A Canção da Baleia
A Canção da Baleia
O mar estava calmo naquela noite. Um silêncio estranho pairava sobre a costa, onde o pequeno vilarejo de Blackwater dormia sob um céu sem estrelas. Pescadores haviam relatado algo incomum nos últimos dias—o oceano parecia... vazio. Nenhum peixe, nenhuma onda forte, nem mesmo o grito distante das gaivotas.
Então, ela apareceu.
Uma baleia colossal, encalhada na praia. Sua pele era de um negro profundo, marcada por cicatrizes que pareciam símbolos impossíveis, escritos numa linguagem esquecida. Mas não era isso que assustava os moradores. Era o fato de que a baleia ainda estava viva—mas não respirava.
O primeiro a se aproximar foi Isaac Moore, o velho faroleiro. Ele tocou a pele da criatura e sentiu algo pulsar sob seus dedos, como se a baleia estivesse cheia de uma correnteza invisível. De repente, um som escapou de seu corpo—não um canto de baleia, mas algo diferente. Um lamento. Uma melodia gutural e distorcida, como um coral de vozes desafinadas ecoando das profundezas do mundo.
Isaac caiu de joelhos, segurando a cabeça.
"O som... está dentro de mim!" ele gritou, antes de vomitar uma água negra e espessa.
Outros tentaram fugir, mas era tarde. O canto da baleia se espalhava pelo vilarejo como um veneno invisível. Primeiro, vinham as vozes sussurrantes no vento, depois as alucinações—imagens de cidades submersas, torres ciclópicas que se erguiam de um abismo sem luz. E então... veio a fome.
Os aldeões começaram a mudar. Suas peles ficaram pálidas, os olhos mais fundos. Deixaram de comer comida terrestre e passaram a beber a água salgada do oceano, rindo entre si como loucos.
Isaac, agora apenas uma sombra do que fora, observou enquanto os últimos resistentes eram arrastados para o mar por mãos que não pertenciam mais à humanidade.
Naquela noite, a maré subiu mais do que nunca, e o vilarejo de Blackwater desapareceu sem deixar vestígios. Apenas a baleia permaneceu ali, sua melodia agora se confundindo com o vento.
E, de alguma forma, no meio do silêncio do oceano... algo respondeu.