A Face de Deus

Em um milésimo de distração, olhei por trás dos olhos do Criador do universo.

E por instantes eternos fui nada e também parte de tudo.

Andei por todos os caminhos de todas as trilhas em todos os universos.

Fui todos os seres.

Desde os minúsculos micróbios que sobrevivem por escassos segundos até gigantes seres espaciais do tamanho de galáxias que vivem por incontáveis milênios em contemplação.

Nasci, cresci e morri incontáveis vezes.

Fui todos os seres de dimensões conhecidas ou não.

Fui a escama brilhante do peixe no mar abissal, o buraco negro sugando até a luz.

Fui o floco de neve, na língua da criança feliz.

Vi a luz de incontáveis luas banharem mais planetas do que a vida mortal poderia contar.

Minha barba é tão longa que me cobre e esconde.

Estava lá para ver o começo e para suspirar no fim.

Bilhares de centenas de abraços de amor e outras infinitas juram de vingança em meu caminho.

Os olhos do Criador piscaram e me vi em meu devido lugar.

A sala branca de paredes acolchoadas não me deixa machucar meu corpo enquanto me debato.

Minha camisa de força não deixa minhas mãos soltas, pois poderia arrancar meus próprios olhos durante as visões.

O Criador do universo tornou a abrir seus olhos e fui novamente arrastado.

Para o nada e o tudo absoluto.

Em algum lugar do universo, num determinado planeta, em um quarto de hospício.

Um doente começou a se debater, gritando algo sobre ser Deus.

Olhando por trás dos olhos do Senhor, senti seu sorriso.

Estava com ele não estava?

Fim.