O Pintor das Sombras

Na cidade de Ravenshade, havia um artista cujo nome ninguém lembrava. Suas pinturas não eram exibidas em galerias, nem assinadas. Elas apenas… apareciam.

Sempre à noite.

Nas vitrines das lojas, nos corredores dos museus, nas paredes de edifícios abandonados. Ninguém via quem as deixava, mas todos sabiam que eram dele.

Porque as sombras nas pinturas se mexiam.

As telas mostravam lugares comuns—praças, ruas, casas vazias. Mas em cada uma, havia sombras alongadas, humanas demais para serem erro de pincel. Figuras paradas nos cantos, sempre olhando para algo que não estava na cena.

E, aos poucos, as pessoas começaram a reconhecer os lugares.

Uma praça que existia na cidade… mas com um banco a mais.

Uma rua conhecida… mas com um poste de luz que ninguém lembrava de estar lá.

E então, começaram a reconhecer as pessoas nas sombras.

Primeiro, era apenas uma semelhança. Um homem que lembrava o dono da livraria. Uma mulher cujo perfil parecia o da garçonete do café.

Mas, dias depois, essas pessoas começaram a sumir.

E novas pinturas surgiam.

Com novas sombras.

Mais nítidas.

Mais próximas.

A cidade entrou em pânico. Procuraram o artista, mas ninguém sabia onde ele morava. Apenas encontraram um sótão abandonado, repleto de telas inacabadas…

E uma única pintura cobrindo a parede inteira.

Ela mostrava Ravenshade.

Cada rua.

Cada prédio.

Mas diferente.

As sombras estavam em toda parte.

E no centro da cidade… uma figura sem rosto segurava um pincel.

Naquela noite, a última pintura apareceu na praça.

Dessa vez, mostrava todos os moradores.

Suas expressões borradas, suas silhuetas sem vida.

E, na manhã seguinte… Ravenshade não existia mais.

A estrada que levava até lá terminava num campo vazio.

E ninguém lembrava da cidade.

Exceto por uma nova pintura, esquecida em uma galeria de outra cidade.

Uma tela que mostrava ruas silenciosas, prédios sombrios…

E algo se movendo dentro das sombras.