Departamento de Eficiência
A van preta, sem marcas de identificação, parou em frente ao portão gradeado por volta das duas da manhã. Ao fundo de uma alameda arborizada, uma mansão de dois andares em estilo vitoriano parecia aguardar os visitantes extemporâneos, todas as luzes apagadas.
- É aqui mesmo, Douglas? - Questionou Ben Murray para o homem entre ele e o motorista, segurando um mapa rodoviário aberto entre as mãos.
- Esse lugar é tão secreto que sequer aparece nas fotos de satélite - respondeu Douglas, dobrando o mapa. - Mas é aqui, sim.
- O que vocês vão fazer? - Indagou o motorista. - Espero aqui fora?
- Não - replicou Ben Murray. - Vou cortar o cadeado do portão e estacionamos em frente à casa. Pode haver alguma coisa lá dentro que valha a pena levar, além dos dados que viemos coletar...
Murray desceu da van e abriu a traseira, onde apanhou um alicate corta cabos de uma caixa de ferramentas. Munido do instrumento, foi até o portão e cortou a corrente do cadeado que mantinha o portão fechado. Depois de abrir o portão de par em par, guardou o alicate e reassumiu seu lugar ao lado de Douglas.
- Vamos, Miles - disse para o motorista. - Com sorte, conseguimos sair antes do nascer do sol.
- Não que isso vá fazer alguma diferença - riu o interpelado, dirigindo pela alameda. - É tudo nosso, agora!
- O chefe pediu para sermos discretos - recordou Douglas.
- Depois da porta arrombada, acho que podemos esquecer os bons modos - replicou Ben Murray.
A van parou bem em frente à escadaria de mármore que levava à entrada da mansão. O trio desembarcou, e começaram a descarregar mochilas pretas com os equipamentos que usariam para cumprir a missão naquele local. Finalmente, sob a luz da lua em quarto minguante, viram-se diante da porta de folha dupla da entrada principal.
- Vai ser uma pena ter que arrombar - ponderou Douglas, girando a maçaneta de cobre polido. Para surpresa de todos, a porta não estava trancada. Lá dentro, escuridão.
- Parece que saíram com tanta pressa que esqueceram de passar a chave - avaliou Ben Murray. - Bom, vamos usar as lanternas e achar o quadro de força, que deve ficar no subsolo. Depois, localizamos os servidores e copiamos os dados.
O saguão de entrada não dava nenhuma pista de que ali funcionava uma repartição secreta do governo. Parecia apenas a entrada de uma mansão antiga, com bustos de mármore sobre colunas e quadros a óleo nas paredes.
- Parece uma casa mal-assombrada - comentou Miles.
- E nós somos os fantasmas - replicou Ben Murray. - Bom, Miles você desce para o porão e liga a energia, enquanto eu e Douglas vamos achar a sala dos servidores.
- Tem certeza de que o quadro de força fica no porão? - Questionou o motorista.
- E onde mais ficaria? - Questionou acidamente Ben Murray. - Espero que não esteja com medo do escuro...
Miles resmungou alguma coisa inaudível e entrou por um corredor que levava aos fundos da casa. Ben Murray e Douglas seguiram na direção contrária, iluminando as portas com as lanternas.
- Poderiam ao menos ter colocado placas de identificação - disse Douglas.
- O segredo é a alma do negócio - filosofou Ben Murray. - Quem trabalhava aqui, obviamente sabia onde estava cada coisa. Mas nós vamos acabar descobrindo todos os segredos desse lugar...
Subitamente, todas as luzes se acenderam.
- Pronto, Miles já encontrou o quadro de força - deduziu Ben Murray.
- Aguardamos ele voltar? - Questionou Douglas.
- Ele nos acha - minimizou Ben Murray. - Vamos abrir todas as portas e ver o que tem dentro...
O primeiro aposento em que entraram parecia um laboratório de análises químicas, e não tinha ninguém. Circularam em meio às bancadas, tentando identificar que tipo de pesquisa era efetuada ali.
- Vamos mesmo precisar chegar aos servidores... aparentemente, nada do que se fazia aqui era de interesse do chefe - comentou Ben Murray.
- Tem que ter alguma coisa do interesse dele - insistiu Douglas. - Esse lugar aparecia em relatórios classificado como ultrassecreto.
- Era ultrassecreto e sequer tem uma cerca elétrica ou uma equipe de segurança? - Ben Murray ergueu os sobrolhos. - Estou começando a achar que é só um despiste...
Um estalo atrás deles fez com que se voltassem. A porta do laboratório havia sido fechada.
- Mas que diabos... - murmurou Ben Murray, correndo para a entrada e girando a maçaneta. Inútil, pois estava trancada pelo lado de fora.
- Cadê o Miles? - Questionou Douglas, subitamente apreensivo. - Se tem mais alguém aqui e ele não aparecer...
A pergunta ficou sem resposta, pois subitamente uma névoa espessa começou a descer das saídas de ventilação no teto. Antes que os homens pudessem reagir, foram nocauteados pelo gás.
* * *
Quando Ben Murray recobrou a consciência, descobriu que estava nu, amarrado à uma mesa cirúrgica. Ao seu lado, nas mesmas condições, avistou Douglas e Miles, que ainda pareciam desacordados. E, olhando sorridentes para eles, viu uma equipe de pelo menos doze cientistas, usando jalecos brancos sobre roupas escuras.
- Quem diabos são vocês? - Inquiriu Ben Murray, sentindo a boca seca.
- Acho que não está em condições de fazer perguntas, senhor Murray - replicou um cientista de meia-idade, usando óculos de armação preta. - Mas foi um erro ter vindo aqui, pois estávamos justamente esperando que nos mandassem uma equipe do tal... como é que vocês chamam? Departamento de Eficiência?
O grupo de cientistas caiu na gargalhada.
- Eles agora vão descobrir o que é eficiência de verdade - ainda ouviu alguém dizer entre risos.
Em seguida, perdeu novamente os sentidos.
* * *
A manhã vinha raiando quando os três homens acordaram no banco da frente da van, estacionada do lado de fora do portão da mansão, novamente fechado e trancado com um cadeado novo.
- A gente não devia ter dormido... - murmurou Miles, apalpando a nuca. - Credo, parece que acordei de ressaca...
- Estava tarde para voltar sem tirar um cochilo - minimizou Ben Murray. - Mas pegamos todos os dados, não é mesmo?
Douglas abriu a mochila aos seus pés e conferiu os HDs externos, contendo terabytes de dados dos servidores da instalação ultrassecreta.
- Está tudo aqui. O chefe vai ficar satisfeito!
- Vamos embora - comandou Ben Murray. - E depois dessa, vou ver se consigo nossa transferência para o turno do dia. Trabalhar à noite é insalubre...