A Igreja Onde o Céu Era Errado
A Igreja Onde o Céu Era Errado
A cidade de Black Hollow nunca teve igreja. Durante séculos, as montanhas ao redor da pequena vila sufocaram qualquer tentativa de erguer um templo ali. Pedras rachavam, fundações afundavam, padres sumiam. Então, numa noite de inverno, ela simplesmente apareceu.
Ninguém viu sua construção. Nenhuma pedra fora assentada por mãos humanas. Mas lá estava: uma igreja antiga, de torres retorcidas, madeira enegrecida pelo tempo e um sino que nunca soava.
O pastor Isaac Moore foi o primeiro a entrar. Ele não voltou.
Dias depois, quando os moradores finalmente reuniram coragem para investigar, encontraram apenas suas roupas arrumadas no altar. Como se algo tivesse o dobrado para fora da existência.
Mas o verdadeiro horror veio à noite.
Aqueles que entraram diziam que algo estava errado com o céu dentro da igreja. Ele não era o mesmo céu do lado de fora.
Do lado de fora, havia estrelas. Dentro, havia coisas se movendo. Algo vasto, em silêncio absoluto, deslizava por uma escuridão sem fim. Olhos do tamanho de planetas abriam e fechavam sem pressa.
O teto era alto demais.
Não era uma igreja. Era uma porta.
O primeiro a enlouquecer foi o jovem Caleb. Ele foi encontrado vagando nu pela praça, os olhos revirados, repetindo a mesma frase em um sussurro rouco:
— A prece não sobe… a prece desce.
Naquela noite, o sino finalmente tocou.
O som não era metálico. Era úmido.
No dia seguinte, a cidade estava vazia. A igreja também.
Mas quem passa por Black Hollow à noite, se olhar bem para dentro daquela porta escancarada… pode ver o céu errado ainda esperando.