Sensível

"Há uma ambição que introduz no espírito uma estupidez que nem mesmo a mais sincera oração pode curar".

Tratava o cotidiano como quem o faz com coisas que pagou para ter. E, para dar mais verniz ao absurdo, com um dinheiro que ganhou lambendo a sola suja da alienação mais voraz. Que a tudo mastiga sem ter os dentes necessários para.

Na caçamba das virtudes mais louvadas por uma espécie que não sabe nem o que é uma virtude, mesmo que com ela topasse no meio da rua, nem o que são louvores, ia todo dia sorrir ao diabo e masturbar Deus. E, sabia que nenhum deles existia, para deixar as coisas mais interessantes e desnecessárias.

Entrava em sua sala, sentava a sua mesa, de dimensões pornográficas, ainda que uma pornografia útil, cerrava a cara numa expressão de quem sabe o que está fazendo e que tem no mundo o favor de sua existência imprescindível, e terminava chorando copiosamente ao final do dia que não passava nunca, mas terminava lhe enterrando cada uma das fugidias verdades no rabo assado de tanto levar no cu.

De manhã, levantava da cama como que levanta de um caixão porque esqueceu que está morto e enterrado. Como Sísifo, nem o absurdo era algo para alcançar. E repetia o respeito pela merda toda que viria.

No final do mês, comprava a si mesmo com as mentiras embrulhadas em coisas que se acumulavam sem limites na falida residência que erigiu na alma liquefeita pela noção imbecil do que vale a pena.

E, assim avançava feliz e eufórico! Sim! Afinal, que disse que precisa ser diferente?