Diário de Takashi: Caso Encerrado
Passaram-se 20 anos desde a morte de Takashi Sato. Seu filho, Ren Nishida, agora um detetive respeitado, dedicava sua vida a resolver os casos misteriosos do Japão. Mas havia um mistério que ele nunca ousou enfrentar: a morte de seu pai.
Em uma manhã fria, Ren foi designado a Kyoto para investigar uma série de assassinatos brutais, todos ocorridos no mesmo distrito onde Takashi havia realizado sua última investigação jornalística. Uma estranha familiaridade o envolveu quando chegou à cidade — um frio que não vinha do vento, mas de algo invisível e opressor.
Paralelamente ao caso, movido por uma inquietação antiga, Ren decidiu reabrir o arquivo da morte do pai. No depósito policial, recebeu uma caixa lacrada contendo os pertences de Takashi. Entre cadernos de anotações, fotografias e um amuleto budista, Ren encontrou o diário do último caso de Takashi: o mistério da Gueixa Akane, a leitura foi inquietante.
" Akane não era uma gueixa qualquer. Segundo os relatos, ela era uma mulher da era Heian, casada por amor com um homem chamado Keito, que a deixara com a promessa de uma vida melhor. No entanto, Keito nunca voltou. Em vez disso, casou-se novamente, traindo seu voto e seu coração. Quando Akane descobriu, sua tristeza tornou-se uma ferida aberta, um vazio que nenhum tempo poderia curar.
No silêncio de sua dor, Akane vestiu seu mais belo kimono, pintou o rosto com a maquilagem branca da tradição e tocava seu shamisen todas as noites, criando uma canção de lamento. Foi em uma dessas noites, enquanto sua melodia ecoava, que ladrões invadiram sua casa e a mataram brutalmente. Seu último sopro tornou-se uma maldição: quem ouvisse seu canto morreria lenta e dolorosamente.
Desde então, o local da morte de Akane se transformou em um okiya amaldiçoado. Durante séculos, ninguém ali permanecia sem enlouquecer ou desaparecer."
O diário de Takashi mencionava um manuscrito raro, guardado nos acervos da cidade, escrito por alguém que ouvira a música de Akane — antes de morrer em circunstâncias misteriosas.
Ren sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Seu pai morreu investigando isso.
E agora, essa história o chamava.
Michael Kossel, um detetive lendário, mentor, agora com quase 60 anos, a pedido de Ren, entrou na investigação. Ao ler o diário, advertiu :
— Há casos que não devem ser resolvidos. Isso não é um crime. É uma maldição que devora a alma.
Ren ficou sem entender o aviso. Ele seguiu a única pista que restava nos relatos: a cartomante que seu pai encontrou antes de morrer. Nishida pediu a Kossel que investigasse esses assassinatos enquanto ia até o local mencionado.
Mas ao chegar no endereço em Tóquio, descobriu que ela estava morta há anos.
Sua neta, Aiko, o recebeu com um olhar grave.
— Você quer saber por que seu pai morreu — disse ela, sem rodeios.
Ren apenas assentiu.
Aiko virou três cartas sobre a mesa: A Torre, A Lua, A Morte.
— Não mexa com isso. Seu pai já sofreu as consequências. O tempo precisa enterrar certas histórias.
Ren sentiu o peso do passado se fechar ao seu redor.
— Eu preciso saber o que aconteceu.
A jovem hesitou, olhando pela janela como se ouvisse algo distante.
— Há coisas que não devem ser mexidas. A história tem seu próprio jeito de enterrar o que é perigoso demais para ser conhecido. Se você insistir, o mesmo destino do seu pai o aguarda.
— Eu preciso fazer isso — respondeu Ren, decidido, mas com a voz quase trêmula.
A cartomante apenas assentiu, como quem já sabia que ele não voltaria atrás.
— Então, que Buda o proteja.
Kyoto - Distrito de Gion
De volta, Ren descobriu uma verdade arrepiante: o informante que havia falado sobre o caso da Gueixa Akane para Takashi, décadas atrás, era o verdadeiro assassino da redondeza. Ele desejava a glória que Takashi possuía no jornalismo investigativo e, ao não conseguir superá-lo, tramando sua morte, usando o okiya amaldiçoado como armadilha.
O Okiya de Akane ainda estava de pé. Uma relíquia esquecida do passado, com paredes de madeira escurecidas pelo tempo e janelas lacradas, como se o próprio local rejeitasse visitantes.
Os moradores evitavam olhar para ele. Alguns faziam sinais discretos de proteção ao passar.
Ao se aproximar da entrada, um velho surgiu das sombras, segurando seu braço com força inesperada.
— Vá embora.
Ren puxou o braço.
— Só quero respostas.
O velho balançou a cabeça lentamente e seguiu seu caminho.
Naquela noite, Ren procurou pelo assassino por ironia do destino quem foi encontrado primeiro foi ele, Homem denominado Makoto Ogawa, armado, obrigou-o a entrar no okiya. As velhas portas de madeira rangiam como gritos abafados, e o cheiro de incenso queimado pairava pesado no ar. O assassino o guiou até o local onde estava o espelho enorme e envelhecido.
