A Luz Está Errada

A Luz Está Errada

O cargueiro M/V Galatea perdeu contato com o mundo no dia 4 de agosto de 2027. A embarcação, que transportava maquinário industrial pelo Oceano Pacífico, enviou um único sinal antes do desaparecimento: um curto "Mayday", seguido por um ruído de fundo distorcido.

A Guarda Costeira japonesa foi a primeira a encontrar os destroços. O Galatea não havia naufragado — ele estava à deriva, intacto, sem sinal de sua tripulação. Apenas um detalhe destoava: todas as janelas da ponte de comando estavam negras, como se algo as tivesse queimado de dentro para fora.

Quando os primeiros investigadores subiram a bordo, encontraram algo ainda pior.

As cabines estavam reviradas, mas sem sinais de luta. Nenhum corpo, nenhum vestígio de sangue. Apenas roupas, ainda dobradas sobre os beliches, sapatos alinhados, relógios de pulso marcando a hora exata em que seus donos desapareceram.

No convés inferior, encontraram a sala de rádio. A tela do computador queimara até derreter, mas um caderno de anotações revelava a última mensagem do operador:

_"A luz... está errada."_

Então, veio a descoberta mais perturbadora.

A proa do Galatea estava coberta de um lodo escuro, viscoso, refletindo algo que não estava ali. Ao se aproximar, um dos investigadores, o oficial Tanaka, sentiu uma vertigem insuportável. Seu parceiro o ouviu murmurar algo antes de desmaiar:

— Eles estão na água.

Foram necessárias quatro pessoas para puxá-lo de volta. Seus olhos estavam arregalados, fixos em algum ponto distante do oceano. Quando voltou a si, Tanaka recusou-se a falar, mas continuou tremendo incontrolavelmente.

A análise da substância revelou algo impossível: não havia nada nela. Nenhuma composição química conhecida. Apenas uma presença, uma ausência, um vácuo onde a realidade parecia se dobrar.

Naquela noite, os investigadores acamparam no navio, planejando rebocá-lo ao amanhecer. Mas, quando o sol nasceu, o Galatea havia desaparecido.

A única coisa deixada para trás foi uma marca escura sobre as ondas, um reflexo silencioso de algo que nunca deveria ter sido visto.

E, em algum ponto do oceano, o eco de um sussurro continuava se espalhando pelas águas, na mesma frequência do último sinal de socorro:

_"A luz... está errada."_

(Eduardo Andrade)
Enviado por (Eduardo Andrade) em 13/03/2025
Código do texto: T8284095
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