O Sol Que Não Se Pôs
O Sol Que Não Se Pôs
O dia que não anoiteceu começou como qualquer outro.
As pessoas saíram para trabalhar, buzinas encheram as ruas, crianças correram para a escola. Mas então, às seis da tarde, o sol não se pôs.
Sete da noite. O céu ainda brilhava, dourado e intenso.
Oito da noite. O calor aumentava.
Nove da noite. **Os pássaros começaram a cair do céu.**
Não havia explicação. Nenhuma notícia, nenhum alerta, apenas o fato impossível diante de todos. O relógio girava, mas a noite nunca chegava.
E então, alguém **viu**.
Primeiro foi um morador de um prédio alto. Ligou para a polícia dizendo que havia algo na borda do sol. Uma sombra alta, imóvel, como um homem em pé contra a superfície incandescente.
“Ele está me olhando”, sussurrou a voz no telefone.
A ligação caiu.
Logo, mais relatos surgiram. Fotografias mostravam uma silhueta esguia, disforme, de braços longos demais, parada dentro do sol, como se estivesse esperando.
Meia-noite. O calor ficou insuportável. As árvores começaram a secar. As janelas explodiam com a dilatação do vidro. As pessoas começaram a rezar.
Uma da manhã. **As vozes começaram.**
Não vinham dos rádios, nem das televisões, nem dos celulares. Elas vibravam diretamente dentro dos ossos, um coro sem língua, sem origem, apenas um zumbido de comandos antigos.
E quem ouvia por muito tempo... **andava para fora.**
Simplesmente saíam de casa, hipnotizados, os olhos refletindo a luz eterna. Marchavam em direção ao horizonte, suas sombras alongadas **na direção errada**.
Duas da manhã.
O sol começou a pulsar, como um coração enfermo. A figura dentro dele **se moveu pela primeira vez**.
Foi quando todos perceberam.
O sol nunca mais ia se pôr.
Ele **não deixaria.**