A Noiva do Portão 13
por Bella Oliveira
Dizem que filmar à noite em estação abandonada dá azar.
Mas para a produção de Amores Eternos, era só mais um charme a ser usado no marketing. "Uma noiva morta vagando pela plataforma" — romântico e trágico. Perfeito.
A atriz que vestia o papel era Helena Duarte, 29 anos, olhos de tempestade e risada rara. No set, chamavam-na de "a noiva perfeita". Bela, intensa, dramática — como uma alma que ainda ama.
A locação era a Estação Ferroviária de Santo Elmo, desativada desde 1984. Envolta em mato e urubus, o local tinha um portão de ferro enferrujado com o número 13 pintado a sangue — ou algo parecido. Nenhum dos técnicos quis encostar nele.
Riram nervosos. “Só superstição.”
Naquela noite, Helena vestiu o vestido manchado com terra e sangue cenográfico. Os cílios pesavam. As mãos tremiam de frio e nervoso. O diretor gritou:
— Cena seis! A noiva caminha até o Portão 13!
Ela caminhou.
Câmera em movimento.
O som de trilho velho rangeu no escuro.
O vento assobiava algo estranho… como se chamasse por ela.
Mas ela não parou. O profissionalismo vinha primeiro. Foi até o portão, abriu-o com cuidado. O barulho foi… agudo. Humano.
O diretor gritou “CORTA!”… mas Helena não voltou.
A equipe correu até o local — e não havia ninguém do outro lado. Nenhuma trilha no barro. Nenhuma marca no vestido que foi encontrado dobrado sobre os trilhos.
A única coisa que ficou ali… foi o véu.
Desde então, toda atriz que aceita o papel de noiva nesse filme desaparece.
Nenhuma passou da gravação da cena seis.
E o Portão 13?
Agora vive trancado com correntes e fitas vermelhas.
Mas à noite… se você estiver por lá… pode ouvir o vestido arrastando no chão.
E a respiração de Helena, esperando alguém que diga:
— Cena seis… ação.