A Porta Vermelha

Ninguém sabia há quanto tempo aquela porta estava lá.

O prédio do Instituto de Física Teórica era antigo, um labirinto de corredores esquecidos e salas trancadas. Mas, uma manhã, a doutora Helena Vasconcellos encontrou uma porta que nunca tinha visto antes.

Ela era de madeira, pintada de vermelho opaco, sem maçaneta ou fechadura. Apenas estava lá, no fim de um corredor que, segundo os mapas, levava a um depósito abandonado.

Helena perguntou aos colegas. Ninguém lembrava de tê-la visto antes.

Naquela noite, ela sonhou com a porta.

E no sonho, ela estava aberta.

O sono foi interrompido por uma vibração no celular.

Câmera de segurança: movimento detectado.

Ela franziu a testa. O alerta vinha do próprio Instituto. Curiosa, abriu o aplicativo e viu a gravação.

A câmera do corredor mostrava a porta vermelha se abrindo sozinha.

E algo saiu de dentro.

Não era possível ver nitidamente. A luz piscava, as sombras se alongavam de formas erradas. Mas havia algo ali. Algo alto e magro, que não andava, mas deslizava.

Então, a tela do celular escureceu.

E alguém bateu à porta do seu apartamento.

Helena congelou.

Ninguém jamais a visitava àquela hora.

O som foi repetido.

TOC. TOC. TOC.

Cada batida mais forte que a anterior.

Segurando a respiração, ela se aproximou da porta e olhou pelo olho mágico.

O corredor estava vazio.

Mas a batida continuava.

TOC. TOC. TOC.

Helena deu um passo para trás, o coração martelando no peito.

Seu celular vibrou novamente.

Era uma nova notificação da câmera do Instituto.

Com mãos trêmulas, ela abriu o vídeo.

Agora, a porta vermelha estava fechada novamente.

Mas no reflexo da placa de metal ao lado dela, dava para ver uma silhueta parada, olhando para a câmera.

Olhos brancos, vazios.

E, lentamente, a coisa ergueu a mão e bateu na porta vermelha.

TOC. TOC. TOC.

Dentro do apartamento, a batida respondeu na mesma intensidade.

Helena soltou um grito.

A última coisa que viu foi sua própria porta se tornando vermelha.