O ENTERRO PREMATURO

Eu estava morto.

Sim, eu estava no caixão.

Coberto de flores.

Senti o cheiro delas.

Tentei me mexer.

Não consegui.

Minhas mãos estavam cruzadas segurando um terço.

Tentei gritar.

Foi inútil.

Não saiu nenhum som dos meus lábios.

Meu Deus, o que fazer?

Eu devia estar no jazigo da família.

O motivo da minha pretensa morte?

Eu não sabia.

Estranhamente eu ainda respirava.

Acho que eu tive um ataque de catalepsia.

Tentei gritar de novo.

Inutilmente.

Ainda bem que dali a pouco eu morreria de verdade.

Já que logo o oxigênio acabaria.

Mas o tempo foi passando.

E passando.

E passando.

E passando.

E eu continuava vivo.

Tentei mover meu corpo.

Claro que não consegui.

E o tempo foi passando.

E passando.

E passando.

E passando.

E eu não morria.

Meu Deus, será que eu estava no inferno?

Maldição. - eu tentei gritar.

Nada.

Nada.

Nada.

Foi aí que eu entendi.

Eu estava no inferno.

Um inferno só meu.

Devagar me veio à mente quando eu matei a minha esposa.

Maldição.

E só pra ficar com o dinheiro dela.

Fiz de tal maneira que ninguém saberia que tinha sido eu.

Joguei-a numa rodovia super trafegada.

E agora eu estava ali, no inferno.

Só me faltava o diabo me aparecer.

Mas nem ele surgiu.

Aquele era o meu inferno.

E eu ficaria sozinho.

Eternamente.

De repente ouvi pancadas no meu caixão.

- João, João, agora que a gente soube que você sofre de catalepsia. Vamos tirar você daí, mas você vai ficar trinta anos na cadeia.

Suspirei aliviado.

Melhor ficar na cadeia trinta anos do que no inferno eternamente.

João Batista Dinardi dos Santos
Enviado por João Batista Dinardi dos Santos em 21/04/2025
Código do texto: T8314194
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2025. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.