A Casa de Algodão Negro

A pequena cidade de Harrow’s End sempre teve suas peculiaridades, mas ninguém falava sobre a casa na Rua Calhoun. Não por medo, não por superstições comuns, mas porque aqueles que tentavam lembrar sua existência sentiam a mente deslizar para fora de si, como um peixe escorregando das mãos.

Até que Oliver Vance, um pesquisador de fenômenos urbanos, decidiu estudá-la.

Ele encontrou a casa como um borrão na paisagem, como se a própria realidade a rejeitasse. Sua estrutura não parecia ser feita de madeira, tijolo ou concreto, mas de algo... felpudo. Algodão? Não. Mais próximo de carne ressecada e costurada com fios negros e trêmulos.

Oliver fotografou-a, mas as imagens voltaram em branco. Tentou desenhá-la, mas seus dedos tremiam incontrolavelmente. Então, contra todas as advertências de sua própria intuição, ele entrou.

O interior da casa era errático. Portas levavam a lugares onde não deveriam. Escadas subiam em espiral para dentro de si mesmas. As paredes respiravam, exalando um cheiro doce, quase adocicado demais, como frutas podres misturadas com açúcar queimado.

E então ele encontrou a sala do berçário.

No centro, um berço coberto por um tecido negro que se movia como se uma coisa viva estivesse por baixo. Algo minúsculo. Algo que murmurava palavras sem som.

Oliver ergueu o véu.

A coisa dentro do berço não tinha forma definida. Seu corpo pulsava, ora líquido, ora sólido, ora algo que sua mente não conseguia interpretar. Mas os olhos... dezenas de olhos... eles o reconheceram.

A boca da coisa se abriu, e o som que emergiu não era som.

Era ausência.

Era silêncio absoluto, um vácuo que devorou seus pensamentos antes mesmo que pudesse gritar.

Dias depois, os vizinhos comentaram sobre o desaparecimento do estranho pesquisador. Seu carro estava estacionado ali, mas ninguém o viu sair.

A casa na Rua Calhoun?

Bem, ninguém falava sobre ela. Ninguém jamais falava sobre ela.