A Poeira Sob a Cidade
A Poeira Sob a Cidade
Em Lynvale, algo estava errado.
Era uma cidade tranquila, aninhada nas montanhas, onde as pessoas conheciam o nome de todos e os dias pareciam se arrastar calmamente. Mas, um dia, a poeira começou a cair.
No início, ninguém pensou muito sobre isso. Era um pó fino, quase imperceptível, que pairava no ar como cinza, cobrindo tudo em uma camada invisível. Mas logo se tornou mais denso, com flocos maiores, como pedaços de pele morta de algo que deveria estar muito longe.
A princípio, as pessoas atribuíam à poeira o desaparecimento das estrelas, embora nunca falassem disso. O céu, que antes era claro e aberto, agora parecia sombrio, quase fechado. O vento sibilava como se quisesse apagar o que havia ali.
As coisas começaram a mudar quando o pó tomou conta das ruas, invadiu as casas, se espalhou pelas portas e janelas. As pessoas começaram a notar que, dentro da poeira, algo mais estava acontecendo. Algo que não podiam compreender completamente.
Entre os flocos, surgiram formas. Não eram figuras definidas, mas pequenas esferas opacas, flutuando na brisa, como se fossem uma extensão do próprio pó. No início, as pessoas pensaram que eram apenas reflexos de luz, mas com o tempo, ficaram mais conscientes de que estavam se movendo.
Elas pareciam atraídas por algo. Ou talvez, elas estivessem apenas esperando.
Mas o mais estranho de tudo foi a sensação de que o ar estava mais denso, como se cada respiração fosse mais difícil. Os habitantes começaram a ter sonhos perturbadores, imagens de um espaço vazio, onde as formas familiares se distorciam, e algo profundo e antigo os observava.
No começo, as pessoas tentaram ignorar, mas quando começaram a desaparecer—um vizinho aqui, outro ali—não havia mais como negar. Não eram apenas os corpos que sumiam. Era como se algo estivesse se levando deles, arrancando suas identidades.
À medida que os dias passavam, a poeira se tornava mais espessa, e o céu, cada vez mais fechado. Os flocos maiores e mais pesados agora caíam com uma suavidade que lembrava o toque de algo vivo.
E foi então que eles perceberam. A poeira não estava apenas cobrindo a cidade. Ela estava absorvendo.
A cada dia, o vazio no céu crescia. Não era apenas a falta das estrelas, mas a sensação de que algo estava apagando a própria realidade. As esferas se aproximavam das casas, pairavam diante das janelas, se infiltravam pelas frestas nas portas. As pessoas sentiam um vazio dentro de si, como se estivessem sendo esvaziadas, deixadas para trás.
E, finalmente, na última noite, a cidade ficou em silêncio. Não havia som, não havia estrelas, não havia mais nada. O céu estava completamente fechado. A poeira agora se concentrava no centro da cidade, como se estivesse esperando.
Na manhã seguinte, ninguém estava lá.
Havia apenas uma rua deserta, coberta pela poeira. Não havia mais rastros de quem havia vivido ali, apenas uma sensação crescente de que o que restava era apenas um reflexo.
E, quando o vento soprou, a poeira começou a cair novamente.