A Sombra na Nuvem
A Sombra na Nuvem
No dia 3 de março, o voo 717 desapareceu.
Não houve pedido de socorro, nenhum alerta de turbulência, nada. O radar mostrou o avião voando normalmente e, de repente, sumindo. Não explodindo, não caindo—simplesmente deixando de existir.
Quando os destroços foram encontrados no meio do oceano, algo estava errado. As asas estavam intactas, os assentos alinhados, as malas nos compartimentos. Mas não havia corpos.
Nem um único passageiro.
No dia seguinte, os satélites captaram uma anomalia sobre o Atlântico. Uma nuvem fixa, que não se movia com o vento, não se dissipava, não respondia a nenhuma corrente atmosférica.
E dentro dela, havia algo se mexendo.
O meteorologista Daniel Vasquez foi chamado para analisar as imagens. Ele assistiu ao vídeo capturado por um drone enviado ao interior da nuvem.
Por um momento, tudo parecia normal. Apenas um nevoeiro espesso, com descargas elétricas ocasionais. Mas então, algo se virou.
Uma silhueta imensa, oculta entre as camadas de vapor. Não um avião. Não um pássaro. Algo maior. Algo que nunca deveria estar ali.
Então, a gravação cortou.
O drone nunca voltou.
Naquela noite, Daniel começou a ter sonhos.
No primeiro, ele estava dentro do voo 717. As poltronas estavam vazias, os cintos abertos. O avião flutuava sem motores, sem som, sem destino.
Então, ele olhou pela janela.
E a sombra olhou de volta.
No segundo sonho, ele estava na nuvem. Podia sentir o vapor queimando sua pele, o cheiro de metal no ar. E ao longe, no meio da névoa, havia rostos.
Passageiros do voo 717. Olhos arregalados, bocas abertas em silêncio, como se tentassem gritar mas não tivessem mais voz.
A sombra se movia atrás deles.
No terceiro sonho, Daniel não acordou.
Na manhã seguinte, sua cama estava vazia. Seu computador ligado, mostrando a última imagem processada da nuvem.
Desta vez, a sombra tinha um rosto.
E ela parecia com ele.