Quando o Céu Desceu

Quando o Céu Desceu

A cidade de São Silvestre desapareceu em uma única noite.

Era uma cidade comum, encravada entre montanhas, com suas praças vazias à noite e seus moradores presos à rotina. Então, às 3h14 da madrugada, o céu desceu.

Não foi um fenômeno climático. Não foram nuvens baixas, neblina ou qualquer coisa que os meteorologistas pudessem explicar. Foi o céu de verdade.

Ele se curvou sobre a cidade como um teto invisível, obliterando estrelas e luzes, apagando até mesmo o som. Quando os primeiros raios de sol deveriam surgir no horizonte, não havia nada. Apenas um vazio imóvel, pairando a meros cinco metros acima das ruas.

Ninguém dentro da cidade jamais foi visto novamente.

A única evidência do que aconteceu veio de uma transmissão inacabada do rádio amador de um velho chamado Sebastião Nogueira. O áudio, recuperado por especialistas, durava apenas 42 segundos.

"Meu Deus… o céu… ele não é céu, ele é sólido… ele está respirando…"

"Algo está saindo de dentro dele. Mas… ele não tem dentro. Ele… é o dentro."

"Eles estão olhando… não, ele está olhando… e agora… agora ele nos viu."

O resto era apenas um grito distante, seguido de um som que os peritos descreveram como mil olhos piscando ao mesmo tempo.

Uma semana depois, os bombeiros que tentaram entrar na cidade relataram um fenômeno inexplicável:

Quando caminhavam em direção ao centro, suas cabeças começavam a arder. Não era dor, nem calor. Era um pensamento que não era deles.

Um bombeiro, desorientado, foi longe demais. Ele encostou no céu.

E naquele instante, desapareceu.

Os outros apenas ouviram um sussurro reverberando no ar, algo sem boca, sem origem, sem fim:

— "Eu ainda estou aqui."

São Silvestre nunca foi recuperada. Nenhuma imagem de satélite mostra mais seu território. A estrada que leva até lá está fechada, e qualquer um que tente se aproximar simplesmente desaparece antes de cruzar o perímetro.

Mas algumas noites…

Se você olhar para o céu por tempo demais…

Ele pode olhar de volta.

(Eduardo Andrade)
Enviado por (Eduardo Andrade) em 25/03/2025
Código do texto: T8293623
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