A Linguagem da Carne
A Linguagem da Carne
O Instituto Neurológico de Ashwood possuía uma ala interditada desde 1972. Um corredor onde o ar parecia mais denso, onde enfermeiros evitavam olhar para as câmeras de segurança. Era o lugar onde Dr. Howard Eames fazia suas pesquisas.
Ninguém sabia exatamente o que ele buscava, apenas que trabalhava com linguagem. Mas sua ala era estranhamente... silenciosa.
No inverno de 2024, uma equipe de inspeção foi enviada ao setor, após um alerta de atividade inexplicável nos monitores. O Dr. Daniel Kessler liderava o grupo.
— "Não há ninguém aqui há décadas, certo?" perguntou a residente Emily Frost.
— "Tecnicamente, sim," respondeu Kessler, varrendo o corredor com sua lanterna. "Mas algo disparou os sensores."
Eles avançaram pelos corredores mofados, suas botas rangendo sobre o assoalho úmido. Portas de vidro leitoso estavam trancadas, com marcas de mãos impressas na poeira do outro lado.
Então, encontraram a sala 104.
A porta estava entreaberta.
O cheiro de carne crua preencheu seus pulmões quando entraram.
No centro da sala, um paciente. Ou o que restava dele.
Seus lábios estavam costurados, mas ainda se moviam, formando palavras impossíveis.
Na parede atrás dele, algo estava escrito em carne. Letras formadas por músculos e tendões, latejando como se ainda estivessem vivos.
Kessler estremeceu. Ele reconhecia a escrita.
Era um padrão de fonemas nunca antes registrado, o mesmo que Eames teorizara antes de desaparecer. Uma linguagem que não se falava com a boca, mas com a própria matéria orgânica.
Emily arfou.
— "Doutor... ele está tentando nos dizer algo..."
Os pontos em sua boca começaram a se desfazer sozinhos. Fios de carne se retraíram como vermes assustados.
— "N-Não leiam..." sussurrou Kessler.
Mas era tarde.
As letras de carne vibraram. Os ossos dentro deles estalaram como se algo os estivesse reorganizando. Suas peles começaram a se mover sozinhas.
Eles não estavam apenas lendo a linguagem.
Eles estavam se tornando parte dela.
A porta se fechou sozinha.
E no corredor do Instituto Neurológico de Ashwood, um novo som começou a ecoar.
Algo entre um grito e uma prece.