Hidden Quest
Júlia tinha quinze anos e era streamer iniciante. Sua audiência era pequena, mas fiel. Naquela noite, ela resolveu experimentar um jogo pouco conhecido chamado "Silent Echoes", um survival pixelado com estética retrô. Parecia inofensivo.
— Galera, esse jogo aqui é tipo um limbo com puzzles, vamos ver se presta — disse, enquanto ajustava o microfone.
O jogo começou de forma simples. Um personagem sem nome acordava em uma casa escura, sem memória. Mas, após vinte minutos, um detalhe chamou atenção: a planta baixa da casa era idêntica à casa da própria Júlia.
— Ué... que viagem — riu, desconfortável. O chat reagiu com emojis confusos.
No jogo, o personagem encontrava bilhetes escritos à mão. O primeiro dizia: “Não suba as escadas.”
No mesmo instante, um ruído ecoou no microfone: passos no andar de cima.
— Isso foi no jogo, né? — perguntou ela, olhando pra cima, nervosa.
O chat explodiu:
*Isso foi NA SUA CASA.*
*Tem alguém aí*
*A câmera tremeu!!*
Ela riu, tentando manter a calma, mas a voz falhou. Continuou jogando. Ao subir as escadas no jogo — contrariando o aviso — uma nova área foi desbloqueada. Um quarto com pôsteres iguais aos que estavam atrás dela. No chão, o corpo pixelado de uma menina ensanguentada.
O nome no bilhete seguinte: "Júlia Oliveira. 15 anos. Desaparecida em 2025"
O jogo travou. A câmera congelou por um segundo, depois voltou — mas agora, algo estava diferente. Atrás de Júlia, pela câmera, via-se uma figura parada no corredor. Pálida. Sem olhos.
Júlia não percebeu. Olhava o monitor, tentando fechar o jogo.
— Gente, que porra é essa? Isso... isso aqui tá bugado.
Um som grave atravessou os fones. Voz digitalizada.
“Você quis saber... Agora lembre-se.”
A live continuou por mais dez minutos com a tela preta.
Só o som da respiração ofegante.
Depois, silêncio.
No dia seguinte, o canal de Júlia foi banido. O jogo Silent Echoes desapareceu da internet. Mas quem viu a live, nunca esqueceu do último comentário antes do fim:
"Missão concluída com sucesso. Ela se lembra agora.”