O julgamento.
[...] Sentir a lâmina afiada e gélida da minha faca de rubis abrindo delicadamente seu pescoço tão sensual, observar o sangue deixar escarlate suas vestes brancas e ver seus olhos afogarem-se em um profundo poço de pavor e desespero me encheram com um prazer imensurável onde fiquei submerso, mesmo com aquele sentimento de repugnância que vinha sentindo, insistindo invadir-me uma outra vez... Já estava evidente entre todos que o sentimento que definia os meus era ASCO; contudo, vê-la imóvel ao pé da cama, de mãos absolutamente atadas, a minha mercê, me deixou feliz de forma bastante intrigante.
Ouví-la gritando e implorando por perdão acordou o 'eu desconhecido e aqueles outros tantos comigos' - que hoje sei conhecer tão bem - e os desejos em meus olhos deveras inocentes afloraram por si só.
MATAR!
MATAR!
MATAR!
Rasgar aquele pescoço tão atraente com toda a delicadeza e eficácia de um nobre francês, de um gentleman - certamente - se tornou minha pequena e retraída obsessão particular dentro do meu grande coração petrificado, miserável e enganoso. O que eu poderia fazer, senhores? Ela seduziu-me àquilo!
RASGAR!
SANGUE...
ESTRIPAR!
Sem piedade daquelas lágrimas insossas que já souberam me enganar e me sensibilizar tão bem; Vossa Excelência, eu não resisti.
CORTAR!
DILACERAR!
EMBEBEDAR-SE...
Sua dor e sofrimento me arrebataram à gargalhadas educadas e sem paixão; aquela paixão que eu afirmo aos senhores aqui presentes, já habitou o 'eu desconhecido e até os outros comigos'.
MATAR!
ESTRIPAR!
DILACERAR!
E se não por toda aquela força sentimental do amor, o que mais poderia pôr freio aos desejos daquele que, desesperado, tentou fazer o que nunca poderia ser concretizado?
Regozijo e alegria preenchem meu coração pacífico neste momento, senhores. Por mais que, adiante eu já não tenha certeza do futuro.
E você aí de olhos vidrados nestas palavras... Não me conclua um psicopata! Eu sou apenas um romântico perdido no tempo, tentando levantar vôo sem asas.
Você não vê? Não vê as borboletas pairando por sobre nós?
Não sinta o gosto da maçã, meu caro! Pode ser mais perigoso do que esta sua mentezinha medíocre possa imaginar algum dia.
*Pra você que nutriu meus sonhos psicóticos.