A Mão Que Aponta

A Mão Que Aponta

Quando o Museu de Blackwood recebeu a estátua, ninguém sabia de onde ela viera. Não havia registro de transporte, nem documentos de aquisição. Apenas apareceu no depósito, envolta em um pano grosso e cheirando a pedra úmida.

Era uma figura humanóide, sem rosto, esculpida em um material negro que absorvia a luz. Mas o que a tornava perturbadora era sua mão—um braço esguio e alongado, estendido para frente, com o dedo indicador apontando para algo invisível.

E a cada noite, a mão mudava de direção.

No começo, os funcionários achavam que era brincadeira.

— Deve ser um de vocês movendo isso — disse Eleanor Marsh, a curadora, numa manhã em que a estátua apontava diretamente para sua mesa.

Os seguranças juraram que ninguém tocara nela.

Mas, na noite seguinte, a mão apontou para a porta do museu.

E na outra, para a rua.

E então, para o céu.

Na quinta noite, Eleanor instalou câmeras.

As imagens foram um pesadelo.

Às 3h03, a sala ficou escura por um quadro de segundo.

E quando a luz voltou… a mão havia se movido.

Nenhum vulto. Nenhuma interferência.

Apenas uma ausência total de imagem, como se algo tivesse se inserido ali e apagado sua própria presença.

A mão agora apontava diretamente para a sala de monitoramento.

E no vídeo, no canto da tela, Eleanor percebeu algo.

Havia outra estátua.

Os guardas revistaram o museu inteiro.

Não havia segunda estátua.

Mas, na noite seguinte, a mão apontou para o subsolo.

E quando abriram a porta do porão, encontraram algo que não deveria estar lá.

Uma segunda estátua, idêntica à primeira.

Mas agora, ambas apontavam para a saída.

E quando Eleanor olhou as câmeras mais uma vez, viu a terceira.

Do lado de fora.

Apontando para a cidade.

Ninguém mais dormiu naquela noite.

O museu foi evacuado.

Na manhã seguinte, uma quarta estátua apareceu.

E então uma quinta.

Cada uma um pouco mais distante, sempre apontando.

Em direção ao horizonte.

Ao espaço.

A algo que se aproximava.

Na noite final, quando a cidade inteira escureceu por um único segundo, todos souberam.

As estátuas não estavam alertando.

Estavam contando.

E então, algo olhou de volta.

(Eduardo Andrade)
Enviado por (Eduardo Andrade) em 03/03/2025
Código do texto: T8276509
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2025. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.