O Quinto Coração
O Quinto Coração
Era sabido entre os médicos do Hospital St. Dymphna que a sala de arquivo do subsolo guardava mais do que apenas documentos antigos. Os corredores abaixo do hospital, úmidos e esquecidos, respiravam com um peso que ninguém conseguia explicar.
A lenda entre os funcionários falava de Pacientes Fantasmas—nomes que não constavam nos registros oficiais, mas cujas fichas apareciam do nada, escritas à mão com uma caligrafia trêmula. Uma em particular se repetia ao longo dos séculos.
Paciente 005 – Coração Aberto
Dr. Elias Roarke, um cirurgião renomado, descobriu a ficha uma noite enquanto revisava arquivos antigos. A folha era amarelada, mas o nome fora escrito recentemente, a tinta ainda fresca. Pior: o nome do médico responsável estava em branco.
Elias virou a ficha e sentiu o estômago revirar.
Cinco radiografias estavam anexadas. Todas mostravam o mesmo coração, mas pertenciam a cinco pacientes diferentes, separados por décadas. Um deles, de 1897. Outro, de 1923. O terceiro, de 1955. O quarto, de 1986. Todos mortos em cirurgias inexplicáveis.
A quinta radiografia não tinha data. Mas o nome do paciente fez o sangue de Elias gelar.
Elias Roarke – 2024
O telefone tocou, o som estridente ecoando pelo arquivo deserto. Tremendo, ele atendeu.
“O coração precisa continuar batendo, doutor.”
A voz era a sua própria.
Elias sentiu algo dentro do peito. Um peso, uma pressão crescente. Olhou para as radiografias e viu, horrorizado, que seu próprio coração estava mudando diante de seus olhos—contraindo-se, alterando-se, como se fosse um órgão muito mais antigo do que ele.
Ele não era o primeiro.
E agora sabia que não seria o último.