— A história vai se repetir, Garoto. Você vai morrer aqui, assim como seu pai — sussurrou o homem, com um sorriso doentio, enquanto jogava gasolina pelo chão.
Ele riscou um fósforo. O fogo nasceu faminto, lambendo as paredes antigas com pressa. Ren tentou reagir, mas o ar ficou denso, como se o próprio okiya estivesse se fechando sobre ele. No meio da fumaça, Akane apareceu.
Seu rosto pálido, marcado por uma beleza fria, surgiu entre as chamas. Ela não falava — seu olhar vazio dizia tudo. Quando o Ogawa tentou fugir, Akane apareceu na sua frente, e foi brutalmente lançado contra a parede, seu corpo torcido de maneira antinatural.
Ele tentou gritar, mas a música começou. O som do shamisen preencheu o ar, doce e trágico. O assassino caiu de joelhos, segurando a cabeça, enquanto seus olhos sangravam. Então, como se um fio invisível o cortasse, ele colapsou, morto.
Ren, preso entre o fogo e a presença fantasmagórica, sentiu o coração quase parar. O calor das chamas o queimava, mas o frio que vinha de Akane, andando em sua direção, era pior. Quando pensava que seria o fim, sentiu uma mão firme em seu ombro — era Michael Kossel, que junto de Aiko, o puxou para fora do inferno em chamas.
Do lado de fora, enquanto o okiya se tornava cinzas consumido pelas chamas, Ren olhou e ali, no meio da fumaça, viu uma figura que não era Akane: era seu pai.
Takashi Sato olhava para Ren com um orgulho silencioso. Nenhuma palavra foi dita, mas uma única lágrima escorreu do rosto de Takashi, antes de desaparecer.
Ao seu lado, Michael Kossel disse que descobriu o paradeiro do assassino, e que ele era Makoto Ogawa, alguém que um dia também foi um jornalista que não conseguiu o mesmo vôo, prestígios de seu pai armou uma emboscada para ele.
Mas o que Ren não sabia, era que com sua morte, Ele tornou-se detetive mas assim como Takashi, Ren se destacou também anos depois, fazendo perder o cargo. Sua raiva foi tão grande que ele planejou todos esses assassinatos para atraí-lo e queimar o Okiya junto com ele. Kossel fez uma investigação profunda sobre a vida de Makoto e criou uma linha de raciocínio que tudo girou em torno do Okiya, Takashi e automaticamente a Ren. Ele foi a Tóquio procurar a cartomante que ajudou para salvá-lo na hora certa.
- E tem mais - disse Kossel. - Investiguei algo que ninguém pensou antes.
- O que descobriu?
- O verdadeiro nome da tal Gueixa era Megumi Sanada. Akane era o nome que adotou ao se tornar uma.
- Jamais iria pensar nisso.
- Essa história está guardada a sete chaves no templo Shitenno-ji em Osaka, a pedido do sacerdote do templo de Kyoto.
- O acervo mencionado por meu pai no Diário.
- Vou te ensinar uma coisa, Ren, entregue sempre a mais do que pendem a você. Seja tão bom que não possa ser ignorado.
- Levarei Isso para minha vida.
- Seu pai foi um grande amigo que tive o prazer de conhecer quando estava no Brasil em uma de minhas investigações. Por curiosidade, também resolvi o mistério que meu pai investigou antes de morrer, e lembrei disso quando me fez esse pedido.
- Fico feliz que tenha atendido o meu pedido.
- Antes de mais nada, Akane está enterrada no mesmo lugar que seu pai.
Ren entendeu o que Michael quis dizer sobre ser maldição o caso, quando lia o diário.
No dia seguinte, ele visitou o túmulo do pai.
— Você pode descansar agora. Eu terminei o que você começou.
As autoridades deram o caso como encerrado: o serial killer estava morto, e as mortes cessaram. Para a polícia, um crime resolvido. Para Ren, um ciclo encerrado.
Ele procurou pelo túmulo de Akane e descobriu uma Lápide bem envelhecida pelo tempo e fez uma oração e pôs uma rosa e saquê antes de ir. Uma mulher jovem passou por ele quando se encaminhava para sair e disse:
- Obrigada...
Ren olhou novamente e não vou ninguém. Ele pegou em seu bolso o diário de Takashi e escreveu:
" Caso encerrado
Por: Takashi Sato e Ren Nishida
Colaboração investigativa: Michael Kossel e Aiko Kimura ."
Ao sair do cemitério, Aiko estava esperando.
— Gostaria de um café? — perguntou, com um sorriso tímido.
Ren hesitou, depois sorriu de volta.
— Por que não?
O último lamento de Akane se perdeu nas cinzas, levando com ele as sombras do passado. Mas em algum lugar, nas ruas silenciosas de Kyoto, se alguém prestar muita atenção… talvez ainda consiga ouvir o eco distante de um shamisen tocando ao vento.
Fim.
Créditos:
* Aqui terminam as histórias de Takashi Sato e suas investigações, podendo ter futuramente histórias especiais sobre alguma investigação perdida.
* Michael Kossel é um personagem criado por Victor Nascimento, autor da saga " Michael Kossel" . Para saber mais sobre, acessem o perfil e conheçam seu trabalho e suas diversas histórias.