A Mulher do Corredor Negro
A Mulher do Corredor Negro
O hospital psiquiátrico Saint Atropos erguia-se como um mausoléu de tijolos enegrecidos pelo tempo. No quarto 616, um homem chamado Daniel Varner permanecia amarrado à cama, olhos fundos e lábios ressecados, balbuciando fragmentos de uma língua que ninguém reconhecia.
— Ele começou há três noites — disse a enfermeira Elena, ajustando os óculos. — Falava durante o sono, primeiro em inglês, depois… sei lá o que é isso.
O Dr. Alden Turner, psiquiatra-chefe, inclinou-se sobre Daniel.
— Daniel… você consegue me ouvir?
Os olhos do paciente abriram-se como se não houvesse carne suficiente para contê-los. Ele arfou e sibilou uma única palavra:
— K’thuun.
Turner franziu o cenho.
— O que significa?
Daniel tremeu.
— Ela acordou… Ela caminha por trás dos sonhos…
Ele engasgou, sufocado pelo próprio medo, e então, como se algo invisível lhe enroscasse a garganta, arquejou:
— Ela se alimenta da lembrança… Ela é a Mãe do Esquecimento!
O hospital estremeceu. As luzes piscaram. Na sala de controle, a câmera do quarto 616 caiu em chiados estáticos. Por um instante, a tela exibiu algo impossível: um corredor, negro como o espaço entre as estrelas, estendendo-se infinitamente atrás da cama de Daniel. Nele, um vulto feminino caminhava. Seu rosto era um vórtice de sombras.
Elena gritou. O monitor explodiu em faíscas.
Na noite seguinte, Daniel foi encontrado deitado em posição fetal, olhos arregalados, a boca murmurando nada. Não lembrava quem era. Nem quem o visitara em seus pesadelos.
Mas o Dr. Turner lembrava.
Porque agora, quando fechava os olhos, ele também via o corredor infinito.
E a mulher sem rosto.
A Mãe do Esquecimento viera para ele.
E ela nunca ia embora.