Mamãe está lá fora
Mamãe está lá fora.
Elvira acordou em seu quarto escuro, sentou-se na cama e prestou atenção nos sons noturnos. Teve a impressão de ouvir alguém chamar seu nome. Mas a casa estava em silêncio.
Lá fora, na rua, um carro passou em alta velocidade, o motor roncando loucamente. Depois vieram algumas vozes — bêbados conversando — que logo se perderam na distância, à medida que se afastavam.
Elvira já ia deitar-se novamente quando ouviu outra vez:
— Elvira.
A menina reconheceu a voz no mesmo instante. Era a voz de alguém que amava muito.
Mas havia algo errado.
A voz vinha da rua.
— Elvira.
Na inocência de seus cinco anos, a menina levantou-se da cama. Descalça, pisou nas tábuas geladas e foi até a janela.
O vento frio soprava lá fora, fazendo dançar as folhas secas pela calçada. Elvira subiu na cadeira encostada à parede e, com esforço, empurrou a cortina. A rua estava escura, iluminada apenas pela luz fraca de um poste distante.
Foi então que a viu.
Parada do outro lado da rua, quase fundida com as sombras, estava sua mãe.
Pelo menos, parecia sua mãe.
Seu vestido branco estava sujo e rasgado, os cabelos colados ao rosto pálido como cera. Mas era ela. A mesma voz suave, o mesmo sorriso que embalava seus sonhos.
— Elvira... querida... — sussurrou a figura. — Estou com tanto frio... me deixa entrar, meu amor?
A menina sentiu o coração bater forte. Queria correr até ela. Abraçá-la. Fazia tanto tempo... Mamãe tinha ido embora, dormido para sempre, diziam. Mas agora estava ali. Bem ali. Esperando.
— Abre a janela, filha... só um pouquinho... só pra eu entrar...
Elvira ergueu o trinco devagar. O ar da noite entrou, gélido, arrepiando sua pele. A figura se aproximou, atravessando a rua sem som, os pés mal tocando o chão.
— Isso... só falta uma coisinha, meu anjo... diz pra mamãe que ela pode entrar...
Elvira abriu a boca.
Mas não disse uma palavra.
Duas mãos firmes surgiram de trás dela, cobrindo-lhe a boca antes que qualquer som escapasse. Assustada, a menina foi erguida no ar. A janela se fechou com força, o trinco girando num estalo seco. As cortinas se fecharam num puxão.
Do lado de fora, a criatura soltou um urro agudo, cheio de fúria e dor.
Através do vidro embaçado, o pai de Elvira encarou a coisa parada do lado de fora — os olhos agora vermelhos, brilhando como brasas.
— Você não vai tê-la — disse ele, baixinho, para que a filha não ouvisse.
Então se afastou da janela, com a menina nos braços, enquanto a criatura lá fora desaparecia na escuridão da noite.