algum deus, não será um coelho ou animal nenhum, mas será o próprio homem que direta ou indiretamente acabará com sua própria raça, será o próprio homem que minará sua existência infame nesse planeta”.E após isso, algo mudou? Bem, a partir desse episódio, grande parte dos países passou a manter um arsenal nuclear preparado para emergências. Outras mudanças significativas? Nada, além do medo...

FIM (31/01 a 03/03/08)