A VELHA ESTRADA DE FERRO DA MONGUBA
Era uma noite fria e silenciosa em Monguba, distrito de Pacatuba, quando Edlênio decidiu cortar caminho pela velha estrada de ferro. A lua, quase cheia, lançava uma luz pálida sobre os trilhos enferrujados, que serpenteavam em direção às duas pedreiras abandonadas. O vento soprava suave, mas carregava consigo um sussurro estranho, como se vozes distantes tentassem se comunicar.
Edlênio conhecia as histórias. Todos conheciam. Há décadas, um terrível acidente havia ceifado dezenas de vidas naquela estrada de ferro. As pedreiras, outrora movimentadas e cheias de vida, agora eram apenas esqueletos de concreto e pedra, testemunhas mudas da tragédia. Mas Edlênio era cético. Para ele, eram apenas lendas urbanas, contos para assustar crianças curiosas.
Enquanto caminhava, o silêncio foi quebrado por um som agudo e prolongado. O assobio do velho trilho. Ele parou, olhou para trás, mas não viu nada. "Deve ser o vento", pensou, tentando se convencer. Continuou a andar, mas o assobio ecoou novamente, mais próximo desta vez. Seu coração acelerou, e suas mãos começaram a suar.
De repente, uma névoa densa surgiu do nada, envolvendo os trilhos e as pedreiras. Edlênio sentiu uma presença, algo que o observava. Ele tentou correr, mas seus pés pareciam grudados no chão. O assobio tornou-se ensurdecedor, e então ele viu. Vultos, dezenas deles, surgindo da névoa, com rostos pálidos e olhos vazios. Eram as vítimas do acidente, condenadas a vagar pela estrada de ferro para sempre.
Edlênio gritou, mas nenhum som saiu de sua boca. Os vultos se aproximaram, e ele sentiu um frio intenso, como se sua alma estivesse sendo arrancada do corpo. No último momento, o assobio cessou, e a névoa se dissipou. Edlênio estava sozinho novamente, tremendo, mas vivo.
Desde aquela noite, ele nunca mais pisou na velha estrada de ferro. E sempre que o assobio dos trilhos ecoam na escuridão, os moradores de Monguba sabem: as almas daqueles que partiram ainda caminham entre os trilhos, esperando por companhia